Bolo envenenado: as 5 provas que incriminam suspeita de mortes em série
As investigações do caso de envenenamento e morte de quatro pessoas da mesma família com arsênio, em Torres (RS), avançaram nos últimos dias com a apresentação de diferentes provas pela polícia, que aponta Deise Moura dos Anjos, familiar das vítimas, como autora dos crimes.
O que aconteceu
Investigadores coletaram provas com "fortes indícios" de que Deise praticava "homicídios em série". Segundo a Polícia Civil do Rio Grande do Sul, ela foi autora da morte por envenenamento de quatro familiares, entre setembro e dezembro do ano passado. Ela também é investigada por outras tentativas de homicídio na família, segundo divulgado pelos investigadores na última sexta (10).
Sogro morreu em setembro de 2024, e outras três pessoas em dezembro. No caso mais recente, grandes concentrações de arsênio foram encontradas em um bolo consumido por cinco familiares. As vítimas fatais eram irmãs e sobrinha da sogra da suspeita: Maida Berenice Flores da Silva, 58 anos, Tatiana Denize Silva dos Santos, 43 anos, e Neuza Denize Silva dos Anjos, 65. Zeli dos Anjos, 61, sogra de Deise, também foi hospitalizada, mas recebeu alta, assim como uma criança de 10 anos.
1. Uma nota fiscal da compra do veneno teria sido encontrada no celular de Deise. O documento, divulgado com exclusividade pela RBS TV e confirmado pelo UOL nesta segunda-feira (13), mostra o nome da investigada como destinatária e a identificação do produto como arsênio.
2. Arsênio teria sido recebido pelos Correios. ''Hoje, eu posso dizer com certeza que ela pesquisou, comprou, recebeu e usou o veneno para matar as vítimas'', afirmou o delegado Marcos Veloso, em coletiva de imprensa, na última sexta-feira (10).
3. Suspeita comprou veneno quatro vezes em um período de cinco meses. Em seu telefone, foram encontradas inúmeras buscas como ''veneno que mata humano'', ''veneno para o coração'' e ''veneno arsênio'', antes dos envenenamentos dos familiares.
Deise alegou que pesquisas foram feitas após resultado laboratorial que indicava arsênio no sangue de vítimas. Segundo a Polícia Civil, a familiar suspeita disse que teria procurado saber sobre a substância para entender o laudo do exame do sogro morto. Os investigadores afirmam, no entanto, que encontraram buscas por arsênio feitas por Deise em outras datas distintas.
Troca de mensagens
4. Mulher teria enviado mensagens a familiares que estão sendo usadas como parte das provas. Alguns trechos delas foram divulgados em entrevista coletiva sobre as investigações na última sexta. "Vamos mostrar uma pequena parte das conversas que ela teve com pessoas com quem se relacionava para mostrar como funciona a mente dessa pessoa sobre a vida humana", afirmou aos jornalistas o delegado Marcos Veloso, responsável pelo caso.
"É bem provável que eu não vá para o paraíso", escreveu Deise em novembro, segundo os investigadores. Na mensagem completa enviada por ela a um familiar, que não foi identificado pelas autoridades, ela teria escrito: "Quando eu morrer, cuida do meu filho e reza bastante por mim, pois é bem provável que eu não vá para o paraíso."
5. Suspeita teria inventado narrativa para convencer família a não levar apuração da morte do sogro adiante. Além das três familiares mortas em dezembro, Deise teria envenenado, também com arsênio, o sogro, Paulo dos Anjos, 68, morto em setembro de 2024. Na época, ele foi internado após comer bananas e leite em pó levados à casa dele por Deise. A causa da morte dele foi registrada à época como complicações por uma infecção intestinal.
Três dias após a morte do sogro, Deise teria sugerido possíveis causas do suposto incidente. "Acho que não faria nada [para investigar a morte], pois pode ter sido várias coisas, intoxicação alimentar, negligência médica, a banana por estar contaminada pela enchente, ou a hora dele mesmo, sei lá", escreveu ela à sogra, Zeli dos Anjos, uma das vítimas que sobreviveram ao consumo do bolo envenenado, ainda segundo os investigadores.
Em outra mensagem, enviada em dezembro, suspeita escreveu que família não precisava "procurar culpados" pela morte de Paulo. "Acho que precisamos rezar mais, aceitar mais, e não procurar culpados onde não tem" (...) "Não tem volta, polícia, nem perícia que possa nos ajudar a desvendar", teria escrito Deise à Zeli. Para o delegado Marcos Veloso, com a mensagem "ela já pensa e joga seu álibi lá na frente" para "manipular" seus familiares.
A cada prova técnica que nós encontrávamos nos dados do celular da acusada era uma surpresa para todos nós. A gente não tem dúvidas de que se tratava de uma pessoa que praticava homicídios e tentativas de homicídios em série, e que durante muito tempo não foi descoberta e tentou apagar provas que pudessem levar a atribuição de culpa à ela
Delegada regional Sabrina Deffent, em coletiva de imprensa na sexta
Brigas antigas
Divergências familiares antigas teriam motivado o envenenamento, ainda segundo os investigadores. "Esta é uma investigação difícil pelo fato de a família ter, segundo os depoimentos coletados, uma convivência muito harmoniosa, (...) mas com divergências causadas basicamente por uma única pessoa", afirmou o delegado do caso em coletiva de imprensa na última segunda (6), em referência à Deise.
Brigas teriam ocorrido há cerca de 20 anos e "eram muito pequenas", seguiu delegado. Segundo Veloso, as informações foram obtidas por meio de relatos de familiares das vítimas coletados pelos investigadores.
Suspeita teve "postura fria, com respostas sempre na ponta da língua", em conversas com investigadores. Ainda segundo o delegado Veloso, Deise tem demonstrado estar "muito tranquila" e, por vezes, "esboça sorrisos" nos depoimentos que prestou enquanto investigada nas últimas semanas.
Motivação do crime é "motivo fútil", seguem investigadores. "Ainda que seja por interesse patrimonial, o preço de quatro vidas não pagaria o que ela queria", continuou Veloso na coletiva.
Procurada nesta segunda (13), antiga defesa de Deise informou que deixou o caso, sem informar motivo da decisão. No início de janeiro, os advogados Manuela Almeida, Vinícius Boniatti e Gabriela Souza divulgaram em nota que prestaram "atendimento em parlatório" à suspeita e que não tiveram "acesso integral à investigação em andamento, razão pela qual [a defesa] se manifestará em momento oportuno".
Reportagem tenta localizar nova defesa. O texto será atualizado no caso de futuras manifestações.
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