Sob Nunes, mortes no trânsito sobem e multas caem na cidade de São Paulo
O trânsito de São Paulo ficou mais violento no primeiro mandato do prefeito Ricardo Nunes (MDB). Entre 2021 e 2024, o número de mortes cresceu 42% na cidade, chegando a 1.031 óbitos no ano passado.
Na contramão, o total de multas só cai. Quando assumiu o cargo, a média mensal de infrações, referente a 2020, era de 928 mil por mês —agora, está em 489 mil. A queda é de 47%.
De janeiro a outubro do ano passado, a cidade havia registrado 4,9 milhões de multas. Em 2023, foram 8,2 milhões (veja quadro).
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Os números têm como base estatísticas divulgadas pelo governo estadual, por meio do Infosiga, e pela prefeitura, que mantém um painel sobre mobilidade urbana.
Os dados revelam que o trânsito ficou ainda mais perigoso para um grupo específico: os motociclistas. Foram 312 mortes, em 2021, contra 483, no ano passado.
O aumento, nesse caso, foi de 54%, percentual superior ao crescimento da frota de motos que circula na cidade. Segundo o Ministério dos Transportes, esse crescimento alcançou 17% nos últimos quatro anos.
Reduzir o número de mortes no trânsito era um dos compromissos assumidos no primeiro mandato de Nunes —a cidade gasta R$ 35 milhões para tratar só os acidentados em motos—, mas o resultado ficou aquém.
Para o engenheiro Sergio Ejzenberg, mestre em transportes pela USP (Universidade de São Paulo) e especialista em mobilidade, há uma relação direta, de causa e efeito, entre a alta de mortes no trânsito de São Paulo e a queda de multas.
"A literatura mostra isso. Quando se relaxa a fiscalização o número de mortos começa a aumentar. O trânsito não pode ser tratado apenas como uma questão de engenharia, mas social, a partir do comportamento das pessoas", explica.
Nem toda infração gera um sinistro, mas todo sinistro começa em uma infração. Sergio Ejzenberg engenheiro e mestre em transportes
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Nunes abandonou meta de reduzir mortes
Em abril de 2023, o prefeito trocou a meta de alcançar a taxa de 4,5 mortes por 100 mil habitantes ao final de sua gestão por ações genéricas relativas ao tema. Em dezembro de 2024, a taxa foi de 9 mortes por 100 mil habitantes.
Isso apesar dos investimentos na instalação das chamadas faixas azuis, exclusivas para motos.
O programa compreende uma sinalização viária específica que reorganiza o espaço viário, proporcionando mais segurança aos motociclistas e harmonizando a convivência entre os modais.
Segundo a prefeitura, o resultado nessas vias é inverso. Ou seja, o número de óbitos caiu 47,2% de 2023 para 2024. Mas, por enquanto, são 212,2 quilômetros de faixas azuis atualmente —a capital tem 16 mil km de vias.
A gestão ainda destaca o fato de ter criado 1.088 frentes seguras para motos (espaço exclusivo nos cruzamentos) nos últimos quatro anos.
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Número de radares congelado há cinco anos
O número de radares em funcionamento na cidade é o mesmo há cinco anos. São, em média, 877 aparelhos em atividade. Nenhum deles flagra infrações cometidas por motociclistas, apesar de já haver tecnologia para isso, especialmente nas faixas azuis.
A decisão de relaxar a fiscalização vai contra a postura atual de Nunes, que entrou na Justiça para impedir que aplicativos como a 99 e a Uber ofereçam serviço de transporte individual por motocicleta. Na segunda-feira, 27, o desembargador Eduardo Gouvêa acatou ao pedido e suspendeu o serviço.
Segundo o prefeito, a decisão de proibir o chamado mototáxi na capital tem por objetivo impedir o aumento do número de mortes de motociclistas e, neste caso, passageiros.
"E elas tendem a aumentar mesmo. Mas diante da demanda, o correto seria regulamentar o serviço com regras que elevem a segurança", diz Ejzenberg, cuja opinião não é consenso entre especialistas em mobilidade.
Mas, se a oferta por mototáxi divide a opinião pública, a necessidade de se investir em fiscalização é defendida de forma unânime.
"As ações de segurança no trânsito precisam ser muito robustas e impactantes para mudar a cultura predominante hoje de naturalização de comportamentos inseguros", afirma Rafael Calabria, especialista em mobilidade urbana.
SP 'atualizou' radares em ano eleitoral
Ao comentar a queda de multas, a Companhia de Engenharia de Tráfego ressaltou que, em razão da pandemia de covid-19, as atuações e estatísticas de trânsito foram atípicas entre 2020 e 2022.
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A companhia destacou ainda que em 2023 os índices de lentidão ficaram abaixo dos registrados anteriormente e que em 2024 realizou uma atualização tecnológica obrigatória nos radares que reduziu o período de funcionamento dos equipamentos.
De acordo com Ejzenberg, a decisão de "atualizar" os radares em ano eleitoral deveria ser apurada pelo Ministério Público do Estado, já que a portaria que estabelece essa obrigatoriedade é de 2022.
Em nota, a CET afirmou que a fiscalização de trânsito é complementada por 1.700 agentes e também por homens da Polícia Militar e Guarda Civil Metropolitana a partir de convênios específicos.
51 comentários
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Marco Vinicius Berzaghi
O jornalismo do UOL ainda está inconformado com a dertota do Boules, então fica pegando no pe do prefeito. Os acidentes aumentaram ? Não é culpa dos motoristas irresponsáveis, mas do prefeito. Febre amarela aumentando ? culpa do prefeito....Esse é o jornalismo imparcial do UOL.....
Walmor Barbosa Martins Jr
k k k k...só o UOL mesmo...PIX na conta pingando todo dia.
Roberta Medrado Ferreira
Por quem será que essa matéria foi paga heim? O que tem haver o número de radares se o maior número de mortes são pedestres e motos que os radares não pegam.