Quem é Ricardo Molina, perito que incendiou objetos em briga com mulher

O perito forense Ricardo Molina, 73, colocou fogo em objetos durante uma briga com sua companheira no sábado. A Polícia Civil investiga a ocorrência de violência doméstica. O profissional ficou conhecido por atuar em casos de repercussão como PC Farias, Mensalão, Petrolão e Suzane von Richthofen.

Quem é Ricardo Molina?

Molina se tornou uma das principais referências no Brasil na análise de áudio, imagem e documentos periciais. Ele é formado em Composição e Regência e é doutor em Ciências pela Unicamp. Foi professor da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp e dirigiu o Laboratório de Fonética Forense da instituição entre 1992 e 2001.

Seus laudos já influenciaram investigações de grande impacto no país. Confira alguns dos casos mais conhecidos em que Molina trabalhou:

  • Caso PC Farias (1996): Ele contestou a versão oficial de que o empresário, peça-chave do escândalo de corrupção que levou à queda de Fernando Collor da Presidência em 1992, teria sido morto por sua namorada Suzana Marcolino, que depois teria cometido suicídio. Para Molina, ambos foram executados. Em 2013, os ex-seguranças de PC Farias foram julgados e absolvidos, e nenhum autor do crime foi identificado.
  • Chacina de Eldorado dos Carajás (1996) - Um dos casos mais conhecidos de violência policial no Brasil, a matança de 19 sem-terra no Pará aconteceu durante uma desocupação forçada pela Polícia Militar. Molina analisou imagens do confronto e contestou a alegação dos policiais de legítima defesa, argumentando que os sem-terra não tinham condições de reagir. Após anos de impunidade, os comandantes da operação, Coronel Pantoja e Major Oliveira, foram condenados em 2012 a 228 e 158 anos de prisão, respectivamente.
  • Favela Naval (1997) - O caso veio à tona após a exibição de um vídeo no Jornal Nacional, mostrando policiais militares espancando, torturando e executando suspeitos na Favela Naval, em Diadema (SP). Molina analisou o vídeo e forneceu um laudo detalhado que ajudou a comprovar as execuções. O caso gerou grande repercussão e resultou na condenação de alguns policiais, além de uma reformulação na política de segurança pública de São Paulo.
  • Caso Belo (2002) - O cantor Marcelo Pires Vieira, o Belo, foi acusado de envolvimento com o tráfico de drogas. A defesa negava que a voz presente em gravações telefônicas era dele, mas Molina realizou uma perícia fonética e confirmou que a voz era do cantor. Esse laudo foi um dos elementos usados para a sua condenação. Belo foi condenado a oito anos de prisão por associação ao tráfico, mas cumpriu pena em regime semiaberto e foi liberto em 2010.
  • Caso Suzane Richthofen (2006) - O assassinato dos pais de Suzane, cometido por ela e os irmãos Cravinhos, chocou o país. Molina analisou imagens do casal Cravinhos, ajudando a contextualizar o crime. Suzane foi condenada a 39 anos e 6 meses de prisão, enquanto Daniel e Christian Cravinhos receberam penas entre 38 e 39 anos. Atualmente, Suzane cumpre pena em regime semiaberto.
  • Caso Eloá (2008) - O sequestro de Eloá Pimentel terminou em tragédia quando a Polícia Militar invadiu o apartamento onde Lindemberg Alves mantinha a jovem refém. Molina analisou os áudios do cerco e avaliou os disparos efetuados na operação policial. Lindemberg foi condenado a 98 anos e 10 meses de prisão por homicídio, tentativa de homicídio contra Nayara Rodrigues, cárcere privado e resistência à prisão. No entanto, devido ao limite de cumprimento de pena no Brasil, sua sentença foi reduzida para 39 anos e 3 meses.
  • Caso Triplex de Lula (2016) - Molina analisou documentos do processo que investigava se o ex-presidente Lula recebeu um apartamento no Guarujá como propina da OAS. Sua análise foi divulgada pela revista IstoÉ para apontar supostas falhas na investigação. Lula foi condenado e preso em 2018, mas o STF anulou a sentença em 2021, declarando a suspeição do então juiz Sérgio Moro e a incompetência da Justiça Federal de Curitiba para julgar o caso.
  • Gravação de Joesley Batista e Michel Temer (2017) - A gravação de uma conversa entre Michel Temer e o empresário Joesley Batista foi um dos grandes escândalos políticos do governo Temer. Molina foi contratado pela defesa do presidente e apontou que a gravação continha cortes e descontinuidades, levantando dúvidas sobre sua autenticidade. O laudo do perito ajudou a narrativa da defesa de Temer, que não sofreu impeachment. Porém, Temer foi alvo de outras denúncias e chegou a ser preso preventivamente em 2019 por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa, sendo solto dias depois por decisão judicial.

Apesar da ampla experiência, Molina nunca foi perito oficial do Estado. Ele sempre atuou como perito assistente contratado por empresas, políticos e advogados. Essa atuação gerou embates com peritos criminais concursados, que questionavam sua imparcialidade.

Em abril de 2023, a APCF (Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais) emitiu nota pública esclarecendo que Molina não é perito criminal oficial. A associação alega que ele seria assistente técnico especializado em fonética, contratado por partes interessadas no processo. A associação destacou que, por não ser servidor público concursado, ele não está sujeito aos mesmos rigores legais e científicos que peritos oficiais, o que pode afetar a isenção e imparcialidade de suas análises.

Casos controversos

Apesar do reconhecimento, Molina também esteve envolvido em polêmicas e questionamentos sobre sua atuação pericial.

  • Bolinha de papel (2010) - Durante a eleição presidencial, analisou vídeos do suposto ataque a José Serra, afirmando que um objeto pesado teria atingido o candidato. Outros peritos contestaram sua conclusão.
  • CPI dos Grampos (2008) - Em depoimento à Câmara, criticou a falta de transparência nas interceptações telefônicas no Brasil, gerando embates com setores da Polícia Federal.
  • Processo da Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais (2018) - A Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais (APCF) contestou publicamente a atuação de Molina e questionou seu uso do título de 'perito criminal'.
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O que aconteceu

Durante uma discussão com sua companheira em Campinas (SP), Molina incendiou objetos na residência, no bairro Caminhos de São Conrado. A Polícia Militar foi acionada e encontrou o perito no local com um canivete. A vítima foi resgatada, e o caso foi registrado na Delegacia de Defesa da Mulher de Campinas.

Esta não é a primeira vez em que o perito se envolveu em confusões envolvendo violência doméstica. Em 2023, sua ex-mulher Janinne Jasem já havia denunciado Molina por violência psicológica e patrimonial, divulgando vídeos em que ele destruía móveis, urinava sobre uma Bíblia e a ameaçava de morte.

* Com matérias publicadas em 21/10/2010, 12/05/2017, 22/05/2017, 23/05/2017, 28/05/2017 e informações do site oficial do perito.

8 comentários

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O QUE FOI FEITO E O QUE ESTA SENDO FEITO PELO "ME TOO" NO CASO DO MOLINA QUE AGREDIU A SUA MULHER? O "ME TOO" É SELETIVO??

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Luiz Roberto Pasquale

Esse senhor sempre me pareceu ter alguns " parafusos" a menos. Mas como em terra de cegos quem tem um olho é rei, no Brasil qualquer um é "especialista" em coisas importantes.

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Wagner Morata Novaes

NÃO É O MOLINA DA NOVELA?

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