O que explica a queda de árvores durante as chuvas em São Paulo?
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O temporal que atingiu a cidade de São Paulo ontem matou um taxista, destruiu dois carros e derrubou parte do teto de um restaurante. Os três incidentes têm em comum o fato de terem sido causados pela queda de uma árvore durante as fortes chuvas.
O que aconteceu
"Ventos acima de 60 km/h podem derrubar árvores boas e ruins", explica o agrônomo Demóstenes Ferreira da Silva Filho. Segundo a Defesa Civil estadual, rajadas de vento alcançaram 61 km/h, ontem, na região do aeroporto Campo de Marte, zona norte da capital.
A ocupação do entorno das árvores também provoca quedas. O espaço destinado às espécies nas calçadas costuma ser inadequado. "Existem dificuldades de desenvolvimento das raízes nas calçadas. O solo abaixo das calçadas, seu substrato básico para nutrição e sustentação mecânica, não foi pensado para as árvores", afirma Silva Filho, professor do Departamento de Ciências Florestais da Esalq-USP (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz - Universidade de São Paulo).
O desenvolvimento superficial deixa as árvores suscetíveis ao ataque de fungos devido ao acúmulo de umidade. "O apodrecimento ocorre de baixo para cima, como um cone se formando dentro da base da árvore", diz o pesquisador.
Galhos grandes são as partes que mais caem no centro de São Paulo, diz estudo. Esses galhos representam 46% das quedas, seguidos por raízes (33%) e troncos (21%). O estudo foi feito por equipes da USP, da Unifesp e da Secretaria do Verde e Meio Ambiente da capital entre 2016 e 2018 e publicado em janeiro do ano passado na revista Urban Forestry & Urban Greening, reproduzida pela Fapesp.
Altura dos prédios no entorno e a idade do bairro são fatores que mais influenciam o risco de queda de árvore, diz outra pesquisa. A queda em ruas e avenidas da capital paulista com edificações de cinco ou mais andares é o dobro da média registrada na cidade, aponta estudo também publicado na Urban Forestry & Urban Greening e reproduzido pela Fapesp.
O estudo, feito entre 2013 e 2021 também por pesquisadores ligados à USP, Unifesp e Secretaria Municipal do Meio Ambiente, ainda mostra que o risco de queda aumenta nos distritos criados há mais de 40 anos. Além disso, a chance de uma árvore cair é maior se a altura for maior que 9,58 metros e estiver plantada em calçadas planas.
"Temos um problema em São Paulo, que é a manutenção cotidiana", ressalta o arquiteto e urbanista Valter Caldana. "Por mais que se diga e se pense em ser favorável à arborização, o fato é que, provavelmente, ela não é uma das prioridades no dia a dia do município", acrescenta.
A prefeitura deve monitorar as árvores individualmente, diz o pesquisador Silva Filho.
"O município deve investir em diagnóstico, cadastro e avaliação das árvores. A primeira medida é ter um sistema de informação geográfica para as árvores e contratar equipes para avaliar as árvores individualmente e abastecer o sistema com diagnósticos visuais. Após essa etapa, as piores árvores devem ser substituídas e as árvores com risco devem ser monitoradas por meio de equipamentos que mensuram ocos e problemas de raízes Demóstenes Ferreira da Silva Filho, agrônomo
Procurada pelo UOL, a Secretaria Municipal das Subprefeituras afirmou que as equipes de poda de árvores e limpeza atuaram em todas as regiões afetadas pela chuva de ontem. Segundo o município, foram podadas 163.808 árvores em toda a cidade no ano passado, além da remoção de outras 13.341.
Neste ano, 23.590 árvores foram podadas e outras 2.835 foram removidas, de acordo com a secretaria. A prefeitura ainda afirmou que há 3.203 árvores com poda pendente pela Enel e que, em casos de árvores em contato com a rede elétrica, a concessionária é acionada para desligar a energia na área e liberar os galhos da rede, para que, então, o município siga com a poda ou remoção.
O UOL entrou em contato com a Enel sobre a poda de árvores na capital. Se houver resposta, o texto será atualizado.
*Com informações de reportagem publicada em 07/11/2023.
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