Como é a região onde homem foi morto por onça em Mato Grosso do Sul?

A região onde o caseiro Jorge Ávalos, de 60 anos, foi morto por uma onça-pintada fica em uma propriedade rural, em Mato Grosso do Sul.

Que lugar é esse?

Jorge foi morto em uma propriedade no chamado Pantanal do Touro Morto. A região é bastante isolada, mas é conhecida dos apaixonados por pesca, já que por ali é encontrado o dourado, um peixe bonito e valorizado.

O pesqueiro de Touro Morto fica às margens do Parque Estadual do Pantanal do Rio Negro. Este parque de 78.300 hectares fica entre os municípios de Aquidauana e Corumbá, e protege aquele que é tido como o "brejão" do Rio Negro, além de suas lagoas permanentes e cordões de matas que funcionam como um berçário de peixes pantaneiros, segundo o governo de MS.

A área de pesqueiro onde o ataque da onça aconteceu fica entre os rios Miranda e Aquidauana. Por ali, a natureza predomina em relação à presença humana e, por isso, onças são fotografadas até mesmo por turistas que visitam a região.

Atualmente, apenas a prática do "pesque e solte" é permitida no Parque Estadual do Pantanal do Rio Negro. A intenção é justamente preservar o ecossistema na área entre os rios Aquidauana, Miranda, Vermelho, Carrapatinho, Touro Morto, Agachi, Abobral e Negro, mostrou reportagem do jornal Correio do Estado em 2022.

O Pantanal é habitat natural das maiores onças-pintadas, segundo o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade). Machos podem chegar a 140 kg e fêmeas até 90 kg. Geralmente, elas não têm dificuldade de encontrar presas de sua preferência nestas áreas preservadas, como capivaras e jacarés, o que contribuiu para populações saudáveis e estáveis.

Rio Aquidauana
Rio Aquidauana Imagem: Bárbara Gondim/Creative Commons

Maior felino do continente americano e maior predador terrestre do Brasil, a onça-pintada é versátil e se adapta a diversos tipos de paisagens. Segundo o Instituto Onça-Pintada, elas preferem regiões próximas a cursos d'água e com vegetação densa, mas elas vivem bem nas florestas tropicais da Amazônia, nas planícies inundáveis do Pantanal, nos campos abertos do Cerrado e até em regiões semiáridas da Caatinga. Ela evita, porém, áreas de agricultura, mas pode ser vista em pastagens.

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Animal é um carnívoro de topo da cadeia alimentar. Ou seja, nenhuma outra espécie se alimenta deste tipo de onça e ela depende de um meio saudável e com qualidade para sobreviver e se reproduzir, destaca o Instituto Onça-Pintada. Por isso, ela procura justamente estas condições.

Caso é 'raríssimo' e pode colocar espécie em risco

O animal que atacou Jorge, um macho de 94 kg, estava rondando a mata quando foi achado. Após a captura, ele foi transportado para o Cras (Centro de Reabilitação de Animais Silvestres) de Campo Grande para passar por exames médicos que irão ajudar na compreensão sobre o ocorrido, informou a PMA-MS (Polícia Militar Ambiental de Mato Grosso do Sul). O órgão não informou quais evidências apontam que a onça capturada é a mesma do ataque.

Segundo o pesquisador Gediendson Araújo, que participou do resgate, a onça estava ''bem magra''. Em vídeos divulgados pela PMA, ela aparece deitada, com acesso venoso e a frequência cardíaca sendo monitorada.

Onça-pintada que atacou caseiro está abaixo do peso e ferida
Onça-pintada que atacou caseiro está abaixo do peso e ferida Imagem: Saul Schramm/Agência de Notícias do MS

Ataques como este são muito raros, diz biólogo "Sabemos que são raríssimos casos de felinos que predam seres humanos", afirma Tiago Leite, coordenador técnico do Instituto Profauna e biólogo especialista em ecologia e monitoramento ambiental, que estuda o impacto humano em populações felinas silvestres na Mata Atlântica. "Existem estudos que demonstram uma certa tendência de que, em áreas naturais sujeitas a impactos ambientais, esses animais passem a buscar tipos de presas não habituais, como animais domésticos, de criação e, raríssimamente, humanos".

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Biólogo reforça que existem mitos por trás de ataques de onças a humanos. Um deles, explica, é o que diz que o felino, após se alimentar da carne humana, passaria a fazer isso sempre, por gosto. "Mas não é isso", reforça. "As onças-pintadas são predadoras de topo de cadeia e oportunistas, por isso, se observam uma chance de predação, fazem a investida". Portanto, a população não deve buscar fazer "justiça com as próprias mãos".

A onça capturada estava bem magra, o que, potencialmente, pode ter contribuído com o ataque. Um animal magro pode já ser mais idoso ou que está passando por algum tipo de problema e, portanto, poderia estar tendo dificuldade de capturar suas presas habituais no ambiente natural. Isso pode ter levado ele a buscar fontes de recurso mais fácil, como a presa humana, o que, sabemos, pode ser problemático, passando a gerar conflitos comportamentais e por ocupação espacial. Tiago Leite

*Com informações de matéria publicada em 24/04/2025.

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