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Suzano rompe acordo com fazenda flagrada com trabalho análogo à escravidão

O tiro na nuca de trabalhador pegou de raspão, mas alertou as autoridades para a prática de trabalho escravo na fazenda São Sebastião - Divulgação/MPT-MA
O tiro na nuca de trabalhador pegou de raspão, mas alertou as autoridades para a prática de trabalho escravo na fazenda São Sebastião Imagem: Divulgação/MPT-MA

Gil Alessi

29/03/2022 15h17

A Suzano, empresa do ramo de papel e celulose, anunciou nesta terça-feira (29) o rompimento do contrato com a fazenda São Sebastião, em Cidelândia, no Maranhão, onde trabalhadores foram flagrados em condições análogas à de escravo em fevereiro deste ano.

A decisão da Suzano foi tomada após a publicação de reportagem da Repórter Brasil, reproduzida apelo UOL: um dos empregados diz que foi baleado na cabeça ao cobrar salários devidos. Outro precisou ser removido de ambulância por conta do estado precário de saúde em que se encontrava.

Ao todo, quatro trabalhadores foram resgatados de duas propriedades da mesma família, ambas administradas por Samy Wilker Novaes Aguiar.

A Suzano arrendava a maior parte da fazenda São Sebastião (190 dos 210 alqueires da fazenda, cerca de 900 hectares), porém a fiscalização indicou que os funcionários não atuavam na área da papeleira. Como os trabalhadores escravizados não atuavam na parte da propriedade arrendada para a Suzano, a companhia não foi incluída no processo judicial como ré.

Contudo, após a publicação da matéria, a companhia decidiu romper o contrato de arrendamento. Nesta terça, enviou nota à reportagem afirmando que entrou em contato com o proprietário e analisou os autos judiciais.

"Apesar dos ocorridos não envolverem a área ou o contrato objeto do arrendamento para a Suzano, a empresa decidiu, diante os fatos apurados, terminar imediatamente a relação contratual com o proprietário", completou.

Segundo a companhia, as mudas de eucalipto plantada no local ainda são muito jovens, por isso não sabem ainda qual será o destino delas. Eles podem ser removidos ou replantados, mas o que a empresa garante é que "não haverá disponibilização da madeira para o proprietário do imóvel". "A companhia avalia a melhor alternativa para o caso", explica a nota.

Em razão do flagrante, Samy Aguiar, seu pai e sua irmã, que também teriam se beneficiado da exploração do trabalho escravo nas fazendas São Sebastião e Bananal, podem responder a processo administrativo e criminal.

Seus nomes também poderão ser incluídos na 'lista suja' do trabalho escravo, um cadastro de brasileiros que mantiveram trabalhadores em regime de servidão, que é divulgado semestralmente.

Muitas empresas consultam essa listagem e vetam negócios com esses empregadores, o que poderia dificultar os negócios da família. Em entrevista à Repórter Brasil, Aguiar informou que já havia pago parte dos valores devidos aos funcionários, e se isentou de responsabilidade com relação à tentativa de homicídio ocorrida em sua propriedade.