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Com múltiplas deficiências, candidato na Bahia coleciona títulos acadêmicos

O candidato Gilberto Romano (Pros), que se lançou por uma das 55 cadeiras à Câmara de Salvador - Arquivo pessoal
O candidato Gilberto Romano (Pros), que se lançou por uma das 55 cadeiras à Câmara de Salvador Imagem: Arquivo pessoal

Aurelio Nunes

Colaboração para o UOL, em Salvador

11/10/2020 04h00Atualizada em 11/10/2020 13h26

Este texto deveria começar com um dado: pessoas com nível superior representaram 19% do total de candidatos e 26% dos eleitos como vereador nas eleições de 2016, segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Mas ela não começa exatamente assim, porque o caso de Gilberto Romano (PROS) é ímpar. Além dos registros de escolaridade, ele lida com uma condição não medida pela mais alta Corte eleitoral. Ele tem múltiplas deficiências, tipo de minoria não levado em consideração nas informações pessoais que são informadas ao tribunal.

Na população brasileira, somam 25%, representatividade que está longe de ser computada pelas instituições.

Aos 41 anos, Romano busca uma das 55 cadeiras na Câmara Municipal de Salvador. Portador de múltiplas deficiências, se especializou em colecionar títulos acadêmicos. Tem seis graduações, sendo três bacharelados (direito, jornalismo e administração) e três graduações tecnológicas (comércio exterior, marketing e logística).

Ainda possui outros sete cursos superiores sequenciais (gestão em saúde, gestão em trânsito, gestão em segurança pública e privada, gestão em agronegócios, turismo e hotelaria, recursos humanos e gestão pública). Para completar, tem pós-graduação em direito civil e processo civil e um doutorado em direito internacional.

O candidato Gilberto Romano (Pros), que se lançou por uma das 55 cadeiras à Câmara de Salvador - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

"Eu sempre fui obcecado em aprender. Mesmo quando estava cursando duas faculdades simultaneamente, ainda tinha tempo para fazer cursos de línguas estrangeiras aos finais de semana", conta o candidato, que diz ser fluente em inglês, francês, espanhol e italiano.

O currículo turbinado lhe valeu a inscrição no RankBrasil como a pessoa com deficiência com o maior número de títulos acadêmicos do Brasil no ano passado, quando ainda possuía "apenas" dez títulos.

Romano acumula limitação de mobilidade no braço esquerdo e de força no direito, deficiência auditiva do lado esquerdo, uma hérnia de disco que ameaça deixá-lo paralítico, paralisia facial definitiva do lado esquerdo e limitações neurológicas em função de pressão interna craniana. "Eu não posso subir mais de 15 andares de elevador, não posso mergulhar numa piscina, não posso andar de avião, enfim, não posso ter oscilação de altitude, ou desmaio", diz.

Parte dessas deficiências foi adquirida após um acidente automobilístico ocorrido em 2013, quando sobreviveu ao capotamento do veículo que ocupava viajando pela BR-324, a caminho da cidade de Jacobina, a serviço da Secretaria de indústria e Comércio do Estado da Bahia. Ele estava no banco do carona e foi o único sobrevivente. O motorista do veículo, Joceval Guimarães dos Santos, morreu no local.

Exonerado do cargo, Romano ingressou com uma ação na Justiça, cuja sentença foi proferida apenas em junho passado, sete anos após o acidente. O juiz Ruy Eduardo Almeida Britto, da 6ª Vara da Fazenda Pública do TJ-BA (Tribunal de Justiça da Bahia), condenou o governo do estado da Bahia a pagar uma indenização de R$ 95 mil por danos morais e R$ 35 mil por "danos estéticos".

Apesar do trauma e das sequelas, Romano continuou realizando tarefas tão múltiplas e variadas quanto o seu currículo: foi professor da pós-graduação da Uneb (Universidade do Estado da Bahia) nas áreas de gestão governamental, gestão de pessoas, gestão de materiais e logística, coordenador do MBA em gestão estratégica do desenvolvimento sustentável e do meio ambiente na Uneb, juiz leigo (auxiliar de Justiça) no Tribunal de Justiça da Bahia e apresentador do programa de TV "Som de Papo", pelo canal Com Brasil TV, do qual se licenciou para ser candidato.

Defende propostas nas áreas da educação (acompanhamento psicopedagógico para alunos com baixo desempenho escolar), mobilidade urbana (trocar a primeira multa de trânsito por uma advertência), cultura (política de isenção de taxas municipais para os blocos carnavalescos que desfilarem no Circuito Osmar) e, obviamente, para a pessoa com deficiência.

"A garantia do direito à acessibilidade da pessoa com deficiência deve começar nas repartições e nas vias públicas. Vamos elaborar um projeto de lei obrigando os organizadores de qualquer evento de Salvador a reservar um espaço com segurança e visibilidade para nós", afirma.