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Lula diz que Bolsonaro não tem coragem para fazer comício, só motociata

O ex-presidente Lula (PT) fala em encontro com trabalhadoras domésticas no ABC paulista - Marcelo Ferraz/UOL
O ex-presidente Lula (PT) fala em encontro com trabalhadoras domésticas no ABC paulista Imagem: Marcelo Ferraz/UOL

Do UOL, em São Bernardo do Campo (SP)

04/09/2022 13h45Atualizada em 04/09/2022 14h23

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a provocar o presidente Jair Bolsonaro (PL), em encontro com trabalhadoras domésticas em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo. A um público majoritariamente feminino, Lula disse que Bolsonaro não tem coragem para fazer comício e criticou o foco do governo atual na flexibilização das armas.

O encontro na manhã de hoje faz parte de uma série de eventos do PT voltados às classes trabalhadoras e às mulheres. Amanhã, Lula deverá se encontrar com assistentes sociais. Ele falou sobre as realizações sociais do seu governo (2003-2010) para a classe e fez promessas para um novo possível mandato.

Antes do discurso do presidenciável petista, cinco trabalhadoras domésticas falaram sobre suas experiências de trabalho e histórias de vida e entregaram uma carta de compromisso da campanha com propostas para a categoria.

"[Bolsonaro] Não se mistura com o povo." Lula tem aumentado o tom contra seu principal adversário nas urnas, em especial após o debate presidencial, em que apoiadores e membros da campanha avaliaram que ele poderia ter sido mais incisivo contra o presidente.

O petista voltou a chamar o atual chefe do Executivo de mentiroso e direcionou as alfinetadas às pautas femininas e evangélicas. Também questionou o apoio popular ao presidente.

A [ex-presidente] Dilma [Rousseff] foi tirada por uma bicicletada, e a gente percebe que o cara que votou para tirar ela [Bolsonaro] só dá motociata, todo dia tem motociata. Ou motociata ou cavalgada. Você percebeu que ele não tem coragem para fazer comício? Quando ele vai, é com militares, com os militantes dele. Ele não se mistura com povo pobre, porque ele sabe que mente demais. Não é o Lula que está dizendo, todos os jornais já falaram que ele conta sete mentiras por dia.
Lula, a trabalhadoras domésticas

A fala indiretamente rebate o discurso muito disseminado entre o bolsonarismo de que ele, Lula, não conseguiria sair na rua. Como estratégia de campanha, o PT tem focado em grandes atos públicos em capitais e grandes cidades e encontro com setores e classes, como o de hoje.

Ao questionar por que Bolsonaro não faz o mesmo, Lula rebate indiretamente que seria o atual presidente quem carece de apoio popular.

De olho no voto evangélico:

Lula também aproveitou para mais uma vez atacar Bolsonaro no tema da religião. O voto evangélico é um dos redutos mais sólidos do presidente nesta eleição, e o petista tem tentado diminuir a diferença.

A campanha, no entanto, evita entrar nas chamadas "pautas de costume" —algo que, no entendimento petista, seria uma guerra perdida. A estratégia é dialogar via economia. Se não pretende entrar em temas conservadores, foca no bolso. O ex-presidente avalia, todavia, que é preciso combater as fake news relacionadas à igreja e tem investido nisso.

A maior mentira que ele conta por dia, é avocar o nome de Jesus toda hora. Ele usa o nome de Jesus em vão para tentar avocar a boa fé das mulheres e homens cristãos nesse país. Eu tenho dito todo dia que o Estado não tem religião, o Estado não pode ter religião. É preciso ficar muito atento a essa quantidade de mentiras que são contadas todo santo dia."
Lula

Propostas e voto feminino. Em cerca de 35 minutos, Lula relembrou feitos do seu governo e, entre histórias cotidianas e da sua vida, fez promessas para melhorar a vida da categoria, porém de forma mais geral, voltadas à economia e ao dia a dia feminino.

Lula prometeu melhorar o acesso à saúde e aumentar as escolas em tempo integral, para que a mulher, geralmente responsável por cuidar dos filhos, tenha mais tempo para trabalhar sem deixar as crianças sozinhas.

De acordo com o último DataFolha, o ex-presidente tem uma vantagem de 20 pontos percentuais entre as mulheres: 48% contra 28% do presidente. Já entre os homens, é mais pareado: 43% contra 37%. Veja as principais propostas apresentadas:

  • Criar o Ministério das Mulheres;
  • Diminuir o tempo de espera por consultas e exames no SUS (Sistema Único de Saúde);
  • Aumentar o financiamento federal para escolas em tempo integral;
  • Retomar a Farmácia Popular;
  • Reajuste do salário mínimo acima da inflação.

"Quem é a vítima?" A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, também não poupou o atual presidente em sua fala, que abriu o evento. Ela questionou o discurso de Bolsonaro que comparou a Lei Maria da Penha a uma pistola em um evento feminino no Rio Grande do Sul nesta semana.

Vocês já imaginaram o que acontece numa casa com arma? Quem é vítima primeiro? Vocês acham que a vítima vai ser o homem, o agressor? Vocês sabem que não. A maioria dos casos, quando há uma arma em casa, sobra para as mulheres serem as vítimas ou as crianças serem as vítimas.
Gleisi Hoffmann, presidente do PT

Bolsonaro participava do evento "Mulheres Pela Vida e Pela Família", em Novo Hamburgo, a 40km de Porto Alegre, promovido pela ala feminina do PL, e fez o questionamento ao criticar "o candidato" que "vai transformar os clubes de tiro em biblioteca", em referência a Lula.

"Não podemos mais continuar com um presidente que deprecia as mulheres, que estimula a violência", completou Gleisi.

    Nova roupagem: Quem mais arrancou risada do público —depois de Lula —foi o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), candidato a vice. Antes apelidado de "picolé de chuchu", Alckmin tem ficado cada vez mais desenvolto e brincalhão em suas falas.

    Hoje, ao criticar a gestão Bolsonaro na educação, referiu-se ao presidente como "Bozo", forma popular e ofensiva como críticos o tratam nas redes sociais, e arrancou aplausos das participantes.

    Estavam presentes ainda o ex-ministro Fernando Haddad (PT), candidato ao governo do estado, e o ex-governador Márcio França (PSB), candidato ao Senado.