Justiça investiga se Alcolumbre usou jato de empresa beneficiada com emenda
Um documento da FAB (Força Aérea Brasileira) mostra que um jatinho de uma empresa beneficiada por emendas parlamentares do senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) usou o aeroporto da família do congressista durante a campanha eleitoral de 2022.
O que aconteceu
Uma ação aberta no TRE-AP (Tribunal Regional do Amapá) investiga se Alcolumbre fez uso de jatos particulares de uma empresa fornecedora do governo do Amapá beneficiada por emendas parlamentares dele.
A suspeita se deu durante a campanha eleitoral de 2022, quando Alcolumbre foi reeleito ao Senado para mais oito anos de mandato. Atualmente, ele é o favorito na disputa pela presidência da Casa.
À época, a empresa Saúde Link, que coordenava o programa Mais Visão no Amapá — reduto eleitoral de Alcolumbre —, era a proprietária dos jatos particulares supostamente usados pelo senador durante a campanha.
A denúncia foi levada à Justiça Eleitoral por Rayssa Furlan (MDB), candidata derrotada por Alcolumbre na eleição de 2022. A ação — que corre sob sigilo — visa cassar o mandato do senador por suposto abuso de poder político e econômico.
Na semana passada, a FAB informou ao TRE-AP as rotas de dois jatos particulares que pertenciam à Saúde Link em agosto de 2022. As planilhas mostram que um deles pousou em um aeródromo da família do senador na zona rural de Macapá.
Segundo os registros de um banco de dados da FAB, o bimotor Raytheon BE58, para seis passageiros, de prefixo PR-BDC, saiu do aeroporto de Macapá em 16 de agosto de 2022 e pousou no aeródromo Hangar Comandante Salomão Alcolumbre, na mesma cidade. Na tarde do dia seguinte, a aeronave retornou ao aeroporto de Macapá.
O aeroporto privado fica nas terras de Isaac Alcolumbre, primo do senador. Para pousar em sua pista de 1.100 m, só com autorização do dono, segundo informam dois pilotos ao UOL.
Para Rayssa Furlan, o documento da FAB reforça os indícios de que Davi Alcolumbre usou os jatos particulares na campanha.
Qual a razão de uma aeronave particular, pertencente à empresa Link Saúde, prestadora de serviço ao governo do Amapá, [em programa] custeado por emendas do senador Davi Alcolumbre, que não fazia táxi aéreo, utilizar o aeródromo particular da família Alcolumbre para pouso e decolagem?
Rayssa Furlan, em petição ao TRE-AP
A Aeronáutica informou ainda que outro jatinho da Saúde Link, de prefixo PR-MGD, deixou Macapá no mesmo dia rumo a Brasília, de onde retornou no dia seguinte à noite.
Por meio da assessoria de imprensa, o senador Davi Alcolumbre não quis responder se usou ou se não usou os jatinhos da Saúde Link durante a campanha eleitoral de 2022. "Não vamos comentar", afirmaram seus auxiliares ao UOL.
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Quero receberAté o momento, nenhuma empresa ou órgão público requisitado pelo corregedor do TRE-AP, Carlos Augusto Tork, informou quem eram os passageiros das aeronaves da Link Saúde nos dias de campanha.
Procurada, a Saúde Link, do médico oftalmologista Luciano Goulart, não se manifestou.
Rayssa Furlan pediu, na última segunda-feira (16), que o TRE-AP considere os dados cedidos pela FAB para que sejam levantadas mais provas no processo, como os depoimentos dos pilotos para saber se Alcolumbre usou os jatinhos durante a campanha eleitoral.
O processo também acusa o então governador, Waldez Góes (PDT), de marcar uma reunião na sua residência com o comando da Polícia Militar, Alcolumbre e o então candidato Clécio Luís (SD), para pedir que os policiais apoiassem a dupla.
Clécio foi eleito governador. Waldez se tornou ministro da Integração Nacional do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Procurados, os dois não se manifestaram.
Programa é alvo de investigações
O Mais Visão começou em 2020 para fazer tratamentos oftalmológicos na população do Amapá. Segundo o site de Alcolumbre, o programa — que teve destaque na campanha eleitoral dele — foi "idealizado e viabilizado pelo senador Davi".
O governo do Amapá fez uma parceria com o Centro de Promoção Humana Frei Daniel de Samarate, que contratou a Link Saúde por R$ 28 milhões, segundo o Ministério Público do Amapá.
Alcolumbre direcionou emendas parlamentares ao Mais Visão.
"O programa [...] conta com recursos de emenda parlamentar do senador Davi Alcolumbre, no valor de R$ 6,4 milhões", anunciou o governo do Amapá em 2020.
Em outubro de 2023, o Mais Visão foi alvo de investigação do Ministério Público do Amapá porque 104 pacientes sofreram infecções após cirurgias para tratar catarata. O atendimento foi suspenso.
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