MP abre investigação contra prefeita que admitiu jogar livros no lixo

O Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) abriu procedimento preliminar para investigar a conduta de uma prefeita bolsonarista que gravou um vídeo encenando o arremesso de dois livros didáticos no lixo.

O que aconteceu

A investigação preliminar foi aberta na sexta-feira. Se forem encontrados indícios de irregularidades, a apuração será transformada em inquérito. A 1ª Promotoria de Justiça de Canoinhas que atua na área da infância, juventude e educação, abriu uma notícia de fato "para apurar o descarte de livros", informou a assessoria do MP ao UOL neste sábado (20).

A prefeita de Canoinhas, Juliana Maciel (PL), gravou um vídeo em que arremessa dois livros no lixo chamando-os de "porcaria". As obras foram "As melhores do analista de Bagé", de Luís Fernando Veríssimo, e "Aparelho sexual e cia", de Philippe Chappuis, o Zep, e Helene Bruller. A gravação foi publicada na última quinta-feira.

O livro estava numa biblioteca de Marcílio Dias, em Canoinhas. O local foi inaugurado pelo projeto Mundoteca em 19 de novembro de 2022, quando Juliana já era prefeita da cidade; Bolsonaro ainda era presidente. Ela culpou o PT e o governo federal pelo fato de as obras estarem lá.

É um programa do governo federal. Mais uma vez o governo do PT faz esse tipo de coisa. Bota adolescente, criança... induz a coisa que não é dos valores que a gente acredita. Não é o que a família quer que ele aprenda
Juliana Maciel, prefeita de Canoinhas

A Secretaria de Comunicação (Secom) da Presidência da República informou que o Mundoteca não é ação do governo. O governo federal disse que a responsabilidade de selecionar obras de acordo com a faixa etária é da prefeitura e que o governo federal ajuda apenas com incentivos da lei de Cultura.

A prefeitura em questão tinha plena autonomia sobre o acervo da biblioteca. Sendo assim, cabia aos responsáveis locais conferir se o acervo estava a contento da comunidade dentro das tratativas do contrato com o projeto Mundoteca
Nota da Secom.

Juliana Maciel negou um dia após o vídeo que o objetivo fosse causar polêmicas e se disse preocupada com as crianças. "Aqueles livros não são próprios para crianças. É a editora que diz."

A prefeita não atendeu aos contatos do UOL para explicar quantos livros foram efetivamente jogados fora. Também não houve resposta sobre quais foram eventualmente levados a bibliotecas próprias para adolescentes, jovens e adultos, quais são as obras que revistas pelo município e por que razão não houve seleção das obras quando a biblioteca foi inaugurada. Os esclarecimentos serão publicados se forem recebidos.

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Prefeita assumiu após caso de corrupção

Juliana Maciel é uma advogada de 31 anos que se elegeu vereadora pelo PSDB nas eleições de 2020. Mas O então prefeito Beto Passos (PSD) e seu vice, Renato Pike (PL), renunciaram ao cargos após investigações da Operação anticorrupção Et Pater Filium - embrião da Operação Mensageiro, que envolve o empresário Odair Manricch e o operador Altevir Seidel.

Depois disso, Juliana foi eleita prefeita em eleições suplementares em outubro de 2022, um mês antes da inauguração da biblioteca. No ano passado, a política bolsonarista se filiou ao PL. Na madrugada deste sábado, a prefeita publicou em redes sociais um elogio recebido de um dos filhos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Eduardo Bolsonaro.

Juliana Maciel está em campanha para tentar se reeleger. Ela tem o apoio do PP na disputa, informou o jornal "Gazeta", em 27 de fevereiro.

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