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Veja a íntegra da sabatina com Raquel Lyra (PSDB), candidata em Pernambuco

Do UOL, em São Paulo

24/10/2022 12h02Atualizada em 24/10/2022 14h59

Na sabatina UOL/Folha nesta segunda-feira (24), a candidata ao governo de Pernambuco Raquel Lyra (PSDB), 43, se negou a declarar voto à Presidência da República. Também atacou sua adversária, Marília Arraes (Solidariedade), por nacionalizar a campanha estadual e disse que ela "se escora" em Luiz Inácio Lula da Silva (PT) porque não tem propostas.

A entrevista foi conduzida pela apresentadora Fabíola Cidral e pelos jornalistas Carlos Madeiro, do UOL, e José Matheus Santos, da Folha de S. Paulo. Veja a íntegra a seguir.

[Fabíola Cidral]: Olá, bom dia. Agora 10h02, seja bem-vinda, seja bem-vindo a mais uma rodada de sabatinas UOL e Folha para a disputa nos estados do nosso país. A gente tem eleições no próximo domingo e você vai ter que decidir quem você quer no comando do seu estado, caso ele ainda não tenha sido resolvido no primeiro turno, além, claro, das eleições presidenciais. Hoje a gente fala sobre o estado de Pernambuco.

Mais de 7 milhões de pernambucanos vão às urnas nesse próximo dia 30 para escolher a primeira mulher da história a governar o estado. Marília Arraes terminou o primeiro turno com 23,9% dos votos válidos, enquanto sua adversária, Raquel Lyra, teve 20,58% dos votos válidos. E, entre os principais desafios da futura gestão, estão justamente o combate à pobreza e ao desemprego, que atingem fortemente o estado de Pernambuco. Entre 2019 e 2021, Pernambuco foi o estado em que pobreza mais cresceu, e tem 1,6 milhão de pessoas vivendo com renda com menos de R$ 500 por mês. Pernambuco também teve, no segundo trimestre de 2022, a segunda pior taxa de desemprego do Brasil, 13,6% dos habitantes estavam desempregados. Há problemas relacionados à infraestrutura também e também na área de saúde, uma área muito reclamada pelos moradores de Pernambuco. A nossa sabatina de hoje é com a candidata do PSDB, Raquel Lyra, que já está conosco aqui ao vivo conosco nesta manhã de segunda-feira. Olá, candidata, bom dia, seja bem-vinda aqui a nossa sabatina.

[Raquel Lyra]: Bom dia, Fabíola, bom dia, Madeiro, bom dia, Matheus. Pra mim, uma grande oportunidade, agradecer a oportunidade de estar aqui mais uma vez na sabatina que fizemos no primeiro turno, podemos agora falar a seis dias, sete dias da eleições, exatos seis dias da eleição sobre o futuro do nosso estado e o momento histórico em que a gente vive, que elegeremos, sem dúvida nenhuma, a primeira mulher governadora de Pernambuco.

[Fabíola Cidral]: Comigo nessa entrevista, Carlos Madeiro, que é do UOL, e também José Matheus, que é da Folha de São Paulo. Candidata, antes de mais nada, antes até de a gente começar, eu gostaria muito de prestar nossa solidariedade, acho que falo em nome dos dois também aqui, do UOL e da Folha, em relação a sua perda, foi algo muito forte que aconteceu no primeiro turno, que a senhora acabou perdendo seu marido, um companheiro de muitos e muitos anos. A senhora estava contando aqui nos bastidores que estava com ele desde os 13 anos de idade. Então nosso sentimento a esse momento que a senhora vive de luto diante de uma campanha tão intensa e com esse luto. Então nossa solidariedade à senhora.

[Raquel Lyra]: Obrigada, Fabíola, Fernando foi alguém que me acompanhou e incentivou por 30 anos, né? E, com ele, construí minha família e minha vida.

[José Matheus Santos]: Acompanho aí também a solidariedade.

[Fabíola Cidral]: É isso.

[Carlos Madeiro]: Igualmente.

[Fabíola Cidral]: Vamos fazer um breve currículo da Raquel pra que a gente possa iniciar nossa sabatina, a gente solta nosso cronômetro, uma hora pra nossa conversa, lembrando que a gente tinha uma entrevista marcada com Marília Arraes na sexta-feira, ela teve um problema na agenda, teve que cancelar, e ainda não confirmou uma nova data para essa semana. A gente tem esses seis dias pela frente, estamos abertos a também ouvir Marília Arraes, que concorre com Raquel Lyra lá no estado de Pernambuco.

Raquel Lyra é advogada, formada em direito pela Universidade Federal de Pernambuco, tem 43 anos, foi prefeita de Caruaru por duas vezes, sendo a primeira prefeita eleita e reeleita da cidade. Deixou o mandato pra concorrer ao governo do Pernambuco pelo PSDB. Ela também foi delegada da polícia federal, chefe da procuradoria de apoio jurídico do governo de Eduardo Campos e deputada estadual por dois mandatos consecutivos. Esteve no PSB até 2016 e foi para o PSDB. Segundo as pesquisas de intenção de voto, está na frente na disputa pelo segundo turno, eu trago aqui os números da última pesquisa Ipec, Raquel Lyra tem 50% das intenções de voto contra 42% de Marília Arraes. Começo já perguntando, candidata, a gente falou agora a respeito do seu marido, e eu penso se em algum momento não houve essa vontade de desistir de concorrer, por que a senhora resolveu continuar nessa disputa, apesar de uma situação tão grave e tão difícil na sua vida pessoal?

[Raquel Lyra]: Fabíola, vocês não conseguem imaginar, só quem passa por um momento como esse sabe exatamente daquilo que eu sinto. Fernando acompanhou minha vida inteira. Ele sonhou comigo todos os sonhos que tive. Não eram meus sonhos, era nossos sonhos. Fernando me acompanhou desde vir embora pra Recife de Caruaru, fazer vestibular, me incentivar a ir morar em Brasília quando eu fui estudar na Fundação Getúlio Vargas, quando eu passei no concurso pra delegada de Polícia Federal. Fui morar no Rio de Janeiro. Do Rio de Janeiro eu voltei pro Recife, passei em novo concurso pra Procuradoria. A gente... tem que gente que passa a vida inteira, eu falei sobre isso, pra encontrar amor da sua vida, e encontrei Fernando quando comecei a namorar com ele, aos 14 anos de idade. E fico sempre me perguntando assim: o que o 'nego' me diria num momento como esse? Como ele sempre me disse: tem que seguir em frente, vai dar certo. Eu tenho encontrado na minha família, nas pessoas anônimas, no povo força pra estar em pé. Essa não foi uma candidatura construída da maneira tradicional. Nós viemos de baixo pra cima. Ele estava comigo, coordenando a campanha no agreste pernambucano, que envolve cerca de 70 municípios. Fiz com ele a última carreata, ele dirigindo o carro. Então eu tenho certeza de que, se eu pudesse estar falando com ele hoje, e de certa forma, eu falo, ele estaria me dizendo pra seguir em frente, e é por isso que eu tô aqui, meus filhos, minha família, meus filhos têm me dado uma energia incrível, têm sido meu chão, me estimulado a seguir, têm estado comigo o tempo inteiro. E aqui tô eu, de pé.

E tenho dito à população que eu não vou conseguir ter a mesma força do primeiro turno, muitas vezes, e tô pedindo pra que as pessoas possam estar por mim, e isso tem acontecido aqui, eu estive agora no sertão pernambucano. Passei por lá entre sábado e domingo, nós temos seis sertões. Sertão pernambucano de gente trabalhadora, aguerrida, mas que vive no chão muito árido, muito pouca oportunidade, e vi lá a esperança de mudança verdadeira colocada nas pessoas, essa energia de um estado que é rico, mas não consegue ser enxergado pelos seus governantes, não chegar aos invisíveis, é isso que me move, eu sempre fui servidora pública, desde sempre, concursada por três vezes, e por quatro mandatos, deputada estadual e prefeita de Caruaru. É por isso que eu tô ainda aqui.

[Fabíola Cidral]: A senhora acha que, de alguma maneira, é claro que isso é extremamente delicado, os analistas políticos falam, mas a senhora que está vivendo isso, é impossível fazer uma análise assim, mas o que a senhora ouve a respeito do impacto disso na eleição? Quer dizer, sempre quando tem questão pessoal muito forte de um candidato, isso acaba impactando, positivamente ou negativamente. No seu caso, de que maneira esse episódio tão trágico e triste pode impactar a disputa no seu estado?

[Raquel Lyra]: Para mim, é impossível falar sobre isso, analisar isso. Isso analisa quem vê de fora para dentro. Eu estou de dentro para fora, eu estou vivenciando isso, mas estamos aqui, de pé. A gente... Eu tenho vivido cada dia a minha agenda. Eu tenho uma equipe incrível. A minha família está sendo incrível, me colocando no colo. O povo de Pernambuco tem me colocado no colo. Mas eu não cheguei aqui de uma hora para outra. Todas as pesquisas, elas já me colocavam no segundo turno, elas já me colocavam nesse momento; e eu sempre disse: "Olha, a gente não tinha uma soma incrível de prefeitos, nós tínhamos 8 prefeitos. Da minha cidade, era da minha cidade, de onde eu fui prefeita, e, mesmo assim, o tempo inteiro, nós estivemos no segundo turno durante as pesquisas de avaliação de intenção de voto, não é? E o quanto isso interferiu, eu acho que ninguém nunca vai conseguir falar sobre isso, porque, na verdade, a intenção de eleger uma mulher governadora do nosso estado, de querer mudança, mas de querer uma mudança que permitisse enxergar para que caminho Pernambuco poderia seguir, e eu me coloquei aqui o tempo inteiro, andando no chão, na rua, com as pessoas, ouvindo a população e construindo, com elas, as soluções de que Pernambuco precisa. Agora é um momento de comparação de realizações, de trajetória, de biografia, de propostas, não é? É assim que a gente tem colocado a necessidade de uma campanha em Pernambuco que consiga? uma campanha não, uma governadora em Pernambuco que consiga representar o desejo de mudança que o pernambucano tem no coração. Mais de 90% da população tendo esse sentimento, de que precisa mudar tudo ou quase tudo do governo Paulo Câmara, que deixou Pernambuco em uma situação de desalento, de desesperança de fome e desemprego.

[Carlos Madeiro]: Bom dia, candidata. Obrigado, mais uma vez, por participar com a gente. Eu quero externar minha solidariedade, até mais falando pessoalmente, porque sou de Caruaru também, a gente se conhece há um tempo, e Fernando era uma figura extremamente conhecida lá. Quero também registrar isso. Candidata, queria falar um pouco sobre a campanha em Pernambuco porque a gente tem percebido, a gente que acompanha mais de perto, que principalmente a candidata Marília Arraes tem forçado a nacionalização, colocando que a senhora que seria candidata de [Jair] Bolsonaro, já que ela tem o apoio de Lula, e a senhora se declara neutra nessa disputa. Sábado houve um episódio em que a senhora apareceu com um bottom com o número 22 no ombro, em Petrolina. Um vídeo que a senhora publicou mostra que uma pessoa colou lá, e fica muita coisa de ficar debatendo por que que a senhora não toma um lado. Eu queria aproveitar para o Brasil saber, conhecer talvez melhor Raquel Lyra e o seu posicionamento nacional, por que ficar neutra nessa disputa, Raquel?

[Raquel Lyra]: Madeiro, Matheus, Fabíola, quando você viu essa imagem, se você olhou meu Instagram, você vai ver que eu estava, de um lado com uma pessoa que vota em Bolsonaro, e, de outro lado, com um deputado federal que é eleitor de Lula. Pernambuco precisa de união. É claro que existe uma polarização nacional muito forte, e o Brasil está dividido, não é? E aqui em Pernambuco, a decisão que eu tomei é de não declarar meu voto, de não fazer campanha para nenhum candidato. A candidata Marília tenta o tempo inteiro se escorar numa candidatura nacional para justificar a falta de propostas e realizações que ela tem em Pernambuco, para tentar fazer o povo nem compreender de que é a candidata que e apoiada pelo atual governo declarado de Paulo Câmara. Esteve com primo dela, prefeito do Recife, recentemente, e fizeram as pazes depois de campanha sangrenta no Recife, que me parece que, a esse momento, fazer uma campanha de faz de conta. A minha decisão é de unir Pernambuco. A gente não vai separar lulista de Bolsonarista. Quando eles enxergam isso, eu digo que enxergamos pernambucanos, cidadãs e cidadãos de Pernambuco que estão ávidos por um estado que consiga construir pontes, e não levantar muros. Pernambuco sofreu muito ao longo desses últimos anos com um governador incapaz de construir pontes com governo federal e incapaz de conseguir trazer soluções para o nosso estado. A gente tem um misto de incompetência e uma falta de habilidade política muito grande. Uma incompetência porque, ao mesmo tempo que não construiu pontes, não conseguiu gastar o dinheiro que tinha aqui. Mais de R$ 400 milhões de convênios já garantidos de obras que estão paralisadas, e o governo não conseguiu andar e, ao mesmo tempo, uma incapacidade de apresentação de projetos, de construir pontes e de conseguir trazer para Pernambuco a água que falta na torneira da casa das pessoas. Dois milhões de habitantes sem água. A oportunidade de gerar novos negócios, de garantir investimentos estruturadores, como a Transnordestina, que fará de Pernambuco o seu grande desenvolvedor, o seu grande potencial logístico, escoando minérios, grãos para Europa e para o Brasil inteiro. Então, quando eu falo de que nós não vamos declarar voto, é porque eu não vou entrar no debate da nacionalização. O presidente escolhido pelos brasileiros, ele vai me receber, ele vai me receber porque eu estarei lutando e brigando por Pernambuco, sabendo fazer, construir time, construir projeto, ouvir os sonhos da população e, com ela, conseguir tirar o sonho do papel e virar realidade na vida do nosso povo.

[Fabíola Cidral]: Neste final de semana, vimos Roberto Jefferson, apoiador, um aliado do presidente Jair Bolsonaro, ele atirando na polícia. A senhora é delegada, foi delegada, é delegada, não é? Tem um histórico na polícia, como a senhora analisa esse episódio? E diante disso, pode mudar alguma coisa na sua neutralidade ou não? Porque alguns dizem que esse episódio, ele traz uma gravidade em relação a ameaça da democracia no país, a senhora entende assim ou não?

[Raquel Lyra]: É inadmissível, um absurdo o que aconteceu ontem durante a prisão do deputado Roberto Jefferson. E já coloquei isso, me solidarizo com os colegas policiais federais que foram atingidos e tiveram a sua vida posta em risco. Eu já participei de muitas operações da Polícia Federal. A gente, quando se coloca para ser policial, para defender instituições como a Polícia Federal, a gente já coloca a nossa vida em risco. Agora alguém que tem mandato do delegado pelo povo, aliás, ninguém tem esse direito, eu repudio e digo que é inadmissível. E o que a gente precisa de verdade é de instituições fortes, de fazer valer a democracia, eu sempre coloco que tem valores que são absolutamente inegociáveis, instituições fortes, democracia forte, é o que faz o país ser forte. Aqui no Brasil a gente tem um acirramento e infelizmente as instituições estão sendo colocadas em risco todos os dias. Nenhuma forma de diminuir o valor de instituições, como STF [Supremo Tribunal Federal], a Polícia Federal, haverá qualquer tipo de apoio meu, muito pelo contrário, eu sou sobrinha de Fernando Lyra, eu sou... Fernando Lyra foi ministro da redemocratização do Brasil. Ele foi o cara que assinou a lei para acabar com a censura, eu estive inclusive num teatro no Rio de Janeiro nesse dia. Eu participei do primeiro concurso elaborado por uma instituição externa da Polícia Federal, essa geração que está aí hoje liderando a Polícia Federal são meus amigos, com quem eu estive ao longo de quase três anos junto da Polícia Federal e, ao mesmo tempo, ainda continuo próxima deles. Porque sempre os defenderei, não somente individualmente, mas a instituição da Polícia Federal e as instituições democráticas do nosso Brasil.

[Fabíola Cidral]: Justamente nesse ponto, candidata. Desculpe insistir nisso. Porque alguns dizem, a senhora acabou de falar, o não respeito à democracia, o não respeito às instituições, o presidente Bolsonaro não representa isso na sua análise?

[Raquel Lyra]: Eu declarei... eu falei que tenho falado que não vou anunciar meu voto a presidente da República, nem vou fazer campanha a nenhum candidato. E olha, eu posso me posicionar muito claramente sobre qualquer tipo de posicionamento, de fala, de gesto, de qualquer uma das pessoas que entendam que são absolutamente contrárias à nossa democracia, à Constituição Federal e o que tenta violar ou violentar as nossas instituições construídas a muito suor e lágrimas. Há muitas perdas de vida que foram dadas para permitir que o Brasil fosse forte, e assim precisa permanecer.

[José Matheus]: Candidata, o seu partido perdeu o protagonismo, de certa forma, da forma como vinha, né, de 2014 pra cá. Nas eleições de 2018, o então candidato Alckmin teve uma votação abaixo de 10%, se eu não estou enganado, 5%. Agora, em 2022, perdeu a eleição em São Paulo, que era o principal estado governado pelo PSDB, o número de deputados federais também caiu em comparação a última eleição, mesma na federação com o Cidadania foram apenas 17 eleitos. A que a senhora atribui essa situação do PSDB de perda de protagonismo no país nos últimos anos, e como a senhora pretende se eleita a ajudar na recuperação do partido?

[Raquel Lyra]: Matheus e a todos aqueles que estão nos vendo, nos ouvindo, a gente precisa atravessar essas eleições. Faltam seis dias pro próximo dia 30 de outubro. O PSDB tem disputas importantes, como aqui em Pernambuco, como no Rio Grande do Sul, com Eduardo Leite, como na Paraíba, com Pedro Cunha Lima, três pessoas da nova geração da política que se colocam pra construir um momento novo nos nossos estados, no Brasil, e a questão partidária a ser discutida inclusive com esses atores, especialmente com eles, sobre o futuro do nosso partido e a construção precisa ser feita pra reposicioná-lo e garantir que ele possa expressar os seus valores maiores, da social democracia e políticas públicas que sejam consistentes pra garantir às pessoas poderem ter melhor condição de vida, onde quer com que elas vivam, seja no Rio Grande do Sul, seja aqui em Pernambuco, e aí a gente começar a construir um tempo novo.

[José Matheus Santos]: Mas a senhora atribui a que essa situação do PSDB nos últimos anos? A senhora acha que teve algum erro na condução do partido, ou que o eleitor não assimilou bem as mensagens da sigla, e se não, por quê?

[Raquel Lyra]: Essa polarização nacional deixou, sem dúvida nenhuma, o PSDB e alguns outros partidos meio perdidos. Então existe um racha também, uma divisão interna no partido, é natural que ela exista, é próprio da democracia, mas acho que passado esse processo eleitoral, e aí o foco, obviamente, meu neste momento, nas eleições, é de a gente poder fazer uma profunda reflexão pra dentro, pra fora, realizar o contexto político, e daí conseguir construir um partido sólido que consiga representar e apresentar pro Brasil algo que seja... que toque a sua vida e seu coração, porque diante de polarização, mas, ao mesmo tempo, vivendo um momento ruim na nossa história, como a gente vive aqui em Pernambuco, um momento de desemprego muito forte, de um crescimento extraordinário da pobreza, dois milhões de pernambucanos passam fome aqui, eu visito as casas, eu abro os armários, eu vejo que o fogão já não é mais fogão a gás, as pessoas voltaram a cozinhar à lenha porque não têm dinheiro pra pagar o gás de cozinha, as pessoas não têm dinheiro pra pagar escolas em todos os meses, quais são as contas que vão pagar, se é a conta de água, se é a conta de luz, se é a conta do aluguel, e com isso, não sobra dinheiro pra fazer absolutamente nada. É dentro desse contexto que a gente precisa reposicionar o partido. Com os seus valores de social democracia, do cuidar do todo, de ter uma visão mais moderna da economia, que permita a gente garantir investimentos em áreas estratégicas como logística, como água, não é? E com isso, voltar a fazer, não é, especialmente falando aqui do nosso nordeste, mas de Pernambuco, nosso estado voltar a crescer, e o Nordeste voltar a ser uma região que possa servir como parte da solução do Brasil.

[Carlos Madeiro]: Candidata, dentro desse cenário que a senhora trata, na questão, inclusive, da neutralidade, houve um momento em que a senhora recebeu um apoio, que foi até muito contestado nas redes sociais de alguns grupos mais à esquerda, que reunia, inclusive, uma foto da senhora com grupos, por exemplo, que estavam na porta da Cisam [Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros] naquele momento em que uma criança fazia um aborto legal, e que estavam lá chamando os médicos de assassinos, políticos de extrema direita que estavam circulando pelo Pernambuco, pelo Recife, estimulando uma droga que não tinha eficácia, por exemplo, na pandemia. E a senhora se associou a esse grupo agora, e isso tá sendo muito usado, aí eu pergunto: se associar a grupos assim, candidata, não faz a senhora também se ligar um pouco mais também a esse lado ideológico da coisa?

[Raquel Lyra]: Madeiro, primeiro que não é verdade. Eu recebi... institucionalmente, eu recebi o apoio do PP, Partido Progressista, aqui que já teve, inclusive, com Lula, que já esteve no governo de Eduardo Campos, declarou apoio a minha candidatura. Nós construímos um plano de governo a muitas mãos. Eu andei Pernambuco inteiro e continuo andando há mais 15 meses. Estive agora nos seis sertões pernambucanos. Esse é nosso plano de governo. Plano de governo, pra mim, é sempre um grande guia, ele é inegociável. Não há qualquer tipo de acordo com qualquer apoiador que chegou aqui, seja na pauta comportamental, seja na discussão de loteamento do governo. Não negociei um cargo pra poder ter os apoiadores que tenho aqui. E repudio aqui, pra lhe dizer, é importante deixar claro pra todos, que qualquer ato que viole o direito de criança e adolescente, eu repudio, rejeito, entendo como inadmissível. Sempre fui defensora dos direitos da criança e do adolescente. Fui secretária de Criança e Juventude do governo Eduardo Campos por dois anos. Fui vice-presidente da Frente Nacional de Prefeitos pra assunto de criança e adolescente. Criamos programas aqui que foram referência nacional na Secretaria Nacional de Juventude, como atenção redobrada, contra a exploração sexual, exploração de trabalho infantil, garantir o fortalecimento do sistema de garantia de direitos. Fiz isso como secretária e fiz isso em Caruaru como prefeita.

Construímos vagas de creche, olha, a gente ganhou também, construí vaga de creche, construí novos abrigos, cuidamos das crianças, e não é com discurso, é com ação, e qualquer atitude que viole direito assegurado por lei, que viole o direito da criança, eu serei contrária a essa atitude, e sou, e sou. Mas é importante dizer que eu tenho recebido o apoio de muita gente, eu estava agora em Serra Talhada, com a coordenadora da campanha de Lula no sertão, com Márcia Conrado, prefeita de lá. Estive com Gonzaga Patriota, deputado federal, e tantos outros, Odacy Amorim, Ducicleide Amorim, a gente tem recebido apoio de todos os lados, compreendendo que o importante agora é unir o nosso estado, é garantir que Pernambuco possa ter convergências, alguém que seja capaz de internamente também construir pontes, e os palanques que a gente tem conseguido construir, de unidade, em diversas regiões têm sido muito gratificante, porque, de verdade, estamos compreendendo de que mudança de verdade, que a gente precisa fazer em Pernambuco, a gente precisa, neste momento, de todos que estão nos apoiando, nos unirmos em prol de conseguir construir um momento novo pro nosso estado.

[Carlos Madeiro]: A senhora foi cobrada pelo posicionamento na fala do presidente Jair Bolsonaro com as meninas venezuelanas. Eu lembro que a senhora usou esse mesmo discurso. O que a senhora colocasse o que pensa, porque esse núcleo mais ligado à religiosidade tem adotado a pauta moral, inclusive usando aquela tática do pânico moral, de que o demônio está a favor de um lado, e o deus deles está a favor do que justamente eles apoiam. A senhora concorda com esse tipo de fazer política?

[Raquel Lyra]: Vamos separar uma coisa da outra. Primeiro é o repúdio a fala do presidente Bolsonaro de tratar a questão das crianças venezuelanas. Essas crianças precisam de acolhimento, de cuidado, de proteção, e essa medida, essa fala é uma fala que foi uma fala irresponsável, absolutamente inadmissível inclusive e principalmente pelo cargo que ele ocupa. É importante colocar que a defesa de valores e dos mais vulneráveis sempre esteve na minha pauta, na minha agenda, sempre teve no orçamento de tudo que eu dirigi na minha vida. Em Caruaru, a gente conseguiu mudar essa realidade, cuidando de quem chamo de "invisíveis". Fazer discurso é muito fácil, Madeiro. Agora eu pergunto para quem faz discurso, e aí eu coloco a adversária, candidata adversária, Marília, quanto que ela já colocou de dinheiro para apoiar crianças em situação de vulnerabilidade? Em Caruaru, eu tenho rede de proteção a crianças e adolescentes, rede de proteção às mulheres que aqui eu desafio a dizer que é a maior que existe em Pernambuco. Nós somos referência nessa área, no cuidado com crianças, adolescentes e mulheres. A gente quer fazer isso em Pernambuco também. Quando eu fui secretária de criança e adolescente, criamos programas, como apoio a creches municipais, reformamos, apoiamos mais de 340 das 900 creches públicas que existiam, qualificamos toda a rede de proteção de direitos, do Conselho Tutelar ao Conselho de Direito. Distribuímos equipamentos para eles. Quando fui prefeita de Caruaru, fiz do mesmo jeito. A gente ampliou a rede, garantiu a eles estrutura para trabalhar, com equipe multiprofissional, garantindo multiprofissional para mulheres que são vítimas de violência.

E gosto de citar sempre um exemplo, eu falo sempre assim: "Que fale por mim mais do que as minhas palavras , os meus atos". Eu conto a história de Fran. Fran era uma mulher em situação de rua, mãe de três crianças. Ameaçada a ter retiradas as suas crianças pelo Conselho Tutelar porque não tinha como manter seus filhos. A gente conseguiu resgatar a Fran da rua, conseguiu trabalhar qualificação e acolhimento nela, conseguiu entregar uma casa nova para ela. Hoje, Fran é presidente da Associação de Mulheres Empreendedoras de Caruaru, que tem uma rede de mais de 350 mulheres. Dá muito trabalho fazer ação que não é uma ação isolada, mas ações como essa, de maneira consistente e sistemática, mudar a vida de gente é muito difícil, mas é para isso que eu estou me propondo a ser a próxima governadora de Pernambuco. E agora, antes de fazer qualquer tipo de abordagem, o que eu peço à população de Pernambuco e para quem está nos enxergando de fora, é que faça uma comparação. Comparação de trajetórias, de realizações e dos compromissos que cada uma tem com Pernambuco.

Quando a gente fala de plano de governo, me permita estender um pouco nisso, é que o plano de governo da candidata Marília tinha 12 páginas até três dias atrás. Quando eu falei sobre isso - contando com capa e contracapa -, rapidamente subiram um plano de governo de 80 páginas. Como a dez dias da eleição se apresenta um plano de governo com 80 páginas para que a população possa escolher entre quem apresenta as melhores propostas? Vamos olhar para frente, vamos garantir que Pernambuco seja sempre o estado berço da democracia brasileira, como sempre foi.

[Fabíola Cidral]: Uma coisa que o eleitor de Pernambuco já sabe é que vai ter governadora, e isso é algo muito forte. Quando a gente está falando de Nordeste, a senhora repudiou a fala do presidente Jair Bolsonaro, a gente tem a esposa dele a todo momento falando que o papel da mulher é ser uma ajudadora do homem. A mulher na política tem muita dificuldade de seguir adiante. A gente tem algumas, inclusive, que resolveram nem participar dessas eleições, com Manuela D'Ávila. Outras mulheres que falam, que sofrem. A gente pode acompanhar no final de semana o que viveu Marina Silva, deputada federal eleita, que foi xingada; Cármen Lúcia xingada também nesse final de semana. Raquel, o que significa Pernambuco ter uma mulher como governadora? E aí, claro que o eleitor vai escolher entre a senhora e Marília Arraes, a gente não sabe o que vai dar, mas tem a certeza de que será uma mulher. O que isso fará de diferente, não apenas para Pernambuco, mas eu acho que para o Brasil como um todo, como até um sinal, um alerta, um indicativo?

[Raquel Lyra]: É momento histórico, Fabíola, de poder ter duas mulheres candidatas ao governo de Pernambuco, e, uma delas, eleita a primeira governadora de Pernambuco. Eu digo sempre que a vida da mulher na política não é fácil. A gente tem que escancarar muitas portas e apoiar muitas outras. Eu estive agora, agora, como candidata a governadora, num time enorme de mulheres, de mulheres candidatas, mulheres que têm histórias, trajetórias e que vieram para junto de mim sabendo que não seriam mais uma, que não seria para cumprir cota.

Quando a mulher entra na política, ela tem o dever e a obrigação de abrir portas para tantas outras mulheres poder ocupar espaço de poder. Quando eu fui prefeita de Caruaru, a primeira mulher eleita prefeita de minha cidade, a gente entrou no município que desconfiava se a mulher era capaz de caminhar com suas próprias pernas e de mostrar resultado, tentaram dizer o tempo inteiro de que eu não tomaria as decisões, de que seria meu pai, porque ele é da política, também, que seria um homem, teria sempre um homem pela minha frente, ou por trás de mim que estivesse fazendo o comando de tudo. Ao longo do tempo, as pessoas foram percebendo de que a gente faz política de um jeito diferente. De que mulher tem capacidade de ouvir mais e tem que exercer isso, de que... se tem sentimento de que a mulher pode trabalhar com mais transparência. A capacidade que se tem, é isso que eu ouço em Caruaru, de que tem que construir ações grandes, macro, mas enxergar o detalhe, precisou chegar uma mulher à prefeitura de Caruaru para fazer uma maternidade nova, para construir o maior número de vagas de creche, de educação infantil da nossa história, porque eu sei que cada criança na creche, bem cuidada, alimentada, é uma mãe que pode sair para trabalhar. E, quando não sabia o que fazer, nós fizemos curso de qualificação profissional voltado para mulheres dentro da creche. Era seu filho estudando e a mãe também se preparando para o mercado de trabalho. A gente criou uma secretaria da mulher que existia só no nome, um orçamento, fizemos muita qualificação profissional para mulher. E a qualificação profissional diferente da mulher e do homem porque a gente tem que ter lugar como acolher suas crianças enquanto elas estão sendo capacitadas, para cada licitação de qualificação para mulher, licitação de cuidado com a criança, com educador social, com lanche, com berço, com lugar para crianças poderem ficar e dormir.

Nós estamos abrindo em Caruaru, o Prefeito Rodrigo, que me sucedeu vai abrir, um centro de qualificação profissional só para mulheres, porque lá a sistemática, os horários, é tudo diferente. Olha, os projetos que a gente fez, entrega de casa popular, 4500 casas entregues, na mão da mulher que a gente entrega a chave, ela é quem sabe onde o calo aperta, a criança com deficiência quando é cuidada, a gente cuida da mãe também. Só em Pernambuco são mais de dois milhões de pessoas que tem algum tipo de deficiência, 70% desses lares de crianças com deficiência são cuidados só por mulheres. Então esse olhar atento para a construção de política pública de verdade, é superimportante que possamos ter mulher liderando, foi assim que eu fiz em Caruaru, e isso que eu me proponho a fazer em Pernambuco.

[José Matheus]: Candidata, a senhora falou sobre o seu plano de governo, tem mais de 70 páginas, eu li todo o plano de governo, até bem detalhado em muitas áreas, mas não achei menções específicas sobre propostas para a população LGBTQIA+ e também sobre propostas relativas da igualdade racial, porque a grande verdade é que no Brasil nós não temos uma verdadeira democracia para essas duas populações, os negros sofrem muito e a população LGBTQIA+ também. Racismo e homofobia estão entre os flagelos da nossa sociedade. Mas, como sabemos, nem sempre tudo o que às vezes os candidatos propõem está necessariamente no plano de governo, então queria dar essa oportunidade para a senhora de dizer quais são as propostas específicas da senhora para promover a igualdade racial e para LGBTQIA+, e também falar porque não está no plano de governo questões específicas a isso.

[Raquel Lyra]: Matheus, a gente fala de direitos humanos, quando a gente fala de direitos humanos, a gente fala de cuidar de toda população em vulnerabilidade. E é claro que a população LGBTQIA+, a população negra, as crianças, as mulheres, fazem parte desse contexto. A gente quer cuidar de todos os pernambucanos, fortalecer a democracia, não no discurso, mas no governo. Em Caruaru, como prefeita, a gente criou uma secretaria de desenvolvimento social e direitos humanos. A nossa pauta de Direitos Humanos cuida da população LGBT, cuida da criança com deficiência, cuida na secretaria da mulher e de maneira transversal, como a gente fez, por exemplo, cuidando das crianças com autismo, e a gente também cuida da população LGBT. Reprimindo e acolhendo todos aqueles, reprimindo da violência, combatendo qualquer tipo de intolerância, a gente criou o centro de direitos humanos que tem equipe multiprofissional especializada, psicólogo, assistente social, advogado, trabalhando o tempo inteiro, qualificação profissional, para que eles possam estar no mercado de trabalho, trabalho junto a nossa rede de educação, para permitir o acolhimento dessas crianças, o respeito com a diversidade, e garantir que elas não sofram violência dentro da escola, possam se desenvolver e crescer. O discurso, está todo mundo cansado, a gente tem no plano de governo respeito à diversidade, a promoção de direitos humanos. E essa promoção de direitos humanos, ela não se faz com discurso fácil retirado de um vídeo que se fez na internet ou de pronunciamento no Congresso Nacional. O que verdadeiramente, e aí é oportunidade que se tem verdadeiramente se fez ao longo da trajetória de cada uma das candidatas que está aqui para defesa dos direitos de todas as populações, independente de sua raça, de sua sexualidade, de sua religião, eu quero ser a governadora de todos os pernambucanos. E é importante falar de um indicador, ou número. O ano passado mais de 700 pessoas da população LGBT foram de alguma forma sofreram violência em Pernambuco, e isso foi registrado. É claro que existe subnotificação, mas elas foram vítimas de estupro, vítima de lesão corporal, vítima de homicídio. Vamos fortalecer a rede não só de proteção, de combate a crimes de intolerância, mas também garantir não só a punição, mas o acolhimento dessa população da maneira mais adequada possível, permitindo que eles possam ter voz e ter vez.

[José Matheus Santos]: Candidata, na outra sabatina que tivemos no primeiro turno, eu perguntei à senhora sobre a questão da ampliação das cotas na UPE, a senhora disse naquela ocasião que ainda não tinha uma posição formada sobre essa ampliação, que é de 30% o número de cotas atuais pra egresso de escolas públicas na Universidade de Pernambuco. Eu queria saber se a senhora vai trabalhar pra ampliar esse número. Porque temos muita desigualdade entre a questão dos estudantes de escola pública e escolas privadas, claro, isso é no ensino fundamental, no ensino médio, mas essa questão do acesso a uma universidade ainda é uma dificuldade, e as cotas, elas estão provadas que diminuem essa desigualdade no acesso à universidade. A senhora vai trabalhar pra ampliar essa cota que tem na UPE?

[Raquel Lyra]: Matheus, essa é a nossa disposição. Além disso, eu estive reunida com a Universidade de Pernambuco, que precisa ser um agente estratégico de desenvolvimento do nosso estado, ela precisa estar com qualidade presente em todas as nossas regiões. Pernambuco é muito rico e muito diverso, mas a gente não tá conseguindo potencializar as nossas economia, diversas, em cada uma das nossas regiões. E a Universidade de Pernambuco será esse braço, que vai permitir que no sertão, no agreste, de maneira... com qualidade, na formação de profissionais, de professores pra que possam atender a nossa rede pública, considerando que as autarquias municipais, todas elas praticamente estão falidas. A gente precisa não só dar o suporte a elas, mas a própria universidade. Trabalhar ela dentro do governo, com muita inovação, pra permitir que a gente chegue mais perto da vida das pessoas, e garantir um plano de assistência estudantil pra que os estudantes que estão matriculados na escola, que inclusive foram oriundos de cota, e que não conseguem se manter na faculdade, porque não têm grana, porque não tem restaurante popular, porque não tem uma bolsa que permita eles irem e virem e se manterem durante a faculdade, e precisam largar a faculdade pra trabalhar. Essa agenda tá colocada, eu recebi essa demanda, eu já vinha ouvindo os estudantes, mas de maneira estruturada, todos estiveram comigo, e agora a gente tem esse compromisso de que a pauta da universidade pública é minha pauta, o fato é que aqui em Pernambuco, ao longo do tempo, se disse assim: "Universidade de Pernambuco, te vira sozinha, coloca teus projetos debaixo do braço e vai passar o pires na mão, com o pires na mão, buscar emendas parlamentares", não. Além de a gente colocar o dinheiro azul e branco, como se chama, fortalecendo a Universidade de Pernambuco, garantindo o plano de assistência estudantil, sou eu que vou em Brasília buscar dinheiro pra fortalecimento da instituição que, sem sombra de dúvida, será estruturadora pro futuro do nosso estado.

[Carlos Madeiro]: Candidata, seguindo em educação, eu só queria perguntar uma coisa porque agora acho que é mais tranquilo a gente tratar o tema, Pernambuco conseguiu um bom avanço nas notas do ensino médio, que é responsabilidade do estado, tanto a senhora quanto a Marília se posicionam como opositoras ao governo Paulo Câmara.

[Raquel Lyra]: Mais ou menos, né? Porque ela agora assumiu, ela recebeu o apoio do Paulo.

[Carlos Madeiro]: Mas ela nega, né?

[Raquel Lyra]: Ela nega, mas é muito fácil negar e ficar com o apoio. Negue mesmo, rejeite o apoio. Vamos ter verdade sobre isso. Se exige tanto e se cobra tanto posição. Ela recebeu apoio do Paulo Câmara. Ela se abraçou com o primo dela. Inclusive, isso tá fotografado, é manchete do Jornal do Comércio. O primo dela, que ela se digladiou, do PSB, que ela teve campanha sangrenta aqui, ela tá abraçada com ele. Então é muito fácil fingir que briga e estar junto, e na fala e no discurso, porque pega mal, dizer que tá separado.

[Carlos Madeiro]: Ela inclusive, né, que a senhora foi acusada de plantar uma fala dele que subiria ao palanque dela. A senhora nem respondeu isso. Mas como a senhora viu aquela declaração?

[Raquel Lyra]: Mais uma mentira, fake news. Ela tem aqui uma indústria de fake news. E é lamentável. Quando você tem duas mulheres disputando mandato, você tem uma delas que trabalha só com mentira. Ela já perdeu 11 ações contra a gente. A nossa campanha conseguiu derrubar 11 colocações da campanha de Marília Arraes, inclusive de coordenador de militância da campanha dela, e do chefe de gabinete dela, que ela queria eleger do parque estadual e acabou não colocando. Estão chamando ela de 'Mentirília' nas redes sociais. É uma mentira atrás da outra. Nós já ganhamos cinco minutos de tempo de televisão e seis minutos de tempo de rádio dela, contra a campanha dela. Então falar de verdade, de democracia só no discurso, e quando se tem a oportunidade de exercer a democracia, numa disputa entre duas mulheres, trabalhar só com mentira é muito feio. Além de feio, é antidemocrático. Ninguém esperava isso com uma mulher disputando.

[Fabíola Cidral]: Isso que a senhora está falando é muito grave, e principalmente quando olha para Brasil, a fake news mais uma vez marca as eleições. Como diz Alexandre de Moraes, a gente está vivendo tragédia, ele diz que o aumento das mentiras, em várias campanhas, inclusive nas presidenciais. A senhora falando sobre a sua adversária e a acusando de propagar, falando que ela tem "uma máquina de mentiras" aí no estado. É possível pensar, após as eleições, em uma união das duas? Porque como a senhora falou, é algo histórico duas mulheres disputando, não é? A gente vai ter aí a metade, a metade... uma parte votando na senhora, uma parte votando nela, a gente tem uma divisão de votos também. É possível uma reconciliação após as eleições, ou não? Essa campanha marcada dessa maneira, como a senhora está falando, coloca realmente cada uma em um lado?

[José Matheus]: Até porque, Fabíola, fazendo um adendo, a Raquel e Marília tinham uma relação pessoal até pouco tempo atrás. Marília homenageou o tio de Raquel. E Raquel quando era prefeita de Caruaru visitou o gabinete de Marília Arraes.

[Raquel Lyra]: Vamos separar as coisas. A primeira é que não é acusação, é decisão judicial que retirou 11, 11 colocações dela: da televisão, das redes sociais e do rádio. Não é acusação, é decisão judicial, com condenação. Então, com condenação, em medida liminar, e ela reiterar, mas isso é triste, porque não é o que a população quer ver. Eu visitei Marília, Matheus, como eu visitei todos os deputados federais de Pernambuco, sempre, sempre. Conversei com a candidata Marília, mas é muito importante separar uma coisa da outra. Eu sou oposição. Eu estou aqui como a candidata da mudança em Pernambuco. Eu não tenho nenhum compromisso com erro nem com o passado do governo Paulo Câmara, que deixou Pernambuco em situação muito pior do que pegou. Marília é a candidata da continuidade. Você sabe, o vice-governador dela foi secretário de Paulo, brigou com PT, saiu do partido, foi para Solidariedade. Brigou com PSB, Eduardo Campos, porque queria ser herdeira dos votos de deputado federal. Eduardo não permitiu naquele momento. Foi para o PT, brigou com PT. Foi para o Solidariedade, e, agora, brigou com o primo, e agora fez as pazes. São trajetórias muito diferentes.

[José Matheus]: Não está descartada reconciliação?

[Raquel Lyra]: Não está na agenda uma reconciliação, de jeito nenhum.

[Fabíola Cidral]: Não está na agenda, a senhora falou? Repete.

[Raquel Lyra]: Não enxergo uma possibilidade de nos unirmos, porque representamos coisas muito distintas: ela é de Paulo Câmara, e eu tenho uma proposta de oposição e de mudança em Pernambuco.

[José Matheus]: A senhora disse que tem proposta de Bilhete Único para a questão das tarifas. Na outra sabatina, a senhora não especificou valor, disse que isso vai ser discutido ainda porque depende de vários fatores. Mas queria falar também sobre a questão do Consórcio Grande Recife. A senhora acha que o atual modelo de transporte é ideal? É lotação, é ônibus atrasado, até hoje o aplicativo de geolocalização dos coletivos não apareceu, a tarifa única foi prometida pelo governador, em 2014, também não foi implantada. Eu queria saber qual é o modelo da senhora para a gestão de transporte metropolitano e que a senhora falasse um pouquinho sobre a questão da tarifa.

[Raquel Lyra]: Nós temos, na região metropolitana do Recife, você sabe, Matheus, porque é daqui, 40% de nossa população. Vamos liderar o pacto metropolitano, vamos chamar os 14 prefeitos e a governadora de Pernambuco, sentados na mesa-redonda, para discutir tudo aquilo que diz respeito à vida do cidadão que vive nessa grande metrópole, que é a Região Metropolitana do Recife, para cuidar de habitação, para cuidar das áreas de morro e encostas, das divisões que existem somente para limitação geopolítica, mas a vida do povo é uma só. O Recife tem um dos piores trânsitos do mundo. A região metropolitana do Recife é caótica a sua mobilidade; e grande parte disso também diz respeito ao funcionamento do metrô. O metrô em Pernambuco está sucateado, enquanto Belo Horizonte conseguiu andar, Salvador conseguiu andar, o metrô do Recife só andou para trás. São equipamentos que estão quebrados. Tem um cemitério de vagões aqui em Pernambuco, na CBTU; e a gente ouviu relatos, estive lá conversando com muita gente, de que as pessoas todos os dias sofrem violência, sofrem assédio, não conseguem chegar de casa para o trabalho com tranquilidade, nem do trabalho para casa. Duas, três horas de deslocamento. São 200 mil pessoas que todos os dias pegam o metrô. Antes da pandemia eram 400 mil pessoas. A passagem do metrô quase que dobrou, mas as pessoas não conseguem andar. Ficou mais caro e é muito ruim. O Bilhete Único é compromisso nosso. É garantir o fim dos anéis, até porque quem vive mais longe é quem tem menos renda, e essa pessoa que tem menos renda precisa conseguir andar de transporte urbano; e a gente vai fazer integração tarifa única, não vai ter mais os anéis, e a gente fazer a integração com metrô. E sobre o metrô, que é federal, eu vou a Brasília, diferentemente do que não fez o governador Paulo Câmara nesses anos todos, e vou conversar com próximo Presidente da República escolhido pelos brasileiros e falar sobre a necessidade de requalificação do metrô, de expansão da nossa rede e de garantia dessa integração aqui no nosso estado. E, olha, se ele diz que não vai fazer nada, eu vou pedir a estadualização do metrô e vou tomar de conta dele, porque não dá mais para conviver com tanto descaso e com a população, que está sofrendo tanto.

[Carlos Madeiro]: Candidata, queria voltar àquela pergunta da educação, porque, como eu tinha falado, Pernambuco teve avanços na questão principalmente da nota no Ideb, você nota que a educação pública de Pernambuco melhorou. Então, eu queria que a senhora, agora com mais tranquilidade, não temos mais um candidato representando o governo, no caso embora a senhora classifique a Marília, não é, então, como é que a senhora pensa em—

[Raquel Lyra]: Não, vem cá. Madeiro, vamos aqui corrigir. Eu não estou classificando ela, o governador Paulo Câmara declarou apoio a ela.

[Carlos Madeiro]: Não, mas ela disse que não quer o apoio. É por isso que... Bem, eu vou perguntar isso a ela se ela vier aqui, acho que é importante ela esclarecer o que ela pensa, não é? Porque eu acho que é direito dela.

[Raquel Lyra]: Recebeu apoio de João Campos, do Paulo Câmara, PSB está com Marília, então, oficialmente, no palanque dela.

[Carlos Madeiro]: Isso é verdade, claro. Enfim...

[Raquel Lyra]: É isso. Então não vamos mais fingir, colar na conversa dela, e vocês verbalizarem isso, porque vocês da imprensa têm um enorme poder, o fato existiu, declarou apoio, acabou.

[Carlos Madeiro]: Sim, mas eu cito isso nas matérias que escrevo que ela tem apoio formal, inclusive está no palanque, eu só estou... estar reproduzindo porque eu acho que ela também tem o direito de expressar se ela quiser participar da sabatina, cabe a ela decidir ou não.

[Raquel Lyra]: Vamos tratar de educação, que é aquilo que nos importa.

[Carlos Madeiro]: Bora. O que a senhora acha que levou Pernambuco a melhorar um pouco os seus índices, passar os estados no Nordeste, ter uma educação hoje pública boa, e se a senhora pensa que esse modelo pode ser algum exemplo a ser mantido e melhorado na gestão da senhora.

[Raquel Lyra]: É fato que houve um grande avanço no Ideb do ensino médio, o avanço que se iniciou de maneira experimental ali com 11 escolas, na época de Jarbas e Mendonça, e que Eduardo conseguiu dar escala quando assumiu o governo, colocou como política pública, trouxe para o governo isso. Mas tem... qual o grande gargalo da educação? É porque se avançou muito na retenção do aluno no ensino médio, mas não na qualidade da educação, nós temos um problema de base muito forte, as crianças, elas tão deixando a escola antes do ensino médio, que é a grande responsabilidade do estado. Eu vou ultrapassar aquilo que é responsabilidade formal do estado e vou garantir a construção de 60 mil vagas de creche, eu fiz isso em Caruaru, construímos mais de cinco mil vagas de creche em educação infantil, quando tínhamos na nossa história inteira cinco mil vagas de creche, porque todos os estudos no mundo indicam que a criança aprende a aprender na sua primeira infância. Nós vamos construir, vamos manter por um ano, e quando o dinheiro do Fundeb chegar, a gente entrega ao município. E seremos parceiros dele, com qualificação, com apoio financeiro dos nossos professores, o ensino fundamental 1. Vamos trazer de cima para baixo a educação integral, para o ensino fundamental 2. Em Pernambuco, 40% do ensino fundamental 2 ainda é prestado diretamente pelo governo, e a gente vai garantir e trabalhar para que possa ser feito educação de tempo integral para essas escolas. Olha, o Ceará fez isso há 20, 30, anos atrás e por isso que eles são destaque em educação. Em Caruaru, a gente e cresceu muito o IDEB, investindo, investindo, e tivemos o IDEB melhor do que em cidades como Petrolina, como Recife, como Jaboatão, mostrando que um governo é capaz de transformar e plantar bases para o futuro, dá pra fazer em Pernambuco, vamos começar em várias frentes, e no ensino médio garantir que seja mais atrativo para o nosso jovem, afinal de contas, de cada dez jovens de Pernambuco, quatro não estudam e não trabalham, a gente poder fazer esse menino dentro da escola com qualificação profissional, é o programa Trilha Tech, aliado ao ensino médio-técnico-profissionalizante, para ele já sair com diploma e poder ingressar no mercado de trabalho quando termina o ensino médio. É assim que a gente quer mudar a educação em Pernambuco, dá um trabalho danado, mas eu estou pronta para fazer.

[Fabíola Cidral]: Candidata, a senhora estava falando aí, eu vou voltar no negócio do apoio de governador a Marília. E aí algumas pessoas estavam dizendo: 'Será que Raquel Lyra aceitaria o apoio de Bolsonaro?'. O pessoal provocando, querendo entrar nessa polêmica, porque ela falou agora de apoio, Marília falou que não aceitou o apoio, mas está lá no palanque. No seu palanque, ele colocou adesivo. Eu até nem sei, a senhora chegou a perceber que era um adesivo ou não percebeu? Só viu depois as imagens? Não percebeu que era—

[Raquel Lyra]: Só vi depois, nas imagens. Já confusão colocada, você viu que tinha uma pessoa no chão, eu no palanque, me deu um tapinha no ombro e colou um adesivo.

[Fabíola Cidral]: Aceitaria se Bolsonaro declarasse apoio, quisesse subir no seu palanque, a senhora aceitaria ele no seu palanque?

[Raquel Lyra]: Fabíola, me permita. Nós estamos trabalhando diante de uma hipótese absolutamente inexistente. É muito diferente do caso aqui. Muita gente querendo colar em mim muita coisa. Eu só tô colada com povo de Pernambuco.

[Fabíola Cidral]: Tá certo. Vamos ao pinga-fogo, então? Depois a gente entra em mais algum detalhe se sobrar um tempo, mas acho que vai sobrar. Vamos pro pinga-fogo aqui. A senhora já participou conosco, sabe, sim ou não, só pra gente ter uma ideia um pouco do que a senhora pensa a respeito de vários assuntos que estão em debate não só em Pernambuco, mas no Brasil. Contra ou a favor a legalização do aborto, candidata?

[Raquel Lyra]: Contra.

[Fabíola Cidral]: A descriminalização da maconha? Contra ou a favor?

[Raquel Lyra]: Contra.

[Fabíola Cidral]: É a favor de concessão de parques públicos à iniciativa privada?

[Raquel Lyra]: Se for do interesse público e for bom pras pessoas, sim.

[Fabíola Cidral]: É a favor da privatização da Petrobras?

[Raquel Lyra]: Contra.

[Fabíola Cidral]: É a favor da criminalização das pesquisas eleitorais?

[Raquel Lyra]: Criminalização? Sou contra.

[Fabíola Cidral]: Tá em debate no Congresso Nacional.

[Raquel Lyra]: Tem que ter pesquisa, a população tem o direito de saber.

[Fabíola Cidral]: Então é contra. É a favor do aumento do número de ministros do Supremo Tribunal Federal?

[Raquel Lyra]: Contra.

[Fabíola Cidral]: É contra ou a favor à federalização de Fernando de Noronha?

[Raquel Lyra]: Contra.

[Fabíola Cidral]: E a privatização do metrô do Recife por parte do governo federal?

[Raquel Lyra]: Contra.

[Fabíola Cidral]: É a favor da privatização da Arena Pernambuco?

[Raquel Lyra]: A Arena Pernambuco, ela é um grande lugar onde se gasta muito dinheiro de Pernambuco. Ela precisa ser entregue à iniciativa privada. Olha, Priscila Krause, que é minha vice, denunciou uma conta d'água lá de um milhão e 300 mil reais. Quando ela botou o dedo, foi pra 40 mil. Local que, de fato, não é pra onde o Poder Público deve estar colocando seu dinheiro.

[Fabíola Cidral]: É a favor das câmeras no uniforme da polícia?

[Raquel Lyra]: Olha, depende. Você tem visto nas pesquisas no mundo, isso é um assunto que precisa ser tratado com muito cuidado, que pode diminuir criminalidade, ajuda o policial também a se proteger. Então... tem que ser tratado com muito cuidado.

[Fabíola Cidral]: Pretende colocar esse debate em discussão?

[Raquel Lyra]: Esse é um assunto a ser estudado, discutido com as polícias, discutido com eles, e construído como política pública pra proteger o policial e pra garantir mais paz pro povo de Pernambuco. Precisa mesmo é reduzir homicídio aqui.

[Fabíola Cidral]: Não quer declarar se é contra ou a favor, então? Acha que é algo que tem que ser discutido?

[Raquel Lyra]: Eu ainda não tenho em Pernambuco essa posição, eu preciso sentar e discutir sobre esse tema de maneira mais aprofundada, mas tenho visto que em alguns lugares do mundo, onde foi implantada, reduziu criminalidade.

[Fabíola Cidral]: Em São Paulo, por exemplo. Muito forte.

[Raquel Lyra]: Compreender como isso foi feito, e, se for o caso, implantar ou não.

[Fabíola Cidral]: Candidata, a senhora é a favor de aumentar a posse e o porte de armas por cidadãos comuns?

[Raquel Lyra]: Contra.

[Fabíola Cidral]: É a favor da redução da maioridade penal?

[Raquel Lyra]: Contra.

[Fabíola Cidral]: É a favor de colocação de pedágio em rodovias do estado?

[Raquel Lyra]: Depende. Depende se tiver via alternativa, a construção, depende.

[Fabíola Cidral]: É a favor...

[Raquel Lyra]: Já tem via pedagiada aqui.

[Fabíola Cidral]: É a favor das cotas raciais e do aumento das cotas raciais, por exemplo, na Universidade de Pernambuco?

[Raquel Lyra]: A gente aqui em Pernambuco tem cotas sociais, não é isso?

[Fabíola Cidral]: Mas a senhora é a favor da implementação de cotas raciais, além das sociais?

[Raquel Lyra]: Toda política pública afirmativa pra acolher as pessoas negras, eu sou a favor, eu sou a favor, a gente só precisa saber como construí-la. Eu sou a favor da ampliação, aqui tem cotas sociais porque a grande maioria da nossa população negra, a gente tem muita população pobre que é negra, negra que é pobre. E aí acaba que a cota social e racial se misturam. Não é? Mas eu sou a favor de política afirmativa que garanta uma situação de equidade pra população negra de Pernambuco e do Brasil.

[Fabíola Cidral]: Uma qualidade e um defeito seu?

[Raquel Lyra]: Nossa? Eu sou obstinada.

[Fabíola Cidral]: Isso é qualidade, né?

[Raquel Lyra]: Isso é qualidade.

[Fabíola Cidral]: E um defeito? Tem algum?

[Raquel Lyra]: Quem está junto de mim vai dizer um monte. Tem gente que reclama que eu ligo muito de madrugada.

[Matheus Santos]: Aprendeu com o João Dória, então.

[Raquel Lyra]: Às vezes não tem a medida.

[Fabíola Cidral]: Qual deve ser o seu 1º ato caso seja eleita governadora de Pernambuco?

[Raquel Lyra]: Trabalhar, a partir do 1º dia, para superar a pobreza no nosso estado. Um trabalho que tem começo, meio e não tem fim.

[Fabíola Cidral]: A senhora falou que lhe preocupa muito a fome no Estado de Pernambuco, tem números muito fortes, a cada dez pessoas, quatro estão em situação de insegurança alimentar moderada ou grave. Eu queria saber o que o estado pode fazer, que tipo de programa, projeto, o que vai fazer para acabar com a fome no estado de Pernambuco?

[Raquel Lyra]: A gente tem uma questão que é emergencial, que é colocar comida no prato das pessoas. Criamos um programa, colocamos o programa Mães de Pernambuco para dar um auxílio de R$ 300 a mães que têm crianças de 0 a 6 anos em situação de pobreza. A pobreza aqui, de cada quatro crianças, uma passa fome no nosso estado. A gente vai criar o restaurante Bom Prato, restaurante popular com alimentação a dois reais, subsidiada pelo governo, onde está o mapa da fome de Pernambuco, unidades fixas e unidades móveis, e a gente vai trabalhar aquilo que é sustentável, garantir construção de vaga de creche e fazer o estado voltar a crescer sem deixar ninguém para trás e, assim, a gente vai conseguir mudar o jogo em Pernambuco. Não é um trabalho fácil de fazer. Carece de liderança e capacidade de montar time para fazer de Pernambuco um estado que supere desigualdade e pobreza, mas eu estou pronta.

[Carlos Madeiro]: Sobre a questão do Consórcio Nordeste, que é uma coisa que vem crescendo, cresceu muito nos últimos quatro anos e foi alvo de muito ataque, por exemplo, pelo presidente Bolsonaro, que alega que ele foi usado para fraude, por conta de respiradores. Eu queria saber o posicionamento da senhora, se concorda, pretende manter Pernambuco. Hoje é administrado pelo governador Paulo Câmara. A senhora vai manter Pernambuco no consórcio, acha a iniciativa bacana?

[Raquel Lyra]: A participação de consórcios eu sempre fiz. Eu fui vice-presidente três vezes da Frente Nacional de Prefeitos, de frentes, consórcios. A Frente Nacional de Prefeitos cuida de crianças e adolescentes da cidade do G100, com maior índice de pobreza, um dos estados maiores, com menor renda per capita no Brasil. É importante consórcio. Agora, é entender e direcionar do jeito certo, para o que serve? Os consórcios são importantes para que possa fortalecer um estado com outro, afinal de contas, não há Pernambuco forte com Paraíba fraca. A gente precisa estar junto e permitir que os estados possam crescer juntos.

[Carlos Madeiro]: A senhora vê problemas na forma do consórcio hoje?

[Raquel Lyra]: Houve equívocos durante a realização de consórcios, não é? Houve equívocos. Eu não sei identificar por onde, porque eu estava cuidando de fato da nossa cidade, com enfrentamento à pandemia. Penso que existem ajustes que podem ser feitos. Fizeram compras, e as compras não conseguiram chegar. Eu não sei exatamente o detalhe disso, por isso eu tenho o receio de me pronunciar sobre algo que eu não conheço de maneira adequada. Mas precisa ter um projeto de desenvolvimento estratégico para o Nordeste brasileiro. E se perdeu muito ao longo do tempo essa capacidade de enxergar a região e como a gente consegue crescer de maneira conjunta. Puxando para um lado, para outro, crescendo junto.

[Matheus Santos]: Vamos falar sobre a questão da saúde. Em 2022, está completando agora 26 anos da tragédia do caso da hemodiálise em Caruaru, não é? Caso conhecido nacionalmente, 60 pacientes morreram por contaminação durante o tratamento. E hoje, 26 anos depois, a situação é bastante delicada em Pernambuco para as pessoas que precisam desse tratamento. Estimativas apontam que as pessoas esperam até 4 horas na fila, muitas vezes, para tratamento três vezes na semana, e tem muitos doentes, principalmente a população que precisa desse tratamento; e tem também uma distorção na tabela do valor da sessão de hemodiálise, não é? Eu queria saber, se a senhora foi eleita, se a senhora se compromete a bancar as diferenças na tabela do SUS, completando o valor necessário para que as sessões de hemodiálise não sejam cortadas, como fizeram no Estado do Rio, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul e outras.

[Raquel Lyra]: Na verdade, a saúde de Pernambuco está caótica. Tem 50 mil pessoas, e todo dia isso aumenta nas filas de exames e cirurgias. As pessoas não conseguem sequer um diagnóstico adequado. A gente tem ouvido que a senha da regulação para conseguir tratamento é uma senha da morte, as pessoas não conseguem tratamento em Pernambuco. E olha, sobre hemodiálise, mas sobre tratamento de câncer, sobre cirurgia, sobre exame, sobre saúde da mulher o nosso compromisso, e temos propostas claras, para garantir a saúde como prioridade no nosso estado. A principal preocupação do povo de Pernambuco é com a saúde, e a gente vai cuidar dela. Eu fiz isso em Caruaru como prefeita, construí maternidade nova, ampliei a rede da atenção básica, melhoramos todos os indicadores da Saúde Básica, reformei e requalifiquei o Hospital Municipal. A gente vai construir maternidades, requalificar a rede própria e desconcentrar atendimento para permitir que, perto das suas casas, as pessoas possam ter tratamento, inclusive e especialmente de câncer, de hemodiálise. Eu conheço uma pessoa, que trabalhou comigo, que morreu, inclusive. Precisou ficar internado quatro meses no hospital regional do agreste de Pernambuco. Foi para fazer hemodiálise quando podia estar em casa, mas ela só teria direito a entrar na máquina se estivesse internada. Eu vi aquele hospital, fui visitá-la algumas vezes, como um presídio, porque as pessoas ficam marcando, contando os dias porque estão aprisionadas sem conseguir ter acesso a seus parentes, adoecendo mentalmente. Ele e o cuidador, os médicos, os profissionais, que não aguentam mais ver essa situação.

[Fabíola Cidral]: O tempo foi esgotado, eu queria agradecer imensamente sua participação aqui. Boa sorte nessa semana decisiva de campanha eleitoral. A gente sabe a correria, o trabalho, a senhora dedicar uma hora para atender, a conversar com eleitores e brasileiros que estão interessados em saber sobre a disputa de Pernambuco. Parabéns pela campanha e boa sorte.

[Raquel Lyra]: Obrigada. Eu tenho participado de todos os debates e sabatinas porque Pernambuco vai mal, e a gente precisa apresentar propostas para o povo poder escolher melhor. Beijo grande, muito obrigada a todos, Matheus, Madeiro e Fabíola.

[Fabíola Cidral]: Obrigada, Madeiro, até a próxima. Tchau, Matheus. Assim a gente termina mais uma sabatina UOL e Folha, lembrando mais uma vez que fizemos o convite justamente à Marília Arraes. Ela estava marcada, teve problema de agenda, teve que cancelar, e a gente está aguardando uma nova data para que ela também possa ser sabatinada pela Folha e UOL na parceria das eleições 2022. Só trazendo um pouco da agenda para você: amanhã, terça-feira, às 16h, temos disputa lá na Bahia, Jerônimo Rodrigues, candidato do PT, na Bahia, será sabatinado. ACM, do União Brasil, ainda não retornou. Quarta-feira, teremos, às 10h da manhã, Fernando Haddad, na disputa em São Paulo. Tarcísio de Freitas rejeitou o convite, não vai participar da sabatina; e temos também na quarta-feira a sabatina em Santa Catarina, com o candidato do PT Décio Lima, Jorginho Mello, candidato do PL, não aceitou participar da sabatina UOL e Folha. A gente lamenta os candidatos que não aceitam participar da sabatina porque a gente perde espaço para que possa discutir, perde a oportunidade de discutir os problemas reais de cada um dos estados. Obrigada pela sua audiência, pela sua companhia, vou ficando por aqui, volto daqui a pouquinho. Ao meio-dia a gente tem o UOL News, e eu te aguardo.