Tampa laranja e dosagem: veja diferenças entre vacina para criança e adulto
O Ministério da Saúde prevê começar a vacinação de crianças de 5 a 11 anos contra covid-19 a partir da próxima semana. O primeiro lote da vacina Comirnaty, das farmacêuticas Pfizer e BioNTech, para este público, chegou ao Brasil nesta madrugada (13).
Para tirar as principais dúvidas sobre a vacinação infantil, o UOL consultou a pediatra Ana Escobar, professora do curso de medicina da USP (Universidade de São Paulo) e o médico infectologista Leonardo Weissmann. Os dois especialistas destacam que o imunizante é seguro e eficaz.
"Vacinas já salvaram inúmeras vidas. A varíola foi erradicada do planeta com a vacinação. A poliomielite está quase erradicada. O sarampo e a pneumonia mataram muito menos com a vacinação", diz a pediatra.
Existem algumas diferenças entre as vacinas da Pfizer contra covid-19 para crianças e adultos —a tampa do imunizante destinado ao público infantil é laranja, por exemplo, para evitar confusão entre os dois tipos. Abaixo, veja mais detalhes sobre as doses que chegaram ao Brasil.
Tire suas dúvidas sobre vacina covid para crianças
Qual vacina contra covid será aplicada nas crianças entre 5 e 11 anos?
É a vacina Comirnaty, da farmacêutica Pfizer. O uso deste imunizante na população desta faixa etária foi aprovado em 16 de dezembro pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
O governo federal, entretanto, abriu uma consulta pública e colocou empecilhos para o início da imunização —chegou a cogitar a possibilidade de exigir prescrição médica para a vacina.
É a mesma vacina que os adultos tomam?
Não. A dosagem, a formulação e o intervalo entre as doses da vacina pediátrica são diferentes da aplicada em adultos e jovens com mais de 12 anos.
Crianças entre 5 e 11 anos terão aplicação de dez microgramas —o que corresponde a um terço da dose destinada a pessoas a partir de 12 anos (de 30 microgramas). Há também diferença nos volumes de compostos do imunizante.
Quando chegam as vacinas contra covid-19 para crianças?
O primeiro lote, com 1,2 milhão de doses de vacinas pediátricas contra a covid-19, chegou na aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP), na madrugada de 13 de janeiro. Agora, os imunizantes serão distribuídos para os estados, que vão entregá-los aos municípios.
Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil receberá em janeiro 4,3 milhões de doses de vacina para crianças entre 5 e 11 anos. Em fevereiro, a previsão é de mais 7,2 milhões e, em março, 8,4 milhões.
O governo federal diz que, até o fim do primeiro trimestre, o Brasil deve receber quase 20 milhões de doses pediátricas da Pfizer. Para completar a vacinação infantil, de duas doses, o país precisará de pouco mais de 40 milhões de doses.
Quando deve começar a aplicação das vacinas?
O Ministério da Saúde entregará as doses aos estados, que vai distribuir aos municípios. O número de doses destinadas aos estados varia de acordo com o percentual do público-alvo, que é entre 5 e 11 anos.
A previsão é que as campanhas nos locais comece nos próximos dias —isso depende da organização de cada prefeitura.
Ao UOL Entrevista, o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), disse que a vacinação deve começar no domingo (16) na capital mineira. O Distrito Federal confirmou a mesma data.
O estado de São Paulo abriu o cadastro para imunização infantil na quarta-feira (12).
Os estados, no entanto, se queixam da baixa quantidade de vacinas disponíveis neste primeiro lote, o que vai atrasar a imunização deste público.
Como ocorrerá a vacinação?
O PNI (Plano Nacional de Imunização) prevê que, assim como ocorreu com o público adulto, deve haver prioridade para as crianças que têm comorbidades, deficiência permanente, além de indígenas e quilombolas.
Mas alguns estados declararam que devem começar seguindo a idade, por ordem decrescente —as crianças de 11 anos serão vacinadas.
As vacinas serão aplicadas nos postos de saúde?
As vacinas devem ser armazenadas em locais com temperatura refrigerada determinada para conservação do imunizante. Os pontos de vacinação serão determinados pelo município, mas devem respeitar essa regra.
Normalmente, a campanha ocorre em postos de saúde públicos. O estado de São Paulo deve oferecer aplicação em escolas, segundo o governo.
Para não haver problemas de identificação, os frascos das vacinas pediátricas têm a tampa de cor laranja. Já as vacinas para pessoas com mais de 12 anos têm frascos de cor roxa.
Quantas doses serão aplicadas?
Para crianças entre 5 e 11 anos, serão aplicadas duas doses, cada uma de 10 microgramas.
O intervalo preferencial é de 21 dias, de acordo com a bula do imunizante da Pfizer. Mas o governo brasileiro informou que adotará um intervalo será de oito semanas.
Qual é o intervalo entre a primeira e a segunda dose?
A bula da Pfizer indica intervalo de 21 dias entre a primeira e a segunda dose, como vem ocorrendo em outros países.
Porém, no Brasil, o Ministério da Saúde informou que terá o intervalo de oito semanas. Médicos dizem que o aumento no prazo é arriscado, em um momento de alta de casos, devido à disseminação da variante ômicron e às festas de fim de ano.
A vacina será gratuita?
Sim. A vacina Comirnaty foi comprada pelo Ministério da Saúde e distribuída pelo SUS (Sistema Único de Saúde).
As vacinas para crianças serão aplicadas em injeção ou em gotas?
Crianças de 5 a 11 anos receberão a vacina por meio de injeção, da mesma forma que ela é aplicada em maiores de 12 anos.
Não há no Brasil vacinas contra a covid-19 ministradas por meio de gotas ou inalação.
É necessário ter prescrição médica?
O governo federal chegou a cogitar a possibilidade de exigir prescrição médica para a receita. Após abrir consulta pública, o Ministério da Saúde recuou e não haverá pedido de receita.
Para a pediatra Ana Escobar, a exigência da prescrição afetaria a agilidade da vacinação. Os pais teriam que levar os filhos a uma consulta para prescrição de uma vacina que já obteve todos os certificados de segurança e não está mais em fases de testes, para poder levar os filhos para receberem o imunizante.
O que acontece com quem completa 12 anos após a primeira dose?
A criança que completar 12 anos após tomar a primeira dose deverá concluir a vacinação com a segunda dose do imunizante pediátrico.
Quais as reações causadas pela vacina?
As reações mais relatadas são dores no local da aplicação e cansaço.
Os médicos insistem que os benefícios da vacina —já aprovada pelos órgãos reguladores— são muito superiores à possibilidade de haver reação adversa.
Ao UOL, o vice-presidente do Departamento de Infectologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo, Marcelo Otsuka, citou estudo que aponta que, entre 7 milhões de doses aplicadas nos Estados Unidos em crianças abaixo de 11 anos (sendo dois milhões de segunda dose), foram registrados apenas oito casos de miocardite. "Em todos esses casos, a evolução foi ótima, sem complicações ou necessidade de internação", aponta.
A vacina contra covid para crianças pode provocar sequelas?
A vacina contra covid-19 para crianças já é adotada em mais de 30 países, informa a médica pediatra Ana Escobar.
Ela afirma que o imunizante é totalmente seguro e eficaz, e os pais não devem ter medo da vacina, mas sim dos filhos adoecerem com covid-19.
A pediatra destaca que o risco de ter miocardite após contrair covid-19 é 20 vezes maior do que pela vacinação. "Não existe justificativa para não vacinar as crianças", avalia.
A vacina é experimental?
Não. Os dois especialistas consultados pelo UOL reforçam que a vacina pediátrica da Pfizer/BioNTech não é experimental, pois seu efeito foi avaliado em milhões de crianças e já é usada em crianças na faixa etária de 5 e 11 anos em mais de 30 países.
O FDA (Food and Drug Adminitration), a EMA (Agência Europeia de Medicamentos) e a Anvisa analisaram todos os estudos realizados com o imunizante antes de liberá-lo.
A vacina de RNA mensageiro muda o DNA humano?
Não. De acordo com o médico infectologista Leonardo Weissmann, o material genético humano fica no núcleo da célula, e o mRNA se fixa no citoplasma, onde vai produzir os anticorpos. Ou seja, não entra no núcleo da célula humana —portanto, não vai entrar em contato com o DNA humano e não tem a capacidade de alterá-lo.
Quantas crianças já morreram em consequência da covid-19 no Brasil?
Dados do Sivep-Gripe, base de dados do SUS (Sistema Único de Saúde) mostram que ao menos 301 crianças e adolescentes de 5 a 11 anos morreram no país em razão da covid-19 desde março de 2020. No total, foram 6.163 casos de infecção nesta faixa etária.
As escolas vão exigir passaporte de vacina na volta às aulas?
Levantamento do UOL aponta que escolas da rede pública de ao menos seis capitais decidiram incluir o comprovante de vacinação contra a covid-19 nos documentos obrigatórios para a matrícula de crianças de 5 a 11 anos.
Entretanto, a falta de imunização não impedirá os alunos de estudarem. Por enquanto, as prefeituras das capitais não planejam adotar passaporte vacinal para proibir a entrada de alunos não vacinados nas escolas.
Além disso, existe uma outra discussão: o governo federal não determinou a obrigação da aplicação da vacina contra a covid-19. Mas especialistas defendem outro posicionamento. O artigo 14 do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) indica que pais são obrigados a vacinar seus filhos de acordo com as determinações das autoridades sanitárias e, caso não façam, estão previstas sanções penais.
Fonte: pediatra Ana Escobar, professora do curso de medicina da USP (Universidade de São Paulo) e infectologista Leonardo Weissmann
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