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Kilauea assusta Havaí há 3 semanas: como é a vida perto de um vulcão

Terray Sylvester / Reuters
Imagem: Terray Sylvester / Reuters

em São Paulo*

29/05/2018 04h01

Desde o início de maio, o vulcão Kilauea afeta não apenas a paisagem, mas também o cotidiano do Havaí. Os cerca de 1,5 milhão de habitantes do arquipélago convivem há mais de três semanas com as erupções do vulcão e já temem agora pelos reflexos no turismo - uma das mais importantes fontes de renda da localidade.

"No dia 19, a lava do Kilauea entrou no meu condomínio de maneira muito agressiva, tinha um rio de lava descendo, levou nossa casa e toda nossa fazenda", disse a brasileira Fernanda Paulsen, moradora do Havaí e uma das pessoas que tiveram a casa atingida pela erupção.

Cada vez mais próxima das áreas residenciais, a atividade do Kilauea já fez pelo menos 2.000 havaianos deixarem suas casas. Conviver com um vulcão nos arredores de casa é um desafio diário:

Quando o vulcão é seu vizinho

  • Mario Tama/Getty Images

    Lava

    Um dos fatos mais impressionantes é que as lavas não saem apenas da boca do vulcão. Rachaduras se formam por diversas partes do território havaiano e expelem lavas até no meio das ruas. Pelo menos três localidades do Havaí já convivem com o problema: Puna, Lelinani Estates e Lanipuna Gardens. O governo contabiliza pelo menos 17 aberturas no solo nesta erupção. Também é impactante a velocidade com que as rachaduras avançam. "A rachadura havia surgido há poucas horas e já tinha cerca de 300 metros de comprimento e lançava lava a várias centenas de metros de altura", disse Terray Sylvester, repórter fotográfico da Reuters.

  • Terray Sylvester / Reuters

    Nuvem tóxica

    A paisagem paradisíaca do Havaí ganhou um novo elemento no último mês: a "vog" - nova palavra formada a partir dos termos vulcão e "smog" (nuvem tóxica, em inglês). Os cientistas dizem que a nuvem cinzenta que paira sobre o Havaí contém vapor, dióxido de carbono e dióxido sulfúrico eliminados pelo Kilauea. Essa mistura reage com o oxigênio da atmosfera, com a luz do sol, poeira e outros gases no ar e formam uma camada espessa que diminui a visibilidade e a luminosidade do dia.

  • Terray Sylvester / Reuters

    Fogo que cai do céu

    Com um vulcão em atividade, o perigo não vem apenas do chão. As lavas e rochas cuspidas do fundo da terra são lançadas para o alto e caem a metros de distância. "Eu vi pedaços de lava caírem em um gramado e atingirem um telhado de metal. Um pedaço de lava caiu em uma árvore, que brilhou em vermelho como um enfeite de Natal", escreveu o repórter da Reuters na ilha. Pedaços de lava que caem do céu esfriam rapidamente. Uma moradora local, Jolon Clinton, de 15 anos, disse que uma pedra de lava do tamanho de uma bola de golfe atingiu sua perna. Queimou de leve sua roupa, mas ela limpou antes que sua pele queimasse.

  • Terray Sylvester / Reuters

    Sem teto

    Desde que o Kilauea entrou em atividade, muitos moradores se viram obrigados a deixar suas casas - pelo menos 2.000, segundo a agência AP. Em um abrigo da Cruz Vermelha em Pahoa, Linda Dee Souza, de 72 anos, cuidava de seus papagaios africanos, Clucky e Mary Magdalene, com quem ela fugiu de sua casa na comunidade costeira de Kalapana por causa da fumaça. Ela foi uma das centenas de pessoas que deixaram a região de Puna Inferior devido à fumaça e ao risco de que as estradas para suas casas fossem bloqueadas.

  • Terray Sylvester / Reuters

    Tremores e estrondos

    O dono de uma das casas no topo de uma colina, 400 metros acima de uma fissura, convidou a Reuters a observar o espetáculo do fogo que brotava do chão. Ele estava com vários amigos, observando o espetáculo de uma varanda do segundo andar. A fissura não parecia representar um perigo imediato, mas explosões frequentes causavam estremecimentos em sua casa. O barulho dessas explosões era alto o suficiente para que fosse necessário gritar para se comunicar comunicarmos. Ele parecia cansado, nervoso pelas explosões constantes. Ele disse que só queria que tudo aquilo acabasse.

  • Terray Sylvester / Reuters

    Estradas bloqueadas

    Os havaianos convivem com interrupção de diversas vias desde que o Kilauea entrou em erupção. Além das rachaduras que surgem do nada, lavas avançam sobre o terreno e engolem o que vêm pela frente - como o poste de fiação elétrica da imagem. Quem observa o espetáculo de destruição e força da natureza, seja turista, morador ou jornalistas, não consegue não ficar em choque. Constantin Plinke, um estudante de intercâmbio alemão, disse à Reuters: "Nós tínhamos uma lista grande de coisas para fazer e talvez 80 por cento delas estivessem no parque nacional. É triste." Então, notando a raridade do evento, ele acrescentou: "Você pode nunca mais ver algo assim em sua vida." *Com Reuters e AP