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Após detenção no Cairo, jornalistas da Al Jazeera são liberados

Do UOL Notícias

Em São Paulo

31/01/2011 12h06

Seis jornalistas da emissora de TV "Al Jazeera" foram presos nesta segunda-feira (31) e liberados horas depois, no Cairo, Egito. "Quatro soldados invadiram nossa sala e tomaram as câmeras. Estamos sob prisão, militar", escreveu um dos correspondentes da emissora sediada no Qatar.

O governo do Egito suspendeu as atividades do escritório da "Al Jazeera" no país no domingo (30) e retirou as permissões oficiais de todos os correspondentes. Fontes do escritório de imprensa do governo egípcio confirmaram a informação, mas disseram que o Ministério de Informação não costuma divulgar os motivos para conceder ou retirar permissões de trabalho.

Centenas de egípcios voltaram a tomar o coração do Cairo para exigir a renúncia do regime do presidente Hosni Mubarak, no sétimo dia de manifestações contra o líder, no poder desde 1981. A praça Tahir, símbolo dos protestos dos últimos dias, segue sob forte proteção das tropas do Exército. Helicópteros sobrevoaram sobre um grupo que fazia sinais e cantava: "o povo egípcio quer a queda do governo".


Os militares se colocaram no acesso à praça, ao contrário dos dias anteriores, quando os tanques circulavam pelo meio da Tahir (Libertação, em árabe). As ruas de acesso estão interrompidas por tanques e cercas, e os soldados revisam as bolsas e, em alguns casos, pedem os documentos de identidade das pessoas que se aproximam da praça.

Os organizadores dos protestos que exigem a renúncia do presidente egípcio Hosni Mubarak convocaram nesta segunda-feira uma greve geral por tempo indeterminado e uma passeata de um milhão de pessoas para terça-feira. "Decidimos durante a noite que na terça-feira acontecerá uma passeata de um milhão de pessoas", declarou Eid Mohamad, um dos líderes do movimento. "Também decidimos convocar uma greve geral indefinida", completou.

Uma convocação de greve geral já havia sido anunciada na noite de domingo pelos trabalhadores da cidade de Suez, umas das três maiores do país, ao lado do Cairo e de Alexandria, onde foram registradas manifestações e distúrbios. As três cidades estão sob toque de recolher.

As convocações foram feitas apesar dos esforços de Mubarak para conter a onda de descontentamento social que paralisa o país desde a última terça-feira, com enfrentamentos entre manifestantes e as forças de segurança que deixaram mais de cem mortos e milhares de feridos até o momento.

O presidente, de 82 anos, no poder desde 1981, pediu no domingo em um discurso transmitido pela televisão a seu novo primeiro-ministro, Ahmed Shafiq, que promova a democracia por meio do diálogo com a oposição e recupere a confiança na economia do país.

As forças de oposição, centralizadas na Coalizão Nacional pela Mudança - que inclui de sectores laicos até a Irmandade Muçulmana - pediram a Mohamed ElBaradei, que se ofereceu para liderar um governo de transição, que inicie negociações com o regime.

"O Egito está no início de uma nova era", afirmou no domingo o ex-chefe da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e Prêmio Nobel da Paz, em um comício na praça Tahrir, coração da rebelião, no centro do Cairo.

O discurso foi feito depois do início do toque de recolher, que começou às 16H00 (12H00 de Brasília) e terminou às 8H00 (4H00 de Brasília). A partir desta segunda-feira, a medida começará uma hora antes, mas até o momento a interdição foi ignorada pelos manifestantes.

Mubarak ordenou no domingo o retorno às ruas da polícia antidistúrbios. Desde sexta-feira, o Exército era responsável por lidar com a rebelião.

Oposição rejeita diálogo

O grupo dos Irmãos Muçulmanos, a maior força da oposição no Egito, rejeitou nesta segunda-feira manter qualquer diálogo com o novo primeiro-ministro, general Ahmed Shafiq, e criticou o presidente, Hosni Mubarak, por tê-lo proposto na véspera.

"Ahmed Shafiq e Omar Suleiman (vice-presidente) são pilares do regime e partícipes da injustiça e da corrupção, e a partir de suas mãos nunca conseguiremos reformas, tampouco a democracia", declarou à Agência Efe um dos dirigentes dos Irmãos, Mahmoud Ghazali.

No domingo à noite, Mubarak encarregou Shafiq, premiê desde sábado, que dialogue com a oposição e promova a democracia no país, como informou a televisão pública.

"Só queremos dialogar com o Exército, o único em que confiamos, para chegar a um acordo sobre a transferência do poder de maneira pacífica", acrescentou.

Ghazali garantiu que a proposta de Mubarak para dialogar com a oposição "chega muito tarde" e acrescentou que "o povo rejeita todas estas faces de Mubarak, Shafiq e Suleiman".

O dirigente dos Irmãos insistiu em que o único pedido do povo continua sendo derrubar o regime e que em caso de Mubarak não deixar a Presidência, os cidadãos permanecerão nas ruas.

Segundo Ghazali, o grupo islâmico rejeita Mubarak e todo seu Governo e classifica as propostas para dialogar com a oposição de tentativas de "enganar ao povo até que se tranquilizem".

A oposição egípcia anunciou na véspera a criação de um comitê do qual fazem parte, entre outros grupos, os Irmãos Muçulmanos e a Assembleia Nacional para a Mudança, liderada pelo prêmio nobel da Paz Mohamed ElBaradei, com a missão de aproximar aos militares para criar pontes de comunicação, à margem do regime.

Saques

A ausência da polícia resultou em saques e permitiu a fuga de milhares de presos.

O chefe de Estado destituiu na semana passada o governo e no sábado nomeou como vice-presidente Omar Suleiman, diretor dos serviços de inteligência, e designou Shafiq como chefe de Governo. Ambos são ex-militares.

Os Estados Unidos, que consideram Mubarak um de seus principais aliados na região, pediram ao presidente que adote mais mudanças e comece a pensar em "transição".

A comunidade internacional acompanha com ansiedade os acontecimentos no Egito, o mais populoso entre os países árabes (80 milhões de habitantes), que desempenha um papel fundamental no diálogo entre israelenses e palestinos.

O jornal israelense Haaretz informa que o Estado hebreu pediu aos Estados Unidos e a vários países europeus, em uma mensagem secreta, apoio à estabilidade do regime de Mubarak.

O Egito segue paralisado, com os bancos e a Bolsa fechados. Os postos estão sem combustível e os caixas automáticos, vazios.

A agência de classificação financeira Moody's reduziu nesta segunda-feira em um nível a nota do Egito, que agora está em "Ba2", com perspectiva negativa.

Muitos países - Estados Unidos, Canadá, Arábia Saudita, Líbano, Jordânia, Japão e Austrália - enviaram aviões para repatriar os cidadãos.