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Em eleição "silenciosa", iranianos vão às urnas eleger novos representantes do Legislativo

Mais de 3.000 candidatos disputam 290 cadeiras no Parlamento iraniano; 48,2 milhões de eleitores estão aptos a participar da eleição - Arte UOL
Mais de 3.000 candidatos disputam 290 cadeiras no Parlamento iraniano; 48,2 milhões de eleitores estão aptos a participar da eleição Imagem: Arte UOL

Do UOL, em São Paulo

02/03/2012 06h00

A população iraniana vai às urnas nesta sexta-feira votar nas nonas eleições legislativas da República Islâmica do Irã, dominadas por seguidores do líder supremo, aiatolá Ali Khamenei, e do presidente, Mahmoud Ahmadinejad, que disputam a maioria das 290 cadeiras a serem preenchidas. Será a primeira eleição desde que Ahmadinejad foi reeleito, em 2009, resultado que resultou em protestos questionando a votação.

Segundo o Ministério do Interior, estão aptos a votar 48,2 milhões de cidadãos acima dos 16 anos, ou seja, mais da metade da população do país, estimada em pouco mais de 76 milhões de habitantes. Do total de eleitores, 3,9 milhões poderão votar pela primeira vez, em um país onde 70% da população têm menos de 30 anos e só conheceu o regime da República Islâmica, implantado em 1979.

Grupos do mesmo lado disputam as cadeiras

A expectativa dos partidários do líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei, todos radicais defensores do regime islâmico unidos nas frentes "principialistas", é levar a grande maioria das cadeiras. Já os partidários do presidente Mahmoud Ahmadinejad esperam obter bons resultados em algumas províncias e no meio rural, onde obtiveram uma forte presença para divulgar as conquistas do governo nos últimos meses.

Foram poucos os reformistas que se candidataram e muitos dos partidários de Ahmadinejad, os "desviacionistas", também ficaram de fora da disputa, acusados de se desviar das rígidas normas religiosas do regime. Por conta disso, dezenas de partidários do presidente foram levados aos tribunais e à prisão.

Dois líderes reformistas das manifestações de 2009, Mehdi Karroubi e Mir Hussein Mousavi, estão há mais de um ano em uma rígida prisão domiciliar, praticamente incomunicáveis, o que levou seus partidários a pedir o boicote às eleições.

Outros reformistas --como o ex-presidente Mohammad Khatami, praticamente marginalizado da política-- não promoveram o boicote, mas consideraram que não há clima para uma candidatura, motivo pelo qual apenas pequenos grupos desta tendência se inscreveram para as eleições.

Com a disputa polarizada entre os "posicionistas" e os  "desviacionistas" e diante da falta de diferenças ideológicas e de programa, o denominador comum para pedir votos é a luta contra o inimigo exterior. Tanto os dirigentes religiosos como os laicos, todos liderados por Khamenei, afirmam que uma participação em massa será um "novo golpe à arrogância", como classificam os Estados Unidos e Israel.

Este ano, pela primeira vez foi exigido um mestrado universitário para poder se candidatar a uma cadeira, embora os deputados que passaram uma legislatura completa de quatro anos no Parlamento poderão tentar a reeleição, o que facilita a presença de deputados veteranos e dificulta o acesso de novos políticos ao legislativo. 

Intenções de voto

Uma pesquisa citada pela agência local "Mehr" indica que a participação prevista para Teerã é de 30% do eleitorado, embora o veículo, considerado próximo aos reformistas islâmicos, espera que na sexta-feira o índice chegue a 40% na capital, cuja região metropolitana tem por volta de 14 milhões de habitantes.

O mesmo levantamento indica que, no conjunto do país, a participação chegará a 57% --levando em conta que costuma ser consideravelmente maior o comparecimento das pequenas cidades e do meio rural às urnas.

Um jornalista local, que pediu que para não ter sua identidade revelada, disse à Agência Efe que a maioria da população "percebe as eleições como uma luta dentro das distintas facções do regime islâmico, que tem pouco a ver com os interesses da sociedade em geral", focada sobretudo nas fortes altas de preços.(Com Reuters e Efe)