Disputa presidencial revela França dividida e deve ir ao segundo turno
A França realiza neste domingo o primeiro turno das eleições presidenciais que, para a mídia francesa, refletem uma “bipolarização esquerda-direita”. O atual presidente Nicolas Sarkozy e o socialista François Hollande protagonizam a disputa e devem se enfrentar no segundo turno, no dia 6 de maio. O candidato de extrema-esquerda Jean-Luc Mélenchon e a candidata de extrema-direita Marine Le Pen despontaram na disputa ao conquistar eleitores em busca de mudanças mais expressivas no poder.
Sarkozy entrou oficialmente na briga apenas no dia 15 de fevereiro, quando Hollande aparecia como favorito absoluto nas pesquisas de intenção de voto. Conseguiu alcançar o adversário, com um discurso em que a crise econômica europeia e o fortalecimento da nação francesa são o carro-chefe.
O slogan da campanha, "La France Forte", foi evocado mais uma vez pelo presidente que se autointitula o salvador da economia europeia, em comício realizado em Paris, no último domingo. "Eu reivindico o direito para a França de defender seus valores, sua cultura e sua identidade. Se os franceses confiarem em mim, colocarei a mesma energia para o avanço do crescimento da Europa como eu o fiz para salvar o euro".
Apoiadores de Sarkozy o veem como um dos “pilares” da Europa, junto com a chanceler alemã Angela Merkel. "É absolutamente necessário que Sarkozy permaneça na presidência porque sem ele não haverá mais a França, não haverá mais a Europa”, diz a aposentada Chantal Hartmann, que viajou de Carcassonne (sul do país) a Paris para acompanhar o comício. “Se ele partir, vamos terminar como a Grécia".
Para o professor do Instituto de Estudos Políticos de Bordeaux, Pierre Sadran, a força do presidente está no personagem que ele criou. "O diferencial da campanha de Sarkozy é ele mesmo, com sua energia, sua eloquência e sua capacidade de convencer uma boa parte do eleitorado francês de que ele é a solução para este momento particular da história e economia do país e da Europa".
O professor do Instituto de Estudos Políticos da Universidade de Lyon 2, Paul Bacot, vê no socialista Hollande uma reputação “simetricamente inversa” à do atual presidente. “Sarkozy é considerado o ‘presidente dos ricos’, tanto por seu comportamento como por sua política econômica e social”, analisa. Para ele, o ponto forte de Hollande é exatamente a denúncia dos ricos.
Sadran também considera que, apesar de não ter a mesma representatividade do candidato à reeleição, Hollande “tem a vontade de mudança do eleitorado a seu favor”.
A urbanista Khara Cisse apoia o socialista por suas propostas voltadas para as minorias. "Espero que com Hollande haja uma mudança significativa na política francesa, que hoje eu vejo como estigmatizante e até mesmo xenófoba".
CAMPANHA AO ESTILO FRANCÊS
Nas ruas, nada de outdoors imensos com o rosto dos candidatos: o processo eleitoral na França é discreto e organizado, o que reflete o comportamento dos franceses - as manifestações em prol dos candidatos se restringem aos comícios.
Nas emissoras de TV e rádios, a campanha começou no dia 9 de abril e terminou nesta sexta (20); cada candidato pode veicular somente dez spots de 1min30 e oito de 3min30 durante esse período - e apenas nas emissoras e rádios públicas.
O eleitorado de Hollande conta com uma participação considerável dos franceses de origem estrangeira, como observa Bacot: “Os filhos de imigrantes são uma parcela crescente do eleitorado, e sabemos que a orientação política deles é geralmente à esquerda, de um ponto de vista econômico e social, não cultural”.
Voto útil
Uma possível agregação dos eleitores em torno de um determinado candidato, não por convicção política, mas com o objetivo de eliminar um adversário, também pode ser um trunfo para Hollande. Por conta do chamado ‘voto útil’, a campanha do socialista tem buscado conquistar os eleitores de Mélenchon.
“As minorias precisam se reunir para se reforçar e evitar os erros do passado”, diz a aposentada Nicole Pailhes, militante do Partido Socialista. Ela se refere às presidenciais de 2002, nas quais o candidato socialista Lionel Jospin foi eliminado no primeiro turno devido à alta segmentação da esquerda e uma inesperada abstenção de mais de 28% dos eleitores. O resultado foi um inédito segundo turno entre o polêmico candidato de extrema-direita, Jean-Marie Le Pen, e o então presidente e candidato da direita Jacques Chirac, que conseguiu ser reeleito.
Em 2007, quando Sarkozy venceu a disputa pelo Palácio do Eliseu, a taxa de abstenção ficou em torno de 16% tanto no primeiro quanto no segundo turno. Se a previsão de abstenção acima de 30% (segundo o Institut Français d'Opinion Publique) para este ano se confirmar, será reflexo de um momento de credibilidade política em baixa na França, segundo Bacot. “De uma maneira geral, as pessoas acreditam cada vez menos em seus dirigentes políticos e que eles tenham poder de mudança”.
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