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"Eu sou a mãe de Adam Lanza", diz escritora ao propor debate sobre doenças mentais nos EUA

Do UOL, em São Paulo

16/12/2012 23h03

O assassinato de 20 crianças e seis funcionárias na escola Sandy Hook, em Newtown, Estados Unidos, fez com que o debate sobre o controle de armas reacendesse no país. Mas a escritora Liza Long acredita que a discussão deveria ter outro foco: o das doenças mentais.

Em um post intitulado “Pensando no impensável”, no blog “The Anarchist Soccer Mom”, Liza descreve as dificuldades que enfrenta pelo fato de seu filho, Michael (nome fictício), de 13 anos, ter problemas psiquiátricos. Já foi dito à Liza que o filho seria portador de autismo, distúrbio do deficit de atenção e até transtorno explosivo intermitente, mas nunca houve um diagnóstico preciso.

Ao mesmo tempo, Michael possui um Q.I alto e frequentava um programa de aceleração de aprendizagem. Um “gênio”, tal qual foi descrito por colegas Adam Lanza, 20, apontado pela polícia como autor do massacre na escola de Newtown e que, segundo jornais locais, era portador da síndrome de Asperger, uma forma de autismo.

“Estou dividindo essa história porque sou mãe de Adam Lanza”, compara a escritora. Michael foi internado pela própria mãe depois de ter uma de suas inúmeras crises. “Eu vou me matar. Vou pular do carro agora e me matar”, teria dito ele à Liza, enquanto ela dirigia o carro e o levava à escola após uma discussão.

Semanas antes desse episódio, relembra-se Liza, Michael com uma faca na mão havia ameaçado matá-la e a si mesmo. “Suas irmãs de sete e nove anos já conhecem o plano de segurança – correram para o carro e trancaram as portas, antes mesmo que eu pedisse a elas para fazer isso”, conta.

O conflito teria terminado apenas depois da polícia e paramédicos controlarem Michael em meio à crise de fúria. Mas Liza teria dito ao filho que, se ele dissesse novamente que iria matá-la e se matar, ela o levaria direto ao hospital psiquiátrico.

LOCALIZAÇÃO DA CIDADE

  • Arte UOL

    Newtown é uma cidade com aproximadamente 27 mil pessoas, que fica no condado de Fairfield, no norte do Estado de Connecticut, a 130 km a nordeste de Nova York

“Entrei na pista contrária com o carro e virei à esquerda em vez da direita. ‘Onde você está me levando?’, disse ele, repentinamente preocupado. Você sabe onde estamos indo”, respondeu Liza, que dirigia em direção ao hospital psiquiátrico depois de Michael falar em assassinato e suicídio.

Um assistente social teria dito à Liza que a única saída para o caso de Michael seria apresentar uma queixa contra o próprio filho. “Eles vão criar um ‘rastro de documentos’. Ninguém dará atenção a você a menos que você apresente uma queixa.”

“Ninguém quer mandar o filho de 13 anos, um gênio que ama Harry Potter e sua querida coleção de animais para a cadeia. Mas nossa sociedade, com seu estigma sobre doenças mentais e seu sistema de saúde quebrado, não nos dá outra opção”, critica a escritora.

Tragédia em Sandy Hook

Pouco depois das 9h, a Polícia de Newtown recebeu uma chamada de emergência desconhecida na história recente desta cidade, sobre um tiroteio no colégio Sandy Hook, no qual estudam crianças com idades compreendidas entre 5 e 10 anos.

O jovem Adam Lanza, de apenas 20 anos, matara sua mãe em casa e depois se dirigira de carro até a escola na qual ela dava aula, disparando à queima-roupa contra crianças e adultos até contabilizar 26 vítimas antes de se suicidar.

Trata-se do segundo tiroteio mais sangrento na história dos Estados Unidos, atrás apenas do registrado em 2007 na universidade Virgínia Tech, onde morreram 33 pessoas, e evoca também a matança no instituto de Columbine, no Colorado, em 1999, que terminou com 15 vítimas.

A polícia nos levou para fora da escola e disse para ficarmos de mãos dadas e de olhos fechados

Vanessa Bajraliu, 9 anos, aluna da escola

O drama atingiu uma pequena cidade que já se preparava para as festas de fim de ano enfeitada com luzes brancas e uma grande árvore decorada por seus cidadãos, entre eles María Briscesh, que, assim como outros moradores, buscou refúgio e apoio durante o dia todo nos diferentes centros religiosos locais.

"Estou arrasada. Há três membros da nossa igreja com filhos no colégio e ainda não sabemos se algum deles morreu", relatou à Efe María, de 50 anos, que acudiu, como outros tantos fiéis, à United Methodist Church.

Os templos religiosos ficaram lotados durante o dia todo, e a Igreja Católica Santa Rosa de Lima recebeu à noite centenas de pessoas em uma vigília da qual participaram tanto pais das crianças que sobreviveram ao massacre como moradores, além do governador de Connecticut, Daniel Malloy.

"Muitos de nós vamos confiar hoje e nos próximos dias no que nos ensinaram e no que acreditamos, que é que a fé existe por uma razão", disse Malloy perante uma emocionada igreja na qual se viam fiéis acendendo velas e cantando "Noite de Paz".

Em seu altar foi acesa uma vela por cada uma das vítimas da tragédia e ali serão celebrados ofícios religiosos ao longo deste sábado, da mesma forma que na Trinity Episcopal Church.

"Estou em choque. Não há palavras para descrever o que estamos vivendo. Nunca tinha visto nada igual", explicaram à "Efe" Jeff Powers e sua noiva, Kelly Grogen, que chegaram ao centro religioso depois de visitarem o hospital da cidade de Danbury, para onde foram transferidas muitas das vítimas do tiroteio.

Com a maior parte dos acessos bloqueados pelas autoridades, vários helicópteros sobrevoando-a e dezenas de bombeiros, agentes da Polícia e jornalistas inundando suas ruas, a tranquila Newtown tenta agora superar uma tragédia que a deixou marcada para sempre.

"Esta cidade nunca mais será a mesma", reconheceu à imprensa um devastado morador.