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A máfia tem mais escrúpulos, diz jornalista que revelou o caso Snowden

Do UOL, em São Paulo

19/08/2013 12h58

Glenn Greenwald, jornalista americano que primeiro publicou as revelações de Edward Snowden sobre a espionagem americana, disse em um artigo que "até a Máfia tinha normas éticas contra ameaçar familiares de pessoas por quem se sentia ameaçada". 

"Os fantoches do Reino Unido e seus donos no estado de segurança dos EUA não se constrangem sequer diante desses mínimos escrúpulos."

O artigo de Greenwald, publicado nesta segunda-feira (19) no site do "The Guardian", é uma resposta à detenção de seu namorado pelas autoridades britânicas. No domingo (18), David Miranda, parceiro de Greenwald, foi parado pela polícia britânica e interrogado por nove horas, quando voltava de Berlim para o Rio de Janeiro, onde moram ele e o jornalista.

Miranda fazia escala no aeroporto de Heathrow em seu voo procedente de Berlim com destino ao Rio de Janeiro, onde vive com Greenwald. O brasileiro foi liberado mas seus equipamentos eletrônicos, entre eles o computador, telefone celular, pen-drives, DVDS e jogos eletrônicos foram apreendidos.

Em Berlim, o brasileiro passou uma semana na casa da documentarista americana Laura Poitras, que foi selecionada por Snowden, junto a Glenn Greenwald, para publicar os documentos que trouxeram à tona os programas de espionagem realizados pela Agência de Segurança Nacional americana.

Brasil e Reino Unido cobram explicações

As autoridades britânicas estão sendo criticadas por parlamentares pela detenção durante nove horas do companheiro brasileiro do jornalista. A detenção é “extraordinária”, disse o presidente da Comissão Parlamentar Britânica do Interior, o trabalhista Keith Vaz, que exigirá explicações da polícia.

"Eles sabiam que se tratava do parceiro de Greenwald e, portanto, fica claro que não somente as pessoas envolvidas estão sendo visadas, como também pessoas ligadas aos envolvidos", disse à “BBC”.

"Vou escrever à polícia e pedir explicações, porque deter alguém sob essas circunstâncias e, além disso, confiscar seus pertences mostra um uso diferente da legislação", afirmou. "Eles podem ter uma explicação razoável para isso e, se esse for o caso, então pelo menos saberemos e ficaremos preparados", acrescentou Vaz.

Outro deputado da oposição trabalhista, Tom Watson, considerou indispensável conhecer o eventual envolvimento do governo nesta detenção. “Devemos saber se os ministros estavam cientes da decisão de deter David Miranda e quem tomou concretamente a decisão”, disse Watson.

O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, criticou os "desvios" cometidos em nome do combate ao terrorismo e disse que nesta segunda-feira (19) irá conversar com o chanceler britânico, William Hague, sobre a detenção do parceiro de Greenwald.

A organização de defesa dos direitos humanos Anistia Internacional considera a detenção 'ilegal e imperdoável (...) uma tática revanchista'. A opinião é compartilhada pela organização WikiLeaks, especializada na publicação de documentos secretos, que denunciou 'o abuso por parte das autoridades britânicas da legislação sobre o terrorismo'.

O jornal The Guardian destacou estar 'chocado' com a situação.

O ministério do Interior britânico se recusou nesta segunda-feira a fazer qualquer tipo de declaração, mas as autoridades britânicas estavam cada vez mais pressionadas para dar explicações, após as críticas do governo brasileiro, da Anistia Internacional e de deputados do Parlamento britânico.

A polícia britânica confirmou, por sua vez, os incidentes. "Não foi detido, razão pela qual foi liberado", afirmou um porta-voz.

Miranda pede ação do Senado

O namorado de Greenwald prometeu, ao desembarcar no Brasil, tomar providências sobre sua detenção. Miranda também cobrou ação do Senado.

"Espero que o Senado esteja vendo isso e que faça alguma coisa, porque a gente sabe o que está acontecendo", disse.

Greenwald afirmou nesta segunda-feira que a detenção de seu companheiro foi uma tentativa de intimidação contra seu trabalho. O jornalista prometeu responder com novas denúncias.

"Agora eu sei o caráter verdadeiro desse governo, do governo dos EUA, e por causa disso acho que a reportagem é mais importante do que antes, e eu vou fazer minha reportagem muito mais agressiva do que antes por causa disso", acrescentou. (Com agências internacionais)