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Aldeões de Vanuatu reverenciam príncipe Philip, da Inglaterra, como um deus

Nick Perry

Em Yakel (Vanuatu)

11/06/2015 06h00

Em pé sob sua sagrada figueira-de-bengala, Albi Nagia canta enquanto abre um coco com alguns hábeis golpes com seu facão. Ele mastiga a polpa e a cospe em um chuveiro, para deleite das galinhas.

Ele está rezando para o príncipe Philip. Sim, aquele príncipe Philip, o duque de Edimburgo, marido da rainha Elizabeth 2ª, que celebra seu 94º aniversário na quarta-feira (10).

Na Inglaterra, o ex-oficial naval é conhecido como um entusiasta dos esportes que às vezes é um pouco mal-humorado e com a tendência de dizer a coisa errada. Para várias centenas de pessoas que vivem em um punhado de aldeias remotas na ilha de Tanna, no arquipélago tropical de Vanuatu, no Pacífico, ele é muito mais.

"Aqui em Tanna, nós acreditamos que o príncipe Philip é o filho de nosso Deus, nosso Deus ancestral que vive na montanha", diz Nako Nikien, que prefere atender pelo nome de Jimmy Joseph.

Joseph diz que se tornou uma tradição falar, ou rezar, para Philip a todo anoitecer, quando os aldeões de Yaohnanen e Yakel se reúnem em seus locais de reunião e compartilham a bebida fermentada inebriante feita a partir das plantas kava.

"Nós pedimos a ele que aumente a produção de nosso plantio, que nos dê sol ou chuva", diz Joseph, fazendo uma pausa. "E então acontece."

Essas orações ganharam mais urgência depois da passagem do ciclone Pam por Tanna, em março, matando pelo menos cinco dos 30 mil habitantes da ilha e destruindo casas e plantações.

Tanto Nagia quanto Joseph são membros do movimento príncipe Philip, um culto incomum que se desenvolveu em um lugar onde as pessoas ainda optam por viver como vivem há séculos, em cabanas simples de sapé e vestindo apenas saias de capim, ou um tapa-sexo chamado nambas.

Conhecido como kastom, trata-se de um modo de vida tradicional que está sob ameaça devido ao avanço da civilização ocidental. Seguindo por uma estrada de terra sinuosa e acidentada distante de tudo, as pessoas se sentem livres para viver desse modo, mas quando viajam à principal cidade da ilha para vender os grãos de café que cultivam ou para comprar arroz, elas geralmente vestem roupas.

Joseph diz acreditar que o espírito de Philip, que nasceu na Grécia, vem de Tanna e que algum dia voltará. Nesse dia, ele diz, os peixes saltarão do mar e a vida se tornará eterna. Ele diz não se preocupar com o fato de Philip estar com idade avançada e que poderá morrer em breve.

"O movimento continuará", ele diz. "E, na minha opinião, e segundo aquilo em que acreditamos, o espírito do príncipe Philip não morrerá."

Não está claro como o movimento começou. Parece que ele cresceu nos anos 60, como uma ramificação ou rival de outro movimento incomum na ilha, o culto à carga John Frum. Esse culto teve início nos anos 30 e ganhou novo impulso quando militares americanos foram posicionados em Vanuatu durante a Segunda Guerra Mundial.

Os seguidores acreditam que o misterioso John Frum algum dia voltará de longe e trará riqueza material e espiritual. Eles adotaram símbolos como a bandeira americana e marcham uma vez por ano, ao estilo militar, carregando imitações de fuzil feitos de varas de bambu.

Joseph diz que o movimento John Frum surgiu em um momento difícil, enquanto os anciãos tentavam se agarrar às crenças e profecias tradicionais, mas eram ridicularizados e presos por causa delas à medida que o cristianismo avançava.

O movimento príncipe Philip ganhou força quando Philip e a rainha visitaram Vanuatu em 1974 no iate real Britannia, apesar de o príncipe nunca ter colocado os pés na ilha de Tanna. Os anciões posteriormente enviaram um bastão de Tanna para Philip, que então enviou de volta uma foto dele segurando o bastão, o que os anciões tomaram como mais um sinal de que era Ele.

Lamont Lindstrom, um professor de antropologia da Universidade de Tulsa, em Oklahoma, disse que as pessoas de Tanna tradicionalmente falam com uma série de espíritos e podem aumentar sua estatura na sociedade por meio de histórias e profecias.

"As pessoas acreditam em tudo e em nada", ele diz.

Lindstrom disse que apesar do movimento príncipe Philip poder ter começado organicamente, ele pode ter sido encorajado pelos oficiais britânicos posicionados em Vanuatu, que o viam como um contraponto para o movimento John Frum, cuja inspiração vinha da França e dos Estados Unidos.

Nos últimos anos, o movimento príncipe Philip pode ter sido estimulado de novo pelo Ocidente. Nagia e Joseph estavam entre os cinco nativos que, em 2007, foram levados para a Inglaterra pelo reality show britânico "Meet the Natives". Os cinco se encontraram com Philip de forma privada no Castelo de Windsor.

"Conhecê-lo foi maravilhoso", diz Joseph. "É como estar no mundo espiritual."

Ele diz que os chefes da aldeia queriam que os cinco fizessem a Philip uma pergunta específica, na forma de uma alegoria, mas eles acabaram fazendo a pergunta errada. Eles perguntaram: "O mamão estava maduro?". Joseph diz que Philip respondeu: "É frio demais na Inglaterra".

Joseph diz que apenas os chefes podem decifrar qual era a alegoria envolvendo a fruta tropical. Mas na opinião dele, ele diz, é que ainda não era hora de Philip visitar Tanna.

Um pequeno número de forasteiros curiosos continua visitando estas aldeias remotas, o que pode ajudar a sustentar o movimento e encorajar o modo de vida ancestral. Um desses forasteiros é Jerzy Grebosz, um cientista da computação e físico nuclear polonês, que costuma passar suas férias em Yakel, vestindo apenas sandálias e um nambas.

"Para mim, viajar no espaço é óbvio, sou da Europa. Mas viajar no tempo –-é como voltar 2 mil anos com esta experiência", ele diz. "Conhecer estas pessoas, conversar com elas, compartilhar seus problemas, às vezes ajudá-los. Você realmente toca a cultura por dentro. Assim, fico feliz por me considerarem um amigo."

Entretanto, o ocidental que muitos realmente querem ver nunca veio.

"Philip, seu pai viveu aqui", diz Nagia, apontando para a montanha. "Nós fomos à Inglaterra visitar você. Você precisa vir. Nós amamos você."