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"Me dê a lista dos presos políticos, e os soltarei", desafia Castro

Do UOL, em São Paulo

21/03/2016 16h07Atualizada em 21/03/2016 21h02

O presidente de Cuba, Raúl Castro, respondeu em tom de desafio ao ser questionado por jornalistas sobre por que não libertava os prisioneiros políticos cubanos, em entrevista coletiva que deu ao lado do líder americano, Barack Obama, nesta segunda-feira (21), em Havana.

"Essa é uma nova direção para seu país, por que você mantem prisioneiros políticos e por que não os liberta?", perguntou um jornalista estrangeiro durante a coletiva. 

"Me dê uma lista e os libertarei", respondeu Castro, sugerindo que Cuba não tem nenhum. "Se você tiver esses presos políticos, eles serão libertados antes do fim da noite."

Castro afirmou que não há nenhum país no mundo que respeite todos os direitos humanos e exaltou os que a ilha promove, como o direito à educação gratuita, à saúde e à igualdade salarial entre homens e mulheres.  "Não se pode politizar o tema dos direitos humanos. Vamos trabalhar para que todos os países cumpram todos", declarou o mandatário, admitindo que Cuba, assim como outros Estados, não respeita a lista inteira. 

Momentos mais tarde, a pergunta é repetida.

Em tom irritado, Castro volta a dizer: "Não posso falar de presos em termos genéricos. Me dê nomes." Em seguida, a entrevista foi encerrada.

20.mar.2016 - Policiais femininas prendem uma das integrantes das Damas de Branco, grupo dissidente que luta pela libertação de presos políticos em Cuba, durante protesto em Havana horas antes da chegada de Obama - Rebecca Blackwell/AP - Rebecca Blackwell/AP
Policiais femininas prendem uma das integrantes das Damas de Branco horas antes da chegada de Obama
Imagem: Rebecca Blackwell/AP

Às vésperas da chegada de Obama -- a primeira visita de um presidente americano à ilha em 88 anos --, o regime cubano empreendeu um endurecimento contra dissidentes.

Apenas horas antes de que o Air Force One pousasse em Havana, dezenas de detenções ocorreram na marcha semanal das Damas de Branco, um importante grupo dissidente.

"Pensamos que haveria uma trégua, mas não aconteceu", disse Elizardo Sánchez, diretor da Comissão Cubana de Direitos Humanos e Reconciliação Nacional, ao "NYT". Ele comentou que as prisões aconteceram "no momento em que Obama voava para Cuba".

No sábado, o próprio Sánchez foi detido durante três horas e meia no aeroporto de Havana. Ele disse que foi separado de sua mulher, colocado em uma sala fria e sem janelas e informado de que não estava "detido", mas "retido".

Ele conta que não teve autorização nem para telefonar para a família.

Na terça-feira, Obama se encontrará com dissidentes, incluindo a líder das Damas de Branco, Berta Soler, e Sánchez. 

Na coletiva ao lado de Castro, Obama disse que ambos concordaram em manter um diálogo sobre a questão de direitos humanos em Cuba. (Com agências internacionais)