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EUA precisam analisar seu papel em ditaduras da América Latina, diz Obama

O presidente dos EUA, Barack Obama, joga flores no rio da Prata, enquanto visita com o presidente argentino, Mauricio Macri, o Parque da Memoria, em homenagem às vítimas da ditadura argentina no aniversário de 40 anos do golpe militar no país - Carlos Barria/Reuters
O presidente dos EUA, Barack Obama, joga flores no rio da Prata, enquanto visita com o presidente argentino, Mauricio Macri, o Parque da Memoria, em homenagem às vítimas da ditadura argentina no aniversário de 40 anos do golpe militar no país Imagem: Carlos Barria/Reuters

Do UOL, em São Paulo

24/03/2016 11h40Atualizada em 24/03/2016 19h40

Quarenta anos após o golpe militar na Argentina, o presidente dos EUA, Barack Obama, afirmou nesta quarta-feira (24) durante visita ao país que os EUA precisam "analisar o passado" que o levou a apoiar ditaduras na América Latina e "serem responsáveis pelo futuro".

"É isso que vamos fazer", acrescentou, confirmando a retirada do sigilo de mais documentos americanos sobre o período

Há controvérsias sobre as políticas dos Estados Unidos no início destes tempos sombrios", disse Obama após visita ao Parque da Memória, em Buenos Aires, ao lado do presidente argentino, Mauricio Macri.

"Democracias precisam ter coragem para reconhecer quando não cumprem os ideais que representam, e fomos lentos em falar sobre direitos humanos, e foi o caso aqui".

A declaração foi feita em evento de homenagem às cerca de 30 mil vítimas da ditadura argentina, cujo golpe completa 40 anos nesta quinta.

Obama insistiu para que "se cumpra a promessa do nunca mais", duas palavras que expressou em espanhol e que encerraram o caso contra as juntas militares do regime ditatorial no julgamento de 1985, que condenou à prisão perpétua dois comandantes.

Obama fez alusão à luta de organizações como as Mães e Avós da Praça de Maio em busca da verdade sobre o terrorismo de Estado, ao qual atribuem cerca de 30.000 desaparecimentos, incluindo de 500 bebês, dos quais apenas 119 foram encontrados até hoje."Essas famílias, suas incessantes e constantes ações, fizeram a diferença. Vocês fizeram incríveis esforços para responsabilizar aqueles que perpetraram esses crimes", disse Obama.

Marcha pela Memória

O dia 24 de março é conhecido como o Dia da Memória na Argentina, e marchas foram convocadas para dizer "nunca mais" em várias partes do país.

Em um exercício de diminuir as tensões nesta nação de fortes sentimentos anti-americanos, Washington antecipou a desclassificação de arquivos militares e de inteligência que podem ajudar na busca pela verdade sobre pessoas desaparecidas.

Obama declarou nesta quinta-feira que, "a pedido do presidente Macri, desclassificaremos mais documentos da ditadura".

"Foi um gesto positivo", consideraram em uníssono líderes como Estela de Carlotto, presidente das Avós da Praça de Maio, e o Nobel da Paz argentino Adolfo Pérez Esquivel.

A última visita de um presidente dos Estados Unidos à Argentina foi a de Bill Clinton em 1997, quando os militares contavam com a proteção de duas leis de anistia e a questão da ditadura não foi incluída na agenda.

O ex-presidente Nestor Kirchner (2003/2007) impulsionou a anulação das leis de anistia e a retomada dos julgamentos por crimes contra a Humanidade, o que levou a centenas de condenações vinculadas a este período negro na história da Argentina.

A visita oficial de Obama se encerra nesta quinta-feira, após uma visita a Bariloche, 1.650 km ao sudoeste da capital. Ele retorna a Buenos Aires para pegar o avião que o levará de volta a Washington depois da meia noite. (Com agências internacionais)