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Morre estudante que foi libertado em coma pela Coreia do Norte

29.fev.2016 - Otto Warmbier conversa com a imprensa da Coreia do Norte após sua prisão - Kim Kwang Hyon/AP
29.fev.2016 - Otto Warmbier conversa com a imprensa da Coreia do Norte após sua prisão Imagem: Kim Kwang Hyon/AP

Do UOL, em São Paulo

19/06/2017 17h53Atualizada em 19/06/2017 20h48

O estudante americano Otto Warmbier, de 22 anos, morreu em Ohio. O jovem havia sido libertado pela Coreia do Norte e voltou aos EUA em coma.

A informação foi dada pela família em comunicado divulgado pelo hospital onde estava Warmbier, na tarde desta segunda-feira (19).

A família agradeceu ao Centro Médico da Universidade de Cincinnati onde o jovem foi tratado. "Infelizmente, o tratamento horrível e torturante recebido pelo nosso filho nas mãos dos norte-coreanos assegurou que nada pudesse ser feito além da tristeza que experimentamos hoje", diz o comunicado da família.

Eles também disseram que escolheram focar no tempo que passaram juntos com seu " querido, envolvido e brilhante" filho ao invés de focar na sua perda.

Os médicos disseram que ele retornou aos EUA com "danos neurológicos graves", mas não está claro o que teria provocado a situação.

Otto Warmbier, 22, que estava detido na Coreia do Norte, foi extraditado na última terça-feira (13). Otto havia sido preso em janeiro de 2016 no aeroporto de Pyongyang pouco antes de pegar o voo para sua casa nos Estados Unidos.

Segundo seus pais, Fred e Cindy Warmbier, o estudante estava em coma desde março do ano passado --sem contato direto com ele, a família ficou sabendo de sua real condição há apenas uma semana.

Otto Warmbier - Sam Greene/The Cincinnati Enquirer via AP - Sam Greene/The Cincinnati Enquirer via AP
13.jun.2017 - Em coma, o americano Otto Warmbier é retirado de avião ao desembarcar em Cincinnati, nos EUA
Imagem: Sam Greene/The Cincinnati Enquirer via AP

Na quinta-feira (15), o americano Fred Warmbier, pai do estudante, se disse "aliviado e com raiva" após ter recebido o filho, em Cincinnati (Ohio).

Warmbier falou sobre como a família recebeu o filho e batalhou por sua libertação. Ele havia sido preso no aeroporto de Pyongyang, quando deixaria o país, sob a acusação de tentar roubar um cartaz de propaganda do regime norte-coreano. Otto havia sido sentenciado a 15 anos de trabalho forçado pela acusação de cometer "atos hostis" contra o regime.

Fred Warmbier disse que o filho jogava futebol e se formou em 2013 na escola onde foi realizada a entrevista para os jornalistas na quinta-feira. Vestido com o mesmo paletó que seu filho usou quando foi julgado na Coreia do Norte, Warmbier se emocionou ao homenageá-lo.

"Estamos orgulhosos por sermos uma família feliz e positiva. E vamos continuar assim. Estamos felizes que nosso filho está em solo americano e posso falar a vocês em nome dele. Otto, te amo e sou louco por você, você é um cara incrível", declarou o pai. "Estou orgulhoso dele e da coragem que ele mostrou nas condições brutais da Coreia do Norte. O fato de ter sido tratado assim é horrível e difícil de processar."

Segundo ele, o filho ouviu de amigos que haviam visitado o país por meio de uma agência de viagens que leva turistas à Coreia do Norte que não havia risco. "Ele queria ir. Nas propagandas, sempre dizem que o tour é seguro, que não vai acontecer nada com os americanos que vão para lá. Mas a verdade é que Otto foi levado como refém."

Fred Warmbier, pai de Otto Warmbier - AP Photo/John Minchillo - AP Photo/John Minchillo
Fred Warmbier, pai de Otto Warmbier
Imagem: AP Photo/John Minchillo

"Não ouvimos falar sobre Otto desde março de 2016", disse Warmbier, sobre a falta de informações fornecidas pelo regime norte-coreano. "Não havia nenhuma comunicação."

Ele relatou ter se encontrado com diversos políticos e membros do governo americano --como John Kerry, secretário de Estado do segundo governo de Barack Obama--, sob "a falsa premissa de que a Coreia do Norte trataria Otto de forma justa". "Na verdade, ele foi tratado como um prisioneiro de guerra."

De acordo com o pai, a família recebeu conselhos de que mantivesse a luta para trazer o filho de volta longe dos holofotes, para evitar atitudes que o regime norte-coreano entendesse como provocação. Mas, ao perceber a falta de resultados, a família resolveu começar a dar entrevistas, em maio do ano passado. Pouco tempo depois, ocorreu a libertação.

Questionado se sentia que o governo Obama não havia feito o suficiente para conseguir a libertação de Otto, Warmbier respondeu, mostrando resignação: "acho que os resultados falam por si".

Ele também disse não acreditar em nada que é divulgado pelo governo da Coreia do Norte com relação à prisão de seu filho. Eles são brutais e terroristas. Vemos o resultado de suas ações", declarou.

Ao rebater a acusação de que o filho agia a mando de uma igreja protestante de Ohio, conforme acusado pela Coreia do Norte, o pai disse que o estudante nunca fez parte da igreja em questão.

Trump

Warmbier também contou como foi a conversa com Donald Trump, por telefone, após a chegada do filho. "Ele foi gentil. Perguntou como estávamos indo, a situação do Otto, contou um pouco do duro trabalho de negociação que ele e o [secretário de Estado] Rex Tillerson tiveram [para conseguir a libertação]."

"Eu estava evitando conversar com ele [Trump], porque para mim isso dizia respeito apenas a meu filho. Acabei aceitando e ele foi amável, o agradeço por isso."

Ao saber da morte, Trump, que participava de uma reunião com o Conselho Americano de Tecnologia, disse que a Coreia do Norte é um "regime brutal".

Em comunicado divulgado mais tarde, Trump atacou a falta de "decência" da Coreia do Norte. "O destino de Otto aumenta a determinação de meu governo de prevenir tais tragédias de inocentes que caem nas mãos de regimes que não respeitam as leis ou a decência humana básica", disse.

Trump e a primeira-dama dos EUA, Melania Trump, expressaram suas condolências à família de Warmbier e afirmaram que "não há mais trágico para um pai que perder um filho na melhor fase da vida".

"Os EUA condenam mais uma vez a brutalidade do regime norte-coreano", afirmou Trump.