Morre Simone Veil, ícone da luta pelos direitos das mulheres na Europa
A primeira mulher eleita presidente do Parlamento Europeu em 1979, Simone Veil, considerada símbolo da luta pelos direitos das mulheres após legalizar o aborto na França em 1974 como ministra da Saúde, morreu nesta sexta-feira (30) aos 89 anos, anunciou sua família.
Veil sobreviveu durante sua adolescência ao campo de extermínio nazista de Auschwitz. Nascida em Nice em 1927, em uma família de judeus não praticantes, foi detida pela Gestapo em 1944, assim como boa parte de seus familiares. Seu pai e seu irmão foram levados para um país báltico e nunca mais foram encontrados.
De volta à França, Veil estudou direito e trabalhou como funcionária do alto escalão na magistratura até que, em maio de 1974, o presidente recém-eleito, Valéry Giscard d'Estaing, a nomeou ministra de Saúde, um cargo em que ficou marcada, sobretudo pela conhecida "lei Veil", que despenalizou a interrupção voluntária da gravidez.
Na defesa dessa lei no parlamento, Simone enfrentou uma oposição particularmente dura da direita, com alguns deputados que chegaram a acusá-la de apoiar o genocídio e de comportamento similar ao dos nazistas. Um dos deputados contrários à lei chegou a dizer que Veil queria "enviar crianças para o forno", comentário que a fez chorar.
Entre 1979 a 1982, Veil presidiu o Parlamento Europeu, na primeira vez em que seus integrantes foram eleitos por sufrágio universal.
"A ideia da guerra era algo terrível para mim", disse Veil em uma entrevista à Associated Press em 2007. "A única opção possível era fazer a paz". Sua própria ascensão de uma antiga deportada para líder do Parlamento Europeu foi um símbolo potente daquela almejada paz, ela disse
Simone voltou a ocupar um cargo ministerial como titular de Saúde e Assuntos Sociais no governo do primeiro-ministro Edouard Balladur entre 1993 e 1995, foi membro do Conselho Constitucional entre 1998 e 2007, e entrou para a Academia francesa em 2008.
Em uma das primeiras reações à sua morte, o presidente francês, Emmanuel Macron, em uma mensagem no Twitter, ofereceu seu pesar à família e disse esperar que Simon Veil "possa inspirar com seu exemplo" os franceses, a encontrar "o melhor da França".
Já o atual líder do Parlamento Europeu, Antonio Tajani, afirmou que a Europa "perde uma grande mulher e uma de suas protagonistas".
"Ela deixou um sinal na história da Europa, dando uma forte contribuição à unidade e ao reforço das instituições democráticas. O seu ensinamento deve inspirar e nos forçar a fazer mais na Europa e no mundo até não haver mais discriminações nas relações com as mulheres", acrescentou Tajani.
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