De atriz a lavradora, capa da Time traz vítimas de assédio como "personalidades do ano"
Vítimas e denunciantes de assédio sexual, que em 2017 motivaram a campanha #MeToo ("eu também") - disseminada nas redes sociais na esteira da revelação dos casos envolvendo o produtor de Hollywood Harvey Weinstein - foram escolhidas nesta quarta-feira (6) as personalidades do ano pela revista americana "Time".
"As ações encorajadoras das mulheres em nossa capa, assim como de centenas de outras e também de homens, desencadearam uma das mudanças mais rápidas em nossa cultura desde a década de 1960. A rede social agiu como um acelerador poderoso: a hashtag #MeToo já foi usada milhões de vezes em pelo menos 85 países", justifica a revista no editorial assinado pelo editor-chefe Edward Felsenthal.
"Por darem voz a segredos, por vencerem a rede de fofocas e chegarem às redes sociais, por forçarem todos nós a parar de aceitar o inaceitável, aquelas que romperam o silêncio são as personalidades do ano", acrescenta,o editorial. "As raízes deste prêmio - identificar a ou as pessoas que mais influenciaram os eventos do ano - são baseadas na teoria histórica do 'grande homem', uma expressão que nunca pareceu tão anacrônica."
Muitas personalidades caíram em desgraça pela onda de acusações nas últimas semanas. Entre os nomes mais conhecidos estão, além de Weinstein, o ator Kevin Spacey, os jornalistas Charlie Rose e Matt Lauer, o maestro James Levine, o fotógrafo de moda Terry Richardson, e os congressistas americanos Al Franken (senador democrata) e John Conyers (deputado democrata), de 88 anos, que renunciou na terça-feira.
Já o republicano Ray Moore, candidato ao Senado acusado por várias mulheres de assédio sexual - inclusive quando as vítimas eram adolescentes, nas décadas de 1960 e 1970 -, recebeu o apoio de Trump na disputa eleitoral com o democrata Doug Jones, marcada para a próxima terça (12). O caso, no entanto, dividiu os próprios republicanos.
"Acerto de contas"
"Virou uma hashtag, um movimento, um acerto de contas. Mas começou, como quase todas as grandes mudanças sociais, com atos individuais de coragem", diz a "Time" ao justificar a escolha. "A atriz [Judd] que veio a público com a história da "coerção por barganha" do magnata do cinema Harvey Weinstein em uma suíte de um hotel em Beverly Hills duas décadas antes. A lavradora [Pascual] que ouviu essa história e decidiu contar a sua", enumera a revista..
"A jovem engenheira [Fowler] cujo post sobre a cultura 'frat-boy' [machista] na empresa mais ascendente do Vale do Silício [Uber] causou a demissão de seu fundador e outros 20 funcionários. A lobista da Califórnia [Iwu] cuja campanha encorajou mais de 140 mulheres na política a exigir que os governos 'não tolerassem mais os executores e facilitadores' da má conduta sexual. Um depoimento cru e desafiador de uma superestrela da música [Swift] sobre o DJ que a assediou", define a revista.
Na matéria, além das cinco mulheres, aparecem outros personagens em destaque, também fotografados pela revista: as atrizes Alyssa Milano (que popularizou a campanha #MeToo com um post no Twitter), Rose McGowan e Selma Blair; a ativista Tarana Burke (que cunhou a expressão "eu também"); as jornalistas Wendy Walsh, Megyn Kelly Sandra Muller e Lindsey Reynolds; a empresária Lindsey Meyer; a camareira Juana Melara; a curadora de arte Amanda Schmitt; sete mulheres que acusaram o Plaza Hotel, em Nova York, de não coibir o assédio; a assessora do Senado Sara Gelser; o ator Terry Crews; o diretor Blaise Gogbe Lipman; a ex-lavadora de pratos Sandra Pezqueda; duas professoras de faculdade e duas mulheres anônimas, funcionárias de um escritório e um hospital.
Post de Alyssa Milano que popularizou a campanha: "Eu também. Sugerido por uma amiga: 'Se todas as mulheres que foram assediadas ou abusadas sexualmente escrevessem 'eu também', talvez as pessoas percebessem a magnitude do problema'." A atriz acrescenta: "Se você também foi assediada ou abusada sexualmente, escreva 'eu também' como uma resposta a esse tweet".
Após polêmica com a revista, Trump fica em segundo lugar
Depois de ser escolhido no ano passado, o presidente norte-americano, Donald Trump, ficou em segundo lugar. No último dia 24, Trump tuitou que havia recebido uma ligação da "Time" com a informação de que "provavelmente" seria eleito novamente a personalidade do ano, desde que participasse de uma sessão de fotos para o artigo. Trump disse que negou o pedido das fotos porque "provavelmente não era bom [o suficiente]".
A "Time" já havia negado a afirmação do presidente, e nesta quarta-feira a revista reafirmou que não foi dada nenhuma garantia a Trump sobre quem seria o escolhido e negou ter estipulado condições para que ele participasse das fotos.
Na sequência da lista apareceu o líder chinês Xi Jinping, que viu seu poder aumentar na China após o congresso do Partido Comunista, em outubro; o procurador independente Robert Mueller, que comanda a investigação sobre a suposta influência russa na eleição de Trump em 2016; o ditador norte-coreano Kim Jong-un; o jogador de futebol americano Colin Kaepernick, que foi pivô de um debate sobre racismo no país e hoje está sem equipe; e Patty Jenkins, do filme "Mulher-Maravilha", primeira mulher a dirigir um filme que faturou mais de 100 milhões de dólares no fim de semana de estreia.
Também haviam sido indicados Mohammed bin Salman (príncipe herdeiro e ministro da Defesa da Arábia Saudita),Jeff Bezos, CEO da Amazon, que se tornou o homem mais rico do mundo em 2017, e "os Sonhadores" ("Dreamers"), os filhos de imigrantes ilegais que foram trazidos aos EUA quando crianças e são personagens centrais no contexto do endurecimento do governo Trump em relação aos imigrantes.
A designação da "personalidade do ano" é uma tradição anual da revista Time desde 1927. A figura escolhida aparece na capa da edição de fim de ano da publicação.
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