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Mesmos passos? O que a Oprah lembra o Trump antes de se tornar candidato

Donald Trump (esq.) e Oprah Winfrey - Evan Vucci/AP e Paul Drinkwater/NBC/Reuters
Donald Trump (esq.) e Oprah Winfrey Imagem: Evan Vucci/AP e Paul Drinkwater/NBC/Reuters

Do UOL, em São Paulo

11/01/2018 18h27

Um discurso inflamado e Oprah Winfrey se tornou a nova aposta presidencial norte-americana, uma eleição que só vai ocorrer em 2020. O nome da apresentadora de televisão já havia sido aventado para a Casa Branca em outras ocasiões, devido à sua popularidade, mas suas palavras durante a cerimônia do Globo de Ouro no domingo (7) levaram as apostas a outro patamar.

Há um contexto para tanto: em meio ao avanço de um discurso conservador, por vezes racista e sexista, em boa parte impulsionado pelo atual presidente, Oprah é uma das figuras que mais rivaliza com Donald Trump - ele também vindo do mundo do entretenimento. E comparando o cenário atual com o de 2014, três anos antes de Trump ser eleito, não é um absurdo levantar a bola neste momento.

Na época, o atual presidente sondava sua candidatura, como já havia feito em outras ocasiões. Enquanto ia à mídia para criticar a administração Obama, tocava seus negócios bilionários e apresentava pela última vez o programa "O Aprendiz", na rede de televisão NBC. No ano seguinte, ele renunciaria ao reality para lançar sua candidatura. 

Assim como Trump, Oprah é uma "outsider" da política, mas tem a seu favor o fato de ser um nome midiático, conhecido do grande público graças a anos de exposição televisiva. Também assim como Trump, é uma figura influente politicamente e dona de uma grande fortuna, capaz de bancar uma corrida presidencial. De acordo com a Bloomberg, Oprah possui atualmente um patrimônio superior ao do presidente: US$ 3,7 bilhões, ante US$ 2,9 bilhões dele. 

Trump pareceu topar o desafio e, quando questionado por um jornalista sobre a corrida presidencial para 2020, respondeu que "será divertido" ganhar de Oprah. No entanto, disse, não acredita que ela irá de fato se candidatar.

Oprah apoiou a candidatura de Barack Obama para a presidência - Darren McCollester/Getty Images - Darren McCollester/Getty Images
Oprah apoiou a candidatura de Barack Obama para a presidência
Imagem: Darren McCollester/Getty Images

Trump x Oprah

Oprah, 63, foi homenageada no Globo de Ouro com o troféu Cecil B. DeMille. O prêmio, que leva o nome do primeiro diretor de cinema a receber a condecoração, é entregue a pessoas que tenham dado "contribuições significativas ao mundo do entretenimento".

A apresentadora de televisão está nesse mundo desde os anos 1970, quando começou a trabalhar em uma estação de rádio. Ela nasceu na zona rural de Mississippi e foi criada por sua mãe solteira, que engravidou ainda adolescente e trabalhava como empregada doméstica.

A desenvoltura e passionalidade da voz de Oprah na rádio a levaram à cena do talk-show matinal americano - revolucionada por ela posteriormente. Com "The Oprah Winfrey Show", que durou de 1986 a 2011, tornou-se uma das pessoas mais influentes dos Estados Unidos, além da pessoa negra mais rica do país. O programa estabeleceu um tom mais intimista e popular na grade horária televisiva, tornando-se referência na televisão mundial.

Trump, 71, por sua vez, não é exatamente um "self-made man". O republicano nasceu e foi criado em Nova York, sendo a terceira geração de uma família de empresários. A partir da década de 1970, assumiu os negócios imobiliários do clã, renomeando a organização com o nome da família.

Mas o empresário foi além e tornou-se também um magnata da mídia, produzindo e estrelando o reality show "O Aprendiz", de 2003 a 2015. O programa girava em torno de jovens tentando se sair bem no mundo dos negócios e fez de Donald Trump uma figura popular entre o público americano - conhecido pelo bordão: "você está demitido". Ele também foi dono, por um período, dos concursos de beleza Miss Universo.

Boa parte do que torna uma possível candidatura de Oprah tão palpável é o fato de Donald Trump já ter derrubado a barreira entre a política e o entretenimento. Mas se, por um lado, a exposição midiática parece ser um fator positivo à candidatura, por outro, especialistas cogitam que a população americana rejeitaria outra celebridade na Casa Branca. A edição de terça-feira (9) do tabloide "New York Post" trazia esse questionamento em sua capa: "NOPRAH! Precisamos mesmo de outro presidente celebridade?".

Aspirações políticas

Antes de qualquer aspiração política real, Oprah e Trump já manifestavam abertamente suas predileções.

Oprah foi uma grande apoiadora da candidatura de Barack Obama - pesquisas atribuem a ela, inclusive, a vitória de Obama nas primárias democratas, ante a opositora Hillary Clinton. Oito anos mais tarde, em 2016, ela apoiou a candidatura de Hillary, mas com menos sucesso. Até o Globo de Ouro, no entanto, nunca havia demonstrado interesse em ela mesma concorrer à presidência - embora a ideia já tenha sido levantada por admiradores em outras ocasiões.

Capa do tabloide 'Daily News' em 1999 mostra Trump como presidente e Oprah como sua possível vice - Reprodução - Reprodução
Capa do tabloide 'Daily News' em 1999 mostra Trump como presidente e Oprah como sua possível vice
Imagem: Reprodução

Trump, por sua vez, demonstrou suas ambições políticas desde a década de 1980 - quando veiculou em três grandes jornais americanos anúncios criticando a estratégia de defesa internacional norte-americana. Curiosamente, quando cogitou candidatar-se a presidente em 1999, na época pelo Partido Reformista, disse em entrevista a Larry King que escolheria Oprah de vice. "Eu adoro a Oprah, seria sempre minha primeira opção", comentou na ocasião. 

Durante todo o governo Obama, foi um crítico ferrenho e responsável por espalhar o boato que mais perturbou a administração: o de que o então presidente não era americano, mas sim queniano. A insistência do empresário sobre o tema obrigou a Casa Branca a divulgar a certidão de nascimento de Obama, a fim de encerrar o assunto.

O nome de Trump foi levantado para a corrida a governador de Nova York em 2014, ao que ele disse não ter interesse. Uma pesquisa eleitoral ainda assim feita à época pelo Instituto Quinnipiac mostrava que o empresário perderia a peleja para o opositor Andrew Cuomo, por 63% ante seus 26%.

Também em 2014 - quando faltavam exatos três anos para as eleições presidenciais, tal como agora - Trump disse em entrevista ao site  Boston.com "não estar pensando ainda nas eleições de 2016". A afirmação foi feita em New Hampshire, em um evento tradicionalmente conhecido para políticos demonstrarem suas intenções de candidatura.

Em fevereiro de 2015, ele não topou participar uma nova temporada de "O Aprendiz", por estar se preparando para seu futuro político. A candidatura para as eleições de 2016 foi anunciada em junho daquele ano.

Oprah até agora não demonstrou oficialmente interesse em concorrer às eleições de 2020, apesar das muitas especulações, demonstrações de apoio e críticas já feitas nos últimos dias, pós-discurso no Globo de Ouro. Uma pesquisa eleitoral feita pelo instituto Rasmussen mostra, porém, que ela tem dez pontos percentuais de vantagem sobre o atual presidente, caso a ideia se concretize.