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Agente nervoso foi usado para tentar matar ex-espião russo, diz polícia

9.ago.2006 - Imagem de vídeo mostra Sergei Skripal durante audiência em tribunal militar em Moscou, Rússia - RTR via Reuters
9.ago.2006 - Imagem de vídeo mostra Sergei Skripal durante audiência em tribunal militar em Moscou, Rússia Imagem: RTR via Reuters

Do UOL, em São Paulo

07/03/2018 15h02

Um agente nervoso foi usado para tentar matar um ex-espião russo e sua filha, disse a polícia britânica nesta quarta-feira (7). Segundo a Scotland Yard, o caso está sendo tratado como tentativa de assassinato. Para a polícia, a tentativa de envenenamento foi "proposital".

Sergei Skripal, de 66 anos, e sua filha Julia, de 33, permanecem internados em um hospital de Salisbury, em Wilthsire, depois que foram encontrados inconscientes no domingo perto de um shopping dessa cidade.

"Isto está sendo tratado como um incidente maior envolvendo tentativa de assassinato por administração de agente nervoso", disse Mark Rowley, chefe da Polícia de Contraterrorismo.

Um policial que foi um dos primeiros a atender ao chamado no local está em situação crítica no hospital, acrescentou Rowley.

Rowley não confirmou qual substância exata foi identificada. Também disse que não há evidências de um risco generalizado para a saúde da população.

Skripal era um agente duplo por ter colaborado para o serviço de espionagem britânico MI6 e vivia refugiado em Salisbury.

O ex-espião, segundo a imprensa britânica, foi um ex-coronel da espionagem militar da Rússia, condenado em 2006 a 13 anos de prisão por alta traição, após ser processado por ter colaborado durante anos com o MI6.

Skripal, um coronel russo que passou informações ao serviço secreto britânico, foi preso na Rússia, mas depois foi incluído em uma troca de espiões no aeroporto de Viena em 2010 e morava no Reino Unido desde então.

Apesar das autoridades insistirem para evitar apontar culpados, desde que a notícia do envenenamento surgiu as suspeitas recaíram sobre o Kremlin.

"Precisamos manter a cabeça fria e garantir que coletemos toda a evidência que pudermos para ter certeza que não iremos responder a rumores", disse a ministra do Interior, Amber Rudd, após liderar reunião do comitê de emergência do governo.. "Então, precisaremos decidir qual ação tomar".

A polícia de contraterrorismo está comandando o inquérito e o principal laboratório militar de pesquisa do país, localizado em Porton Down, está tentando identificar a substância que deixou Skripal, de 66 anos, e sua filha inconscientes.

O envenenamento levou o secretário britânico das Relações Exteriores, Boris Johnson, a dizer na terça-feira (6) que, se a Rússia estiver por trás do incidente, o Reino Unido pode voltar a cogitar sanções e adotar outras medidas para punir o que ele descreveu como um Estado "maligno e perturbador".

Moscou negou qualquer envolvimento, repreendeu Johnson pelos comentários "agressivos" e disse que a histeria anti-Rússia está sendo atiçada intencionalmente para prejudicar as relações com Londres.

Litvinenko, outro espião russo que se tornou inimigo do Kremlin, morreu em 2006 após uma intensa agonia provocada por envenenamento. Agentes russos colocaram polônio em seu chá em Londres, no que foi considerado o primeiro caso de terrorismo nuclear.

O precedente Litvinenko - a investigação concluiu que o presidente Vladimir Putin possivelmente estava a par - e as suspeitas que cercam as mortes no Reino Unido de outros inimigos do Kremlin, como a do bilionário russo Alexander Perepilichnyy, levaram muitas pessoas a estabelecer comparações.

A resposta de Londres na época se limitou a impor sanções aos dois suspeitos do assassinato de Litvinenko, que nunca foram julgados e retornaram à Rússia. Não houve represálias nas mais elevadas esferas, apesar da investigação ter apontado para Putin.

Andrei Lugovoi, um dos suspeitos do assassinato de Litvinenko, atualmente deputado na Rússia, acusou o Reino Unido de "fobias" e afirmou que o envenenamento de Skripal poderia ser usado para prejudicar a imagem da Rússia a poucos dias da eleição presidencial.