Com vitória certa, Putin tenta reverter ameaça de baixo comparecimento nas urnas
As eleições presidenciais na Rússia, que acontecem neste domingo (18), já tem um vencedor: o atual presidente, Vladimir Putin, que comanda o país há 18 anos. A única incerteza para o Kremlin é se Putin alcançará o seu objetivo de obter 70% dos votos e 70% de comparecimento nas urnas diante da ameaça de baixo comparecimento. E o que acontecerá se o Kremlin não conquistar a sua meta? Nada em um primeiro momento, mas sua legitimidade pode se colocada em jogo no futuro.
De acordo com a consultoria Eurasia Group, números inferiores aos esperados por Putin poderiam semear dúvidas indesejáveis sobre a capacidade do presidente de dominar o teatro da política russa, e existiria o risco de as elites que o apoiam considerarem outra alternativa.
"Tudo isso importa ainda mais neste momento considerando que, a partir do momento em que Putin vencer, começarão as especulações sobre o que ele pretende fazer quando acabar o seu novo mandato, em 2024, e a Constituição o impede de concorrer outra vez", escreve Alexander Kliment, diretor de pesquisas globais da Eurasia.
Embora o presidente seja realmente popular, não existe competição de fato e as autoridades veem o comparecimento como um indicador vital de legitimidade. Críticos afirmam que os esforços para instigar a ida às urnas são tentativas cínicas de ajudar Putin a se entrincheirar ainda mais no poder.
Putin precisa de um comparecimento significativo para conter seus concorrentes em potencial e manter seus apoiadores satisfeitos, disse Chris Weafer, da consultoria econômica e política Macro Advisory. "Enquanto Putin conseguir mostrar um grande apoio público, seu lugar entre as elites e dentro do Kremlin está seguro", disse Weafer.
Para evitar uma grande abstenção, na quinta-feira (15), Putin apelou ao "amor à pátria" dos russos para convocá-los a votar no domingo. Putin expressou sua convicção de que todos e cada um dos russos estão preocupados com o destino do país e acrescentou: "É por isso que estou me dirigindo aos senhores para pedir que compareçam no próximo domingo aos colégios eleitorais. Exerçam seu direito de escolher o futuro da nossa amada e grande Rússia".
"Em quem votar, como exercitar seu direito em uma eleição livre é uma decisão pessoal, de cada um. Mas, se cada um fugir dessa decisão, então essa escolha essencial e determinante se fará sem que sua opinião tenha sido levada em conta", declarou Putin, nessa mensagem divulgada pelo canal de televisão RT.
Menos da metade dos jovens com entre 18 e 24 anos diz que irá votar, de acordo com uma pesquisa do instituto público VTsIOM, mas quase 82% deles afirmaram que votarão por Putin. "Seu apoio e aprovação do candidato Putin é maior do que em outras faixas etárias", explica Denis Volkov, do centro de pesquisa independente Levada.
Oito candidatos, um vencedor certo
Quando Putin foi eleito presidente da Rússia pela primeira vez, em 2000, concorriam 11 candidatos. Depois, nas eleições posteriores, o número diminuiu drasticamente. Segundo certos críticos, o próprio Kremlin era quem mantinha a lista assim reduzida.
Agora parece que os velhos tempos estão de volta: na cédula apresentada para as eleições presidenciais de 18 de março de 2018 constam ao todo oito nomes, o dobro do número de candidatos de 2008.
Uma explicação usual para o grande número de candidatos é justamente a preocupação do Kremlin com a participação eleitoral. Os russos, no entanto, não se interessam muito por eleições cujo resultado seja previsível. Já nas eleições parlamentares de 2016, a participação eleitoral caiu drasticamente. Em Moscou, por exemplo, ficou em torno de 35%.
Os observadores acreditam que, com as novas caras, o Kremlin esteja tentando tornar o pleito mais empolgante. Mas sem ameaçar a vitória de Putin, pois seu desafiante potencialmente mais forte, Alexei Navalny, não foi aceito como candidato, devido a uma condenação judicial. O oposicionista interpretou isso como uma tentativa de eliminá-lo, e convocou ao boicote das eleições.
Sejam candidatos tarimbados ou principiantes, defensores de Putin ou críticos a ele, todos os desafiantes do chefe do Kremlin têm uma coisa em comum: não têm a menor chance. Desse ponto de vista esta eleição, apesar do número de candidatos, não é diferente das tantas eleições passadas, das quais Putin saiu o vencedor. (Com agências internacionais)
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