Além dos EUA: como a Cambridge Analytica atuava em eleições pelo mundo
Não só as eleições norte-americanas tiveram um empurrãozinho da controversa consultoria Cambridge Analytica. Segundo a BBC, a empresa atuou em mais de 100 campanhas eleitorais nos cinco continentes --por vezes por meio de sua empresa mãe, SLC. Não foram todos os casos, no entanto, que a empresa conseguiu o resultado pretendido e ainda não está clara a atuação exata da empresa em cada país.
A organização especializada em análise de dados está sob forte escrutínio nos últimos dias, desde que veículos de imprensa revelaram que a empresa teve acesso a informações de milhões de usuários do Facebook. Esses dados teriam sido usados para influenciar a eleição presidencial norte-americana de 2016 a favor do então candidato republicano Donald Trump.
Além disso, tanto nos EUA como em outros países a empresa não limitou sua ação à prática publicitária nas redes sociais, tendo sido responsável também pela criação e propagação de notícias falsas.
Parte desses métodos foram listados pelo ex-presidente-executivo da empresa, Alexander Nix, em uma reportagem do canal britânico Channel 4. Na matéria, Nix descreve a um repórter disfarçado de cliente algumas das ações já feitas por sua empresa em países como Quênia, México e Malásia. Nix foi afastado do cargo após a divulgação da reportagem.
Veja o que se sabe sobre os países em que a Cambridge Analytica atuou ao redor do mundo:
Quênia
De acordo com seu site oficial, a Cambridge Analytica foi contratada duas vezes para garantir a vitória do presidente queniano Uhuru Kenyatta - em 2013 e de novo em 2017. Ao Channel 4, no entanto, o executivo Mark Turnbull revelou ter ido além da mera consultoria estratégica.
“Refizemos a imagem do partido duas vezes, escrevemos o manifesto, fizemos pesquisa, análises. Acho que escrevemos todos os discursos e encenamos a coisa toda”, diz, sem saber que estava sendo gravado.
Segundo o “Observer”, jornal britânico associado ao “Guardian”, entre as ações da empresa no país estava espalhar vídeos nas redes sociais que atiçavam medos da população, alertando que uma vitória do opositor Raila Odinga levaria a propagação de doenças, fome e terrorismo.
A principal coalizão de oposição do país pediu uma investigação completa do caso.
Nigéria
Segundo informações do “Guardian”, a Cambridge Analytica teria tido acesso a e-mails do atual presidente nigeriano, Muhammadu Buhari, durante a campanha eleitoral do país, que se desenrolou em 2015. As mensagens teriam sido captadas e transmitidas à empresa por hackers israelenses.
Ainda de acordo com o jornal, a consultoria estaria trabalhando a serviço de um bilionário, apoiador do rival Goodluck Jonathan, e teria recebido cerca de 2 milhões de libras esterlinas pelo serviço.
Fontes que falaram ao jornal disseram que Alexander Nix pediu para analistas procurarem por material que poderia ser usado contra Buhari, mas os funcionários se recusaram a lidar com os dados fornecidos, por terem sido obtidos de forma ilegal.
República Tcheca
Na investigação do Channel 4, os executivos da Cambridge Analytica disseram ter usado outro nome para atuar no país do leste europeu. “Ninguém sabia que estávamos lá”, disse o executivo Mark Turnbull. Não se sabe exatamente qual foi o trabalho desempenhado pela empresa ali.
As últimas eleições presidenciais na República Tcheca aconteceram em janeiro deste ano, quando o presidente Milos Zeman, pró-Rússia, foi reeleito por uma margem de apenas 3 pontos percentuais sobre seu opositor, o novato Jiri Drahos, cientista de posição mais pró-Ocidente.
Em outubro do ano anterior, o partido anti-establishment venceu as eleições para o Parlamento do país, levando seu fundador, o oligarca bilionário Andrej Babis, à cadeira de primeiro-ministro. Não se sabe, porém, se foi dessas eleições que a Cambridge Analytica participou.
Ucrânia
Um post antigo no site oficial da CA insinua que a consultoria ajudou a chamada Revolução Laranja no país, em 2004, que trouxe ao poder o presidente Viktor Yushchenko - na ocasião a Cambridge Analytica ainda não havia sido criada, mas existia sua empresa mãe, SCL Group.
Mais recentemente, a empresa foi contratada novamente pelo governo para trabalhar na retomada de controle de Donetsk, cidade rebelada no sudeste do país.
Malásia
O site oficial da empresa diz que a CA trabalhou para o partido do atual primeiro-ministro, Najib Razak, em 2013. Tanto o político quanto o partido, no entanto, negam terem usado os serviços da consultoria.
Segundo o jornal norte-americano “Washington Post”, Razak acusa seu rival, Mahathir Mohamad, de ter feito a contratação.
México
De acordo com a Bloomberg, a CA lançou um aplicativo no país latino em julho de 2017, o Pig.gi, com o objetivo de coletar informações de potenciais eleitores do pleito de 2018, para presidente, governadores, deputados e senadores.
O aplicativo fornecia serviços gratuitos a 200 mil usuários que, em troca, deveriam assistir a vídeos promocionais e responder a pesquisas. Quando a reportagem da Bloomberg foi divulgada, em julho de 2017, não havia ainda um partido como cliente, mas “vários demonstraram interesse”, diz a agência de notícias.
A eleição no país está marcada para 1° de julho.
E no Brasil?
Em dezembro de 2017, a Cambridge Analytica abriu uma filial no Brasil com a intenção de atuar nas campanhas de 2018. Depois da revelação que a empresa usou ilegalmente dados de Facebook de milhões de usuários, a empresa brasileira que se associou à britânica, a Consultoria Ponte, do publicitário baiano André Torretta, afirmou ter desfeito a parceria.
Na quarta (21), o Ministério Público do Distrito Federal abriu inquérito para apurar se o uso ilegal de dados pela Cambridge Analytica atingiu ou não brasileiros. Torretta deve ser intimado a depor.
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