Foto de manifestante venezuelano em chamas leva World Press Photo
O registro de um homem correndo seguido por um rastro de chamas colado às suas costas levou o World Press Photo, o principal prêmio mundial do fotojornalismo, entregue nesta quinta-feira (12), em Amsterdã.
A foto foi tirada por Ronaldo Schemidt, fotógrafo da agência de notícias AFP, durante os violentos protestos que tomaram as ruas de Caracas em maio de 2017.
O manifestante na imagem, que leva uma máscara de gás, é Víctor Salazar, um estudante de bioanálise de 28 anos. Segundo a agência de notícias, ele ainda está em tratamento: as queimaduras o deixaram sem algumas impressões digitais.
Com 70% do corpo queimado, foi submetido a 42 cirurgias de enxerto de pele. "Seu tratamento foi muito doloroso, muito traumático, gritava, não queria mais viver. Agora está cicatrizando", relatou sua irmã, Carmen Salazar. Víctor não quer exposição na imprensa e, segundo sua irmã, se recusa até mesmo a ouvir falar no assunto.
Quer deixar para trás o dia em que esteve no grupo de jovens que, com os rostos cobertos por lenços e capuzes, deu golpes em uma motocicleta tomada como troféu de guerra, pouco depois de ser arrastada por um blindado da Guarda Nacional, que os militantes incendiaram parcialmente com coquetéis molotov.
Para o fotógrafo, ele também venezuelano, o prêmio "tem um sabor amargo".
A sequência desta imagem durou dez segundos, se muito.
"Senti um calor, o clarão. Eu não sabia o que era, só vi que uma bola de fogo vinha na minha direção. Eu a segui, disparando a minha câmera sem parar, ouvi seus gritos e foi aí que me dei conta do que era", disse Schemidt.
O fotógrafo de 46 anos, que deixou sua terra natal há quase duas décadas, foi enviado do escritório do México para reforçar a equipe de Caracas na extenuante cobertura dos protestos organizados pela oposição ao governo venezuelano em 2017.
Meu país refém
Foram quatro meses de confrontos quase diários entre as forças de segurança e opositores que exigiam a saída do poder do presidente Nicolás Maduro, em meio a uma das piores crises econômica, política e social que a Venezuela já viveu.
Nas ruas, travava-se uma batalha campal sob uma chuva de bombas de gás lacrimogêneo, balas de borracha ou vidro, pedras e coquetéis molotov. Mais de 120 pessoas morreram, muitas jovens, e milhares ficaram feridas e foram detidas.
O prêmio, escolhido entre cinco finalistas em um concurso do qual participaram mais de 4.500 fotógrafos de 125 países, reconhece o fotógrafo que captou com "criatividade e talento visual (...) uma imagem ou acontecimento de grande importância jornalística ocorrido no ano passado".
Para Schemidt, representa muito mais. "Essa foto representa a terrível situação de um país, o meu, em desgraça: refém de uma espiral de violência política e social", declarou à AFP Caracas, de Amsterdã.
*(com AFP)
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