EUA, Reino Unido e França bombardeiam Síria em resposta a uso de armas químicas
Forças norte-americanas, britânicas e francesas bombardearam a Síria com mais de cem mísseis nos primeiros ataques ocidentais coordenados contra o governo de Damasco, tendo como alvo o que disseram ser centros de armas químicas em retaliação a um suposto ataque químico.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou a ação militar da Casa Branca nesta sexta-feira (13), dizendo que os três aliados haviam "organizado seu poder justo contra a barbárie e a brutalidade".
Mais tarde, ele tuitou: "Missão cumprida".
O atentado representa uma grande escalada no confronto do Ocidente com a Rússia, aliado de Assad, mas é improvável que altere o curso de uma guerra multifacetada que matou pelo menos meio milhão de pessoas nos últimos sete anos.
Isso, por sua vez, levanta a questão de para onde os países ocidentais vão a partir daqui, depois de uma série de ataques classificados por Damasco e Moscou como imprudentes e inócuos.
Na manhã deste sábado (14), os países ocidentais disseram que seu bombardeio havia sido encerrado por ora. A Síria divulgou um vídeo dos escombros de um laboratório de pesquisa bombardeado, mas também do presidente Bashar al-Assad chegando ao trabalho como de costume, com a legenda "Manhã de resistência".
Não houve relatos imediatos de vítimas. Os aliados de Damasco disseram que os edifícios atingidos haviam sido esvaziados com antecedência.
A Rússia prometeu responder a qualquer ataque contra seu aliado e disse no sábado que as defesas aéreas sírias haviam interceptado 71 dos mísseis disparados.
Mas o Pentágono disse que os EUA mantinham contatos para evitar conflitos com a Rússia antes e depois dos ataques, que os sistemas de defesa aérea síria haviam sido ineficazes e que não havia indicação de que os sistemas russos tivessem sido usados.
Em entrevista coletiva neste sábado, o Pentágono disse que os ataques durante a noite atingiram todos os alvos e tinham como objetivo dar um sinal inequívoco ao governo sírio e impedir o uso futuro de armas químicas.
Segundo autoridades, os ataques enfraqueceram significativamente a capacidade do presidente sírio Bashar al-Assad de produzir armas químicas e o Pentágono não estava ciente de nenhuma morte civil resultante da ofensiva.
Ataque limitado
A primeira-ministra britânica, Theresa May, descreveu o ataque como "limitado e direcionado", sem intenção de derrubar Assad ou intervir mais amplamente na guerra. Ela disse que autorizou a ação britânica depois que a inteligência indicou que o governo Assad era culpado de ter usado gás venenoso em Douma, subúrbio de Damasco, há uma semana.
Washington descreveu seus alvos como um centro perto de Damasco para pesquisa, desenvolvimento, produção e testes de armas químicas e biológicas, um local de armazenamento de armas químicas perto da cidade de Homs e outro local perto de Homs que armazenava equipamentos de armas químicas e abrigava um posto de comando.
O presidente russo, Vladimir Putin, pediu uma reunião do Conselho de Segurança da ONU para discutir o que Moscou denunciou como um ataque injustificado contra um Estado soberano.
A mídia estatal síria chamou o ataque de "violação flagrante do direito internacional". O líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, chamou isso de crime e os líderes ocidentais de criminosos.
Inspetores da Organização para a proibição de Armas Químicas (Opaq) deveriam visitar Douma no sábado para inspecionar o local do ataque a gás em 7 de abril. Moscou condenou os Estados ocidentais por se recusarem a esperar por suas descobertas.
A Rússia, cujas relações com o Ocidente se deterioraram a níveis de hostilidade da era da Guerra Fria, negou qualquer ataque com gás ocorrido em Douma.
Dmitry Belik, membro do Parlamento russo que esteve em Damasco e testemunhou os ataques, disse à agência Reuters:
"O ataque foi mais de natureza psicológica do que prático. Felizmente não há perdas ou danos substanciais."
Pelo menos seis explosões foram ouvidas em Damasco e havia fumaça na cidade, segundo uma testemunha da Reuters. Uma segunda testemunha disse que o distrito de Barzah em Damasco foi atingido.
Um laboratório de pesquisa científica em Barzah parece ter sido completamente destruído, segundo imagens da TV estatal al-Ikhbariya. Havia fumaça vinda dos escombros e um ônibus estacionado do lado de fora estava muito danificado.
Assad forte
Mas a intervenção ocidental praticamente não tem chance de alterar o equilíbrio militar de poder em um momento em que Assad está em sua posição mais forte desde os primeiros meses da guerra.
A ajuda militar russa e iraniana nos últimos três anos permitiu a Assad esmagar a ameaça rebelde de derrubá-lo.
Estados Unidos, Reino Unido e França têm participado do conflito sírio durante anos, armando rebeldes, bombardeando combatentes do Estado Islâmico e enviando tropas para combater esse grupo. Mas os três países têm evitado atacar diretamente o governo Assad, além de uma saraivada de mísseis norte-americanos no ano passado.
Apesar de todos os países ocidentais terem dito durante sete anos que Assad deve deixar o poder, eles se negaram a atacar seu governo, faltando-lhe uma estratégia mais ampla para derrotá-lo.
(Com Reuters)
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