Imigrante que chega ao Brasil é homem, tem entre 30 e 34 anos e vem de avião
Homem de 30 a 34 anos aterrizando nos aeroportos brasileiros: esse é o perfil majoritário entre os 880 mil imigrantes que chegaram ao país entre 2000 e 2015, segundo o Atlas Temático: Observatório das Migrações em São Paulo, lançado este mês. A publicação detalha números da imigração paulista, mas também traz dados referentes a todo o Brasil.
A partir da análise dos Registros Nacionais de Estrangeiros emitidos no período, o estudo produzido pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) identificou, por exemplo, que 65% dos imigrantes que chegaram ao país são homens. E que o maior grupo é o daqueles com idade entre 30 e 34 anos, seguido pela faixa etária 25 a 29 anos.
Os números levam em conta os estrangeiros registrados, sem considerar os que aqui já estavam ou não tinham o documento de legalização.
Quanto ao meio de transporte utilizado para a viagem, destaca-se o avião, utilizado por 65% dos imigrantes. O ônibus, que aparece na sequência, representou cerca de 20% dos deslocamentos.
O levantamento também mostra uma tendência de aumento na emissão de registros para estrangeiros. A série histórica inicia com 23 mil emissões no ano 2000 e chega a 2015 com 65,5 mil --uma expansão de mais de 180%, com pico em 2012.
Ainda assim, o Brasil está longe de ser um grande destino para imigrantes. Segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), em 2017 viviam cerca de 735 mil imigrantes no Brasil. Na mesma época, nos Estados Unidos, havia cerca de 50 milhões. Na Alemanha, 12 milhões.
Lições aprendidas e políticas públicas
Ao analisar a curva de imigrações no país no início deste século, a professora Rosana Baeninger, professora da Unicamp responsável pelo estudo, destaca dois momentos de crescimento acentuado na chegada de estrangeiros. Em 2009, quando um acordo permitiu a cidadãos do Mercosul solicitarem permanência no Brasil, os registros emitidos chegaram a 88 mil pessoas - haviam sido 40 mil no ano anterior.
E em 2010, o país viveu a chegada dos haitianos, vítimas de terremoto na ilha, com a concessão de vistos humanitários. Os cidadãos do Haiti aparecem em 12º lugar no ranking de nacionalidades que mais receberam RNE (Registro Nacional de Estrangeiros) no período analisado.
Para a professora, esse episódio mostrou que o Brasil não estava preparado para receber uma grande quantidade de pessoas em tão pouco tempo. E apesar de o estudo abranger período anterior à chegada dos venezuelanos, a pesquisadora vê relação entre esses movimentos migratórios.
As lições dessa migração [haitiana], a falta de políticas públicas para ela, foram importantes para nos prepararmos para a chegada dos venezuelanos."
Sobre os ataques a venezuelanos registrados em Roraima, a pesquisadora vê um componente racial. “O que é preocupante é o fato de essas pessoas serem indígenas. Nós já tínhamos quase 8 mil venezuelanos vivendo tranquilamente em São Paulo, mas eles eram brancos”, afirmou.
Para ela, políticas públicas podem contribuir para a diminuição da xenofobia (preconceito contra estrangeiros). “A partir do momento em que o outro tem acesso às mesmas políticas que eu, no mesmo espaço público, essa distância diminui”, diz
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