Topo

Bolsonaro pede Mercosul "enxuto", e Macri chama Maduro de "ditador"

Luciana Amaral e Talita Marchao*

Do UOL, em Brasília e em São Paulo

16/01/2019 12h49Atualizada em 16/01/2019 17h51

Os presidentes Jair Bolsonaro (PSL) e Mauricio Macri, da Argentina, defenderam nesta quarta-feira (16) a modernização de um Mercosul mais "enxuto", que tenha sentido e relevância. Bolsonaro destacou ainda a "convergência de posições e igualdade de valores" de ambos, e citou a crise política na Venezuela como um exemplo. Já Macri aproveitou seu discurso para fazer uma crítica contundente ao venezuelano Nicolás Maduro, a quem chamou de "ditador" e "algoz". 

"Não aceitamos essa zombaria à democracia", disse Macri. "Maduro é um ditador que procura se perpetuar no poder com eleições fictícias, prendendo opositores e levando os venezuelanos a uma situação desesperadora e agonizante", afirmou o argentino, ao lado de Bolsonaro.

Não aceitamos essa zombaria à democracia e menos a tentativa de vitimização de quem, na verdade, é quem vitima
Mauricio Macri, presidente da Argentina, sobre Nicolás Maduro, da Venezuela

Segundo Macri, Brasil e Argentina reconhecem apenas a Assembleia Nacional venezuelana, de maioria opositora e destituída por Maduro, como o único órgão democraticamente eleito.

Bolsonaro e Macri criticam situação na Venezuela; argentino fala em "zombaria à democracia"

UOL Notícias

Bolsonaro, por sua vez, fez apenas uma breve citação sobre a Venezuela e focou seu discurso nas supostas semelhanças entre ele e Macri e no Mercosul. O brasileiro elogiou os esforços de Macri para "reerguer a economia da Argentina e torná-la mais integrada ao mundo", e destacou que as reformas econômicas promovidas pelos dois países são fundamentais para o crescimento sustentável e para revigorar o intercâmbio comercial entre os nossos países.

Não há tabus na relação bilateral, o que nos move é a busca por resultados concretos para o crescimento dos dois países e para o bem-estar de suas populações
Jair Bolsonaro, presidente do Brasil

A Argentina fechou 2018 com o segundo índice de inflação mais alto do continente (47,6%), atrás apenas da Venezuela. O peso argentino desvalorizou mais de 50%, e as previsões são de que o desemprego no ano passado no país chegue a quase 10%.

Macri e Bolsonaro reforçaram ainda o interesse para que o Mercosul conclua logo as negociações comerciais pendentes, como o acordo com a União Europeia (UE), que não sai do papel há mais de uma década. Os dois querem ainda abrir novas negociações, "com flexibilidade, para recuperar o tempo perdido".

O novo governo do Brasil e a Argentina defendem a mudança de uma das principais regras do Mercosul, a obrigação de negociar acordos somente com o bloco, que não prevê acordos bilaterais de integrantes do grupo com outros países. A ideia é justamente liberar os países-membros para negociar sem os demais integrantes.

Para a fala, Bolsonaro leu o discurso em um teleprompter posicionado à sua frente. Em determinado momento, ele parou um pouco para que seguisse a projeção. Assim como diversos outros presentes, o brasileiro também usou fone de ouvido para receber a tradução instantânea durante o pronunciamento de Macri.

Respeito à democracia

Ao lado de Bolsonaro, Macri fala em respeito à democracia

UOL Notícias

Após a reunião e os discursos no Planalto, os dois presidentes e suas comitivas foram para o Itamaraty, onde voltaram a fazer pronunciamentos.

Macri afirmou que tanto os argentinos como os brasileiros elegeram a ele e ao presidente Jair Bolsonaro, respectivamente, buscando uma mudança, mas que essa mudança precisa ser feita com respeito à democracia, aos direitos humanos e às liberdades.

"Essa viagem encaramos com o entusiasmo de reconhecer que tanto a você e quanto a mim, os nossos povos nos elegeram porque queriam uma mudança, uma mudança de verdade, uma mudança que leve as nossas sociedades para frente, mas respeitando os valores centrais que são viver em democracia, com respeito aos direitos humanos e às liberdades, com respeito à cultura do trabalho, à possibilidade de progredir", disse o argentino.

Integrante da comitiva argentina, o ministro das Relações Exteriores do país, Jorge Faurie, também exaltou a democracia e reforçou a fala dos presidentes quanto à situação política da Venezuela. Para ele, a Assembleia Nacional tem que "trabalhar para levar adiante sua liderança".

"Há uma coincidência entre o presidente Macri e o presidente Bolsonaro que queremos defender: a liberdade, a democracia. E que a Venezuela recupere sua democracia para que ela tenha novamente sua liberdade e o bem-estar que os venezuelanos necessitam", declarou.

crachá - Alan Santos/PR - Alan Santos/PR
Imagem: Alan Santos/PR

Segurança reforçada e brincadeira com crachá funcional

Com honras de visita de Estado, Macri passou em revista as tropas e subiu a rampa do Planalto, onde foi cumprimentado por Bolsonaro. No local, ouviram os respectivos hinos nacionais.

Enquanto esperava Macri, Bolsonaro conversou animadamente com o chanceler Ernesto Araújo e assessores, e, inclusive, brincou com um dos fotógrafos da Presidência. Ao tirar uma foto do presidente, Bolsonaro tirou o crachá funcional do bolso da calça e mostrou o objeto para as lentes da câmera. 

Semelhante aos crachás dos demais funcionários do Planalto, o de Bolsonaro conta com uma foto 3 x 4 dele, seu nome e outros dados em um fundo verde claro com duas faixas em verde e amarelo. O modelo, no entanto, não abre as catracas dentro prédio de forma automática para que possa circular livremente.

Os turistas em frente ao Planalto eram poucos, mas, ao longo de toda a recepção visível externamente, a segurança foi reforçada se comparada com a aplicada durante o mandato do ex-presidente Michel Temer (MDB). Agentes da Polícia Federal e do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) se posicionaram na rampa em frente e ao lado de Bolsonaro com as mãos postas nas armas de fogo dentro dos paletós e com maletas para proteção do mandatário, caso houvesse algum atentado.

*Colaborou Mirthyani Bezerra, em São Paulo, e Leandro Prazeres, em Brasília.