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Prosul, o "Unasul de direita", míngua com expectativa de acordo Mercosul-UE

Os presidentes do Brasil, Jair Bolsonaro, e da Argentina, Mauricio Macri, com as respectivas primeiras-damas, Michelle Bolsonaro e Juliana Awada, na Casa Rosada, em Buenos Aires, na quinta-feira (6) - Agustin Marcarian/Reuters
Os presidentes do Brasil, Jair Bolsonaro, e da Argentina, Mauricio Macri, com as respectivas primeiras-damas, Michelle Bolsonaro e Juliana Awada, na Casa Rosada, em Buenos Aires, na quinta-feira (6) Imagem: Agustin Marcarian/Reuters

Luciana Amaral

Do UOL, em Buenos Aires

10/06/2019 04h01

Na primeira viagem na América do Sul após chegar à presidência, em 22 de março, Jair Bolsonaro (PSL) pulou a Argentina, tradicionalmente o destino prioritário dos presidentes recém-empossados, e foi ao Chile lançar o Prosul (Foro para o Progresso da América do Sul).

Menos de três meses depois, em Buenos Aires, a iniciativa parece ter perdido força e foi pouco abordada nos encontros entre ministros, parlamentares e os presidentes de Brasil e Argentina. Expectativa maior, disseram participantes das reuniões ao UOL, foi criada em torno de um possível acordo entre o Mercosul (Mercado Comum do Sul) e a União Europeia.

"Até pegou a gente um pouco de surpresa, acho. Não esperávamos que o Macri fosse tão direto logo no início do encontro", disse um integrante da comitiva brasileira.

Ele relata que o presidente argentino, Mauricio Macri, abriu a reunião ampliada já perguntando sobre ajustes finais do acordo entre Mercosul e União Europeia, como a comercialização de produtos de denominação de origem controlada. Por exemplo, queijos e vinhos.

"A ministra [da Agricultura] Tereza Cristina se saiu muito bem e tirou todas as dúvidas", disse o interlocutor à reportagem.

O Prosul, por outro lado, não foi mencionado, relataram presentes no encontro ao UOL.

Em negociação há 20 anos, o acordo entre o bloco econômico sul-americano e o europeu deve sair em até quatro semanas, segundo previsão do ministro da Economia, Paulo Guedes. Ele projeta lucros anuais de até R$ 60 bilhões para o Brasil.

Xadrez: Prosul para isolar Venezuela

O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, disse à reportagem que o Brasil permanece comprometido com o Prosul e o momento é de estabelecer maneiras de dar os próximos passos.

"Continuamos muito interessados nesse processo. Achamos ser um processo muito promissor. Agora tem que começar a se dotar de novos mecanismos. O Chile [um dos principais fundadores] também está pensando em ideias aí. Nós coincidimos plenamente. Então, não falamos muitos detalhes [em Buenos Aires], porque não existem ainda muitas ideias de como implementar o Prosul, mas coincidimos e achamos que esse é o caminho", falou.

O ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), Augusto Heleno, afirmou que o Prosul é importante para deixar clara a filosofia de integração entre os países signatários e, estrategicamente, reforçar o isolamento da ditadura de Nicolás Maduro na Venezuela.

Ele creditou a ausência do debate em torno do Prosul à construção inicial do grupo e à falta de tempo para discutir mais assuntos. "Nessas reuniões não dá tempo de conversar tudo o que gostaríamos em maior profundidade. É tudo muito rápido", disse.

Quais são os blocos em jogo na região

  • Mercosul (Mercado Comum do Sul): Iniciado em 1991, reúne como membros plenos ou associados Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru e Uruguai. A Bolívia está em processo de adesão, e a Venezuela está suspensa.
  • Unasul (União de Nações Sul-Americanas): Iniciado em 2008, reúne, além dos países do Mercosul, Guiana e Suriname. Bolívia e Venezuela também são membros.
  • Pronasul (Foro para o Progresso da América do Sul): Reúne Argentina, Brasil, Chile, Paraguai, Peru, Colômbia, Equador e Guiana. Exclui Bolívia e Venezuela, governados por presidentes de esquerda.