O liberal e a populista: eleição primária na Argentina respira polaridade
Mais de 33 milhões de argentinos vão às urnas hoje para escolher quem vai concorrer à Presidência do país em outubro. As eleições primárias --oficialmente chamadas de Paso (Primárias Abertas, Simultâneas e Obrigatórias)-- trazem dez pré-candidatos, mas a disputa está concentrada nas duas principais chapas: a do atual presidente, Mauricio Macri, e a da ex-presidente Cristina Kirchner.
As duas frentes têm visões divergentes em vários temas, como economia e política externa, e são reflexo da polarização na Argentina, muito semelhante ao que foi visto nas eleições brasileiras do ano passado, com Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) disputando a Presidência. Veja a seguir o que cada chapa representa para os argentinos.
Maurício Macri tenta reeleição
Eleito em 2015, Macri tenta se manter no comando da Argentina por mais quatro anos. Depois de vencer as últimas eleições com promessas de mudanças, dando fim a mais de uma década de kirchnerismo, Macri tem visto sua popularidade cair por não conseguir tirar o país de uma grave crise econômica.
Para tentar ampliar seu eleitorado, foi escolhido como vice na chapa "Juntos pela Mudança" o peronista Miguel Pichetto, presidente do Partido Justicialista no Senado argentino. Apesar de sua inclinação política diferente da de Macri, Pichetto tem buscado se distanciar da ala mais à esquerda do peronismo, liderada por Cristina Kirchner.
Com uma visão mais liberal, Macri propõe um plano de reformas para o país e uma maior abertura comercial. Durante a campanha, fez críticas ao legado do kirchnerismo, incluindo denúncias de corrupção, e falou sobre alguns avanços que teria conquistado em seu mandato, entre eles a liberdade de imprensa, maior transparência e combate ao narcotráfico.
Suas principais promessas ao se eleger eram acabar com o protecionismo e os subsídios de governos anteriores para atrair investidores. Mas pouco disso se concretizou. Agora, Macri aposta no fortalecimento do Mercosul e numa parceria com o governo Bolsonaro para melhorar a situação econômica argentina.
Cristina Kirchner tenta voltar ao poder
Ex-presidente (de 2007 a 2015) e atual senadora, Cristina Kirchner tenta voltar ao poder na Argentina. Mas, dessa vez, ela é pré-candidata a vice na chapa encabeçada por Alberto Fernández. Com isso, Kirchner tenta, ao mesmo tempo, trazer sua base de apoio a Fernández e reduzir a rejeição ao seu nome, já que não será a mandatária.
O pré-candidato da "Frente de Todos" atuou no primeiro ano de governo de Cristina, mas depois rompeu com a ex-presidente e passou a criticá-la. Fernández é contra algumas bandeiras do kirchnerismo, como o aumento da tributação de grandes empresários.
Os governos Kirchner ficaram marcados pelo protecionismo econômico e por políticas sociais. A chapa tem feito críticas ao governo Macri, especialmente pela escalada da inflação e pelo aumento da pobreza e do desemprego no país nos últimos anos.
Tirar a população da pobreza é justamente a principal promessa de campanha da dupla. Na política externa, Fernández defende uma abertura moderada, mantendo algumas travas protecionistas, e diverge de Kirchner quanto à aproximação de governos com ideais bolivarianos, como o da Venezuela.
Polarização é fenômeno global, diz pesquisador
A polarização política não é exclusividade da Argentina ou do Brasil, mas um fenômeno global, segundo o professor da universidade de George Washington e CEO do instituto de pesquisas Ideia Big Data, Maurício Moura. "Vimos isso acontecer nas eleições americanas, nas francesas e deve se repetir em outros países", afirmou.
Para ele, as eleições argentinas têm algumas semelhanças com a brasileira. A principal é o alto índice de rejeição que as duas principais forças políticas enfrentam nos dois países. "No Brasil, a rejeição ao PT foi maior, o que acabou dando a vitória ao bolsonarismo. Na Argentina, a rejeição é igual. Por isso, pode ser mais imprevisível do que foi no Brasil."
Por outro lado, Moura diz que há uma diferença importante no país vizinho. Enquanto no Brasil, a disputa era entre um candidato do sistema e outro de fora com um discurso contrário à chamada "velha política", na Argentina as duas vertentes representam a política tradicional. O que deve decidir as eleições é a percepção da economia, segundo o especialista.
"Macri representa uma continuidade, para quem acha que melhorou, e Kirchner é uma volta ao passado, para quem acha que antes era melhor. A economia vai ser a chave da disputa", declarou.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.