Após renúncia de Evo Morales, Bolsonaro defende voto impresso
Em sua primeira manifestação sobre a renúncia de Evo Morales da presidência da Bolívia, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) usou a crise no país vizinho para voltar a defender o voto impresso, bandeira que defendeu durante seus mandatos como deputado federal.
Em postagem no Twitter, Bolsonaro adotou um tom sóbrio ao falar da crise boliviana. Citou as denúncias de fraudes eleitorais no país vizinho, mas evitou atacar Morales —um dos principais representantes da esquerda latino-americana. Segundo o presidente, a situação deixa a "lição" de que é preciso um sistema contagem de votos "que possa ser auditado".
Morales foi um dos únicos governantes de esquerda a comparecer na posse de Bolsonaro, em janeiro. Mais cedo, antes da renúncia, o Ministério das Relações Exteriores havia divulgado nota defendendo novas eleições na Bolívia. O comunicado diz que o Brasil recebeu com "profunda preocupação com as graves irregularidades" apontadas pela OEA (Organização dos Estados Americanos) em auditoria sobre as eleições presidenciais de 20 de outubro, cujos resultados foram divulgados hoje.
Aliado de Morales durante todo o seu governo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que a Bolívia passava por um golpe de Estado.
"Acabo de saber que houve um golpe de estado na Bolívia e que o companheiro Evo Morales foi obrigado a renunciar. É lamentável que a América Latina tenha uma elite econômica que não saiba conviver com a democracia e com a inclusão social dos mais pobres", disse Lula na rede social. Políticos de esquerda também sustentaram que as Forças Armadas aplicaram um golpe contra Morales.
Representantes da direita brasileira também comentaram o caso. O deputado federal Hélio Lopes (PSL-RJ) acusou o Foro de São Paulo de estar por trás da renúncia de Evo, que ele considerou como algo feito "com o objetivo de criar a narrativa de golpe de estado". O também deputado Carlos Jordy (PSL-RJ) deu "parabéns" aos bolivianos e desejou "que possam ter um presidente que possa livrá-los do socialismo e fazê-los prosperar".
A deputada federal Bia Kicis (PSL-DF) comemorou o que chamou de "a força do povo". "Que sirva de exemplo a todos os narcoditadores e aos fraudadores das eleições", disse ela. Já o vereador de São Paulo Fernando Holiday (DEM), membro do MBL (Movimento Brasil Livre), disse que "um sopro de esperança ronda a América Latina".
Primeira emenda aprovada por Bolsonaro
Bolsonaro defende o voto impresso como forma de auditagem das urnas eletrônicas desde quando era deputado federal. Em 2015, o então parlamentar do PP conseguiu aprovar sua primeira emenda a uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) justamente sobre o tema: durante a minirreforma eleitoral, conseguiu emplacar a obrigatoriedade da impressão de "recibos" quando o eleitor completasse a votação nas urnas eletrônicas.
Contudo, a medida foi derrubada no ano passado pelo STF (Supremo Tribunal Federal) por 8 votos a 2. Segundo a linha adotada pela maioria dos ministros, a impressão colocava em risco o sigilo do voto e a confiabilidade do processo eleitoral.
Durante a campanha eleitoral, Bolsonaro repetiu diversas vezes um discurso de que haveria fraude nas urnas eletrônicas para impedir sua vitória. Dias antes do segundo turno, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) chegou a determinar a remoção de um vídeo gravado pelo então candidato à Presidência em que ele afirmava haver adulteração nas urnas para beneficiar o adversário Fernando Haddad (PT-SP).
Presidente do TSE durante o processo eleitoral de 2018, a ministra Rosa Weber, do STF, rebateu as falas de Bolsonaro e defendeu a confiabilidade das urnas eletrônicas.
"Temos 22 anos de utilização de urnas eletrônicas. Não há nenhum caso de fraude comprovado. As pessoas são livres para expressar a própria opinião, mas quando essa opinião é desconectada da realidade, nós temos que buscar os dados da realidade", frisou a ministra.
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