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Evo deve ganhar de novo, diz ex-chanceler de Lula sobre novas eleições

O ex-chanceler Celso Amorim -
O ex-chanceler Celso Amorim

Luciana Taddeo

Colaboração para o UOL, em Buenos Aires

10/11/2019 14h44

Resumo da notícia

  • O ex-chanceler Celso Amorim disse acreditar que o presidente boliviano Evo Morales ganhará novamente as eleições
  • Em meio aos protestos no país, o líder indígena convocou novas eleições após a auditoria da OEA pedir a realização de um novo pleito
  • Para Amorim, Morales tomou a decisão certa, em meio a "insubordinação da polícia e manifestações violentas"
  • O ex-chanceler já havia dito que há uma "tentativa de golpe" contra o presidente da Bolívia

O ex-chanceler e ex-ministro da Defesa Celso Amorim disse hoje acreditar que o presidente boliviano Evo Morales ganhará novamente as eleições do país. O líder indígena convocou novas eleições presidenciais e a renovação do órgão eleitoral boliviano, após a auditoria da OEA (Organização dos Estados Americanos), que pediu a realização de um novo pleito.

"Acho que o Evo, nas circunstâncias, tomou a decisão certa e se não houver uma manipulação aí, eu não sei como as coisas vão ocorrer, acho que ele vai ganhar de novo e que ele está confiante nisso", disse Amorim, em entrevista ao UOL, por telefone, do aeroporto de Buenos Aires, onde participou de um encontro do Grupo de Puebla, que reúne cerca de 30 líderes de esquerda da América Latina.

O ex-ministro ressaltou que Morales estava em uma situação "muito difícil", citando "insubordinação da polícia, manifestações violentas", ataques a governantes locais e à irmã do presidente. "Acho que ele fez a coisa mais prudente, que é convocar as eleições. E acho que ele foi pressionado", diz, em referência à posição de forças de segurança do país.

"Não é correto a polícia agir como agiu, o exército dizer que está neutro quando a polícia está agindo de maneira violenta, ou pelo menos propiciando ações violentas", disse Amorim. "Acho que ele tomou uma atitude republicana, até com uma espécie de humildade diante de uma situação em que o mais importante é manter a paz na Bolívia".

O ex-chanceler voltou a questionar a OEA, como fez ontem, em entrevista ao UOL. "Acho que se tiver observação internacional era bom pedir à União Europeia também, ao parlamento do Mercosul. Acho que a OEA tem estado muito alinhada com certos interesses. Mas de qualquer maneira, ele pediu [a auditoria], recebeu e adotou a decisão correspondente", disse.

Apesar do recuo de Morales, Amorim acredita que havia uma tentativa de golpe de Estado na Bolívia. "Há várias maneiras de você provocar o golpe, uma delas é você criar desestabilização que o justifica", diz ele.

"Você tem uma situação de falta total de controle da situação de segurança, tem a polícia rebelada e as forças armadas dizendo que vão ficar neutras, ficar neutra diante da rebeldia não é bem ficar neutro, os outros estão desarmados. Então eu acho que era uma situação muito perigosa, realmente", afirmou.

"OEA não tem credibilidade"

Neste sábado, antes da convocatória das eleições, o ex-ministro já tinha questionado o papel da OEA e a atuação de agentes das forças de segurança do país na crise.

Amorim afirma que "é inaceitável que haja rebelião de policiais e que não haja uma defesa da constitucionalidade". "Não se pode aceitar essa questão de levante de polícia. Imagina se começar a haver levante de polícia no Brasil? A gente sabe quais seriam as consequências", afirmou.

Para o ex-ministro de Lula, o pedido de auditoria de Morales à OEA (Organização dos Estados Americanos) foi de "certa ingenuidade, porque a OEA não tem se comportado bem nas crises da região". O organismo com mais capacidade para ajudar a resolver a crise na Bolívia, disse, seria a Unasul. "Você vê a falta que faz a Unasul", afirmou.

Criada em 2008, a União de Nações Sul-Americanas reúne os países do Mercosul, mais Bolívia, Venezuela, Guiana, Suriname, Colômbia, Peru, Chile e Equador. Nos últimos anos, foi enfraquecida pela ascensão de líderes de direita em vários países latino-americanos.

Marco Enríquez Ominami um dos fundadores do grupo, disse ontem que os membros estavam avaliando como podem ajudar o país. Já o ex-presidente colombiano e ex-secretário geral da Unasul, Ernesto Samper, pediu que as forças políticas da Bolívia "não percam o caminho democrático na solução das suas diferenças". Ele também pediu que a "legitimidade prevista na Constituição" do país seja respeitada

O ex-ministro petista Aloizio Mercadante tinha dito que a posição do Grupo de Puebla era de reconhecimento do resultado proclamado pelo Supremo Tribunal Eleitoral da Bolívia, dando vitória a Morales, e de apoio às auditorias.