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Coronavírus dificulta compra de químicos e encarece narcotráfico no México

Getty Images/iStockphoto
Imagem: Getty Images/iStockphoto

Do UOL, em São Paulo

23/03/2020 13h33

A pandemia do novo coronavírus pode acertar em cheio os negócios de cartéis de drogas mexicanos. Isso porque boa parte da metanfetamina e do fentanil comercializados por eles precisa de matéria-prima originada na China, de acordo com reportagem do site VICE News.

Segundo traficantes do estado de Sinaloa ouvidos anonimamente, um chefão do narcotráfico enviou a eles um comunicado pelo WhatsApp avisando que as drogas deveriam ser vendidas por preços até seis vezes maiores.

"A mensagem também dizia: 'Se você não obedecer, preste atenção às consequências'", disse um dos entrevistados, apresentado como Jesús.

A cadeia que envolve a produção e a preparação de drogas sintéticas é complexa e internacional. Os produtos "crus" usados para fabricar metanfetamina e fentanil vêm da China, onde a economia travou e muitas rotas comerciais foram fechadas com o surgimento e a explosão de casos de covid-19, desde dezembro passado.

Segundo afirmou Jesús, alguns itens já estariam em falta, mesmo com o estoque de um mês que costuma ser feito nas "fábricas" de entorpecentes.

O traficante Enrique, de outro cartel na região, relatou situação semelhante. De acordo com ele, o preço da acetona, produto usado para produzir heroína, mais do que dobrou nos últimos 15 dias.

"Os preços estão muito altos agora. Por causa do coronavírus, tem bem pouca distribuição ou importação da China para a Cidade do México. É difícil conseguir os químicos", ele diz. "Você pode conseguir, mas os preços estão subindo bem para todo mundo".

Enrique cita rumores de que um quilo de fentanil que era vendido por US$ 35 mil (cerca de R$ 180 mil) agora custa US$ 42 mil (R$ 215 mil). A província de Hubei, epicentro da crise do novo coronavírus na China, era um dos eixos de venda do fentanil no país asiático.

Os cartéis mexicanos dominam há bastante tempo o comércio de "cristal", como é chamada popularmente a metanfetamina. Desde a metade dos anos 2010, os Estados Unidos passaram a controlar com rigidez remédios para gripes e resfriados que continham pseudoefedrina, substância utilizada pelos americanos para produzir a droga em pequena escala, e os mexicanos assumiram o mercado.

Segundo a DEA (órgão de combate ao narcotráfico nos EUA), ainda é cedo para falar sobre os efeitos da pandemia nos negócios mexicanos, mas eles estão sendo monitorados.

Na opinião de Jesús, com a pandemia, seu futuro no tráfico pode se tornar mais lucrativo a curto prazo, já que seus custos de operação podem subir, mas ele poderá fazer mais dinheiro. "Como os clientes são dependentes de cristal, eles vão reclamar [do aumento], mas vão acabar pagando o que a gente pedir".