Na Bolívia, bolsas de plasma pós-covid são trocadas por dinheiro e emprego
Enquanto outros países apostam em medicamentos como a hidroxicloroquina para conter os efeitos do novo coronavírus, a Bolívia investe em transfusões de plasma hiperimune, a parte líquida do sangue extraído de pacientes recuperados da doença.
O Ministério da Saúde do país afirma que a maioria das doações foi voluntária — mas, cada vez mais, surgem relatos de familiares oferecendo "incentivos irregulares" para que a população doe plasma a seus parentes.
De acordo com investigação realizada pelo jornal El País, os anúncios são postados nas redes sociais antes mesmo do primeiro diagnóstico, para garantir que o ente querido terá plasma disponível caso precise. As recompensas são diversas: uma bolsa de 400ml de plasma hiperimune pode ser trocada por dinheiro (entre R$ 2.500 e R$ 15 mil), pagamento de dívidas e até vagas de emprego.
Há também relatos de empresas que oferecem descontos a quem doar plasma após se recuperar da covid-19, e pelo menos duas universidades prometeram que os doadores serão admitidos como alunos sem precisar passar pelo processo seletivo.
O tratamento com plasma é um privilégio na Bolívia: para quem não tem plano de saúde, a transfusão custa 3.200 bolivianos, (cerca de R$ 2.380), quase 700 a mais que o salário mínimo.
Muitos precisam gastar dinheiro para ter acesso aos incentivos irregulares: o doador de plasma precisa provar que contraiu covid-19 e se recuperou, e o sistema público de saúde não entrega ao paciente o resultado do exame. O comprovante só pode ser obtido em laboratórios particulares, onde o teste custa 1.000 bolivianos (aproximadamente R$ 745).
A Bolívia tem 25.493 casos confirmados do novo coronavírus, e 820 mortes. No país, 5.857 pessoas se recuperaram da covid-19.
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