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Autora é boicotada após chamar tatuagem de ministra maori de 'incivilizada'

A escritora Olivia Pierson (esq.); Nanaia Mahuta (dir.), a primeira mulher maori a ocupar o cargo na Nova Zelândia - Reprodução/Twitter/Divulgação/New Zealand Labour Party
A escritora Olivia Pierson (esq.); Nanaia Mahuta (dir.), a primeira mulher maori a ocupar o cargo na Nova Zelândia Imagem: Reprodução/Twitter/Divulgação/New Zealand Labour Party

Colaboração para o UOL, em São Paulo

04/11/2020 13h20

A escritora Olivia Pierson, conhecida por obras no ramo da história e filosofia, fez um comentário considerado racista no Twitter chamando de "incivilizada" a tatuagem tradicional no queixo de Nanaia Mahuta, a primeira mulher maori a ocupar o cargo de Ministra das Relações Exteriores da Nova Zelândia. Em represália, a varejista de livros online Mighty Ape parou de vender uma obra da autora, que a companhia comercializava no país. Apesar da repercussão, Mahuta não se pronunciou sobre o caso.

Tudo começou quando Pierson compartilhou no Twitter uma notícia falando sobre a nomeação da ministra e escreveu:

"Realmente? O rosto da nova ministra das Relações Exteriores da Nova Zelândia? As tatuagens faciais [de Nanaia] não são exatamente uma apresentação polida e civilizada para um diplomata estrangeiro no século XXI. Jacinda Ardern [primeira-ministra da Nova Zelândia, que nomeou a chanceler] está maluca".

A tatuagem no queixo de Nanaia Mahuta é típica das mulheres maori mais velhas e é conhecida pelo nome de "moko kaue". A marca simboliza o poder e autoridade em uma comunidade, mas, desde a colonização britânica na comunicade, o símbolo é cada vez menos comum. Tornou-se hoje, portanto, um resgate do orgulho e das tradições maori.

Repercussão

Visto esse importante contexto cultural e histórico, Pierson foi muito criticada pelo comentário condenando as tatuagens. Uma seguidora respondeu a escritora, questionando a atitude racista. "Não é 'civilizada'? Não posso acreditar que você pensou isso, muito menos disse em voz alta. Nada disso. Como foi pretensioso", escreveu.

Em resposta, Pierson refez novamente a crítica, acrescentando que as marcas seriam "feias" e "incivilizadas". "Então vou dizer de novo — tatuagens faciais, especialmente em uma diplomata, são o cúmulo do acordado feio e incivilizado!", escreveu.

Devido a essa polêmica, a Might Ape recebeu um tweet de um usuário alertando para a sequência de comentários de Pierson. A empresa respondeu, em inglês misturado com maori, que cancelaria de circulação a obra da autora "Western Values Defended: A Primer, de 2016, — não há versão em português.

"Saudações. Obrigado por trazer esse assunto a nossa atenção. Tornamos o livro indisponível e não o disponibilizaremos novamente", diz o tweet da loja.

A escritora, por sua vez, comentou ao site Mail Online, que está recebendo ameaças de morte e não sabia que a Mighty Ape era vendedora do livro, mas que "não está perturbada com isso [o fato de o livro não ser mais vendido]". Afirmou ainda que a "cultura do cancelamento é abundante na Nova Zelândia e em todo o mundo, então isso não é grande surpresa".