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Caso Robson: Rússia só deve avaliar extradição após sentença, diz senador

Robson Oliveira era motorista do jogador de futebol Fernando quando foi preso na Rússia - Reprodução
Robson Oliveira era motorista do jogador de futebol Fernando quando foi preso na Rússia Imagem: Reprodução

Luciana Amaral e Hanrrikson de Andrade

Do UOL, em Brasília

26/11/2020 04h00

A Rússia só deve avaliar uma eventual extradição de Robson Oliveira, ex-funcionário do jogador de futebol Fernando, depois que uma sentença for anunciada pela Justiça do país, afirmou o senador Nelsinho Trad (PSD-MS).

O parlamentar, que é presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, foi responsável por levar pessoalmente à Rússia, no final de outubro, uma carta na qual Jair Bolsonaro pede ao presidente russo, Vladimir Putin, perdão para o brasileiro.

"As autoridades russas me informaram que só deve ser avaliada a extradição do Robson para o Brasil após o julgamento do caso, e as autoridades brasileiras estão fazendo o trabalho diplomático para que o julgamento seja realizado o quanto antes", disse Trad.

Robson foi preso em março de 2019, um mês após chegar à Rússia, por ter entrado no país transportando duas caixas de cloridrato de metadona. O remédio é vendido legalmente no Brasil, com receita médica. Na Rússia, por sua vez, a substância é proibida por ser considerada um tipo de narcótico. O medicamento seria para o sogro de Fernando, que já estava na Rússia e sofre de dores crônicas.

O Itamaraty informou que, em abril deste ano, pediu às autoridades russas a libertação de Robson por razões humanitárias no contexto da pandemia do coronavírus, sem sucesso. Bolsonaro passou a se empenhar pessoalmente em busca da liberdade para Robson no início de outubro, quando recebeu um telefonema do jogador Felipe Melo (Palmeiras).

Depois do apelo do atleta, o governante delegou ao chanceler Ernesto Araújo a missão de negociar junto ao embaixador russo no Brasil a resolução do caso. O ministro foi orientado, à época, a iniciar as tratativas diretamente com Putin, caso fosse necessário.

Desde outubro, Bolsonaro afirmou em pelo menos três ocasiões que procuraria Putin na tentativa de interceder por Robson. Nas últimas semanas, houve uma aproximação política entre os dois líderes. O brasileiro chegou a divulgar um vídeo no qual recebe elogios do presidente russo.

Segundo palavras de Bolsonaro, o caso é "complexo, mas não impossível de ser solucionado".

De acordo com relatos de auxiliares, o presidente reagiu com surpresa ao ser informado que, em caso de sentença máxima, Robson poderia ser punido com 20 anos de prisão. Tanto a defesa de Robson quanto o governo brasileiro buscam demonstrar que ele não sabia da proibição do cloridrato de metadona encomendado pela família de Fernando na Rússia e não tinha intenção de violar as leis locais.

Nenhum avanço até o momento

Apesar de toda a mobilização do Brasil, a articulação não resultou em avanços para a situação de Robson até o momento. Nelsinho Trad se reuniu com autoridades do governo Putin, mas o recado é de que interferências do governo brasileiro não serão aceitas antes do julgamento de Robson no país.

A tentativa agora é fazer com que uma sentença seja anunciada o mais rapidamente possível e Robson cumpra a eventual pena no Brasil, mas o processo está atrasado.

"O julgamento do Robson atrasou porque a [primeira] juíza responsável pelo caso se aposentou e também houve a pandemia, e com isso o processo se prolongou por mais tempo", disse Trad.

A nova juíza solicitou a retipificação penal da acusação para um crime mais grave, de "contrabando de drogas e tentativa de tráfico", com pena que pode chegar a 20 anos, informou o Itamaraty. Após a confirmação da decisão em tribunal de apelação, o processo retornou à instância investigatória, acrescentou.

A magistrada decidiu pela prorrogação da prisão preventiva de Robson, prevista para até 9 de abril de 2021. Audiências foram promovidas ao longo de novembro e Robson deve prestar depoimento em 8 de dezembro, ainda segundo a pasta das Relações Exteriores.

Nesta semana, o advogado do Robson na Rússia, Pavel Gerasimov, disse ao colunista do UOL Mauro Cezar Pereira que desconhece até agora qualquer impacto provocado por uma tentativa diplomática pela liberação do brasileiro. Mas deixou claro que outros casos de perdão já foram concedidos pelo governo russo e que um pedido de Brasília a Moscou pode, sim, colaborar no trabalho da defesa para que ele volte para casa, no Rio de Janeiro.

Procurado pelo UOL, o Itamaraty informou que a Embaixada do Brasil em Moscou acompanha o caso desde o início, prestando toda a assistência legal e material possível, com respeito aos tratados internacionais vigentes e à legislação local. O Itamaraty também afirmou que autoridades do consulado brasileiro realizam visitas frequentes a Robson. A mais recente aconteceu em 16 de novembro, afirmou.

A reportagem entrou em contato com a Embaixada da Rússia no Brasil, mas não obteve resposta.

O que diz a família de Fernando

Ao UOL a sogra de Fernando, Sibele Vieira Rivoredo, disse que a família do jogador acompanha o caso de perto, apoia Robson desde o início e torce pela libertação dele. Segundo ela, a família buscou o consulado brasileiro, logo após a prisão, contratou o advogado indicado e tem arcado com as despesas da defesa de Robson na Rússia, além de despesas na cadeia.

"Nós também oferecemos o pagamento da fiança por três vezes, mas a justiça russa infelizmente negou. Na última vez, a fiança que oferecemos foi de 10 milhões de rublos [moeda russa, valor que equivale a cerca de R$ 704 mil]. No começo do caso tentamos conseguir pelo menos que ele respondesse em liberdade, indicamos a nossa casa como endereço fixo dele no país, mas isso também foi negado", informou.

Sibele disse a família mostrou a receita médica emitida no Brasil dirigida ao seu marido, William Pereira de Faria.

"A gente tem seguido todas as indicações dos advogados de defesa do Robson e, se for preciso ou se nos pedirem, estamos à disposição para prestar depoimento, seja aqui no Brasil ou na Rússia", afirmou Sibele.

A sogra de Fernando disse ainda que a família está "com a esperança" de que os governos de ambos os países consigam resolver o caso pela diplomacia.