Médico nos EUA trabalha sem folgas desde março no combate à covid-19
Joseph Varon, um médico de 58 anos, ganhou as manchetes internacionais nos últimos dias. Desde março, ele trabalha todos os dias no combate à pandemia do novo coronavírus. Até hoje, são 273 dias sem folgas.
Entre um dia e outro de trabalho, Varon dorme em média três horas. Chefe de seu departamento no United Memorial Medical Center, em Houston, ele comanda uma equipe que cuida de uma unidade com, em média, 45 pacientes.
A equipe, é claro, está esgotada. Mas ele não se abate.
"Era isso que eu deveria fazer", disse o médico, nascido na Cidade do México, em entrevista publicada pelo jornal The Washington Post no último fim de semana.
Nesta reta final de 2020, Varon e outros médicos têm trabalhado para pesquisar e desenvolver protocolos para prevenção e tratamento da covid-19. Usando substâncias como anticoagulantes e ácido ascórbico, a equipe vem conseguindo melhores resultados para diminuir o número de pacientes intubados, por exemplo.
"Esta é uma situação de guerra, na qual você não espera a próxima bomba te atingir. Ao invés disso, você pega o que estiver disponível e enfrenta", ele disse. "Você não senta e espera a cura cair do céu."
'Se eu não fizer, ninguém fará'
Ao longo da carreira, Varon já passou por diversas situações de desgaste. Em 1985, por exemplo, integrava a equipe de um hospital da Cidade do México que foi atingido por um terremoto de 8,1 graus na Escala Richter.
Nada que o preocupe tanto quanto a pandemia do novo coronavírus, que ele chama de "Aids de curto prazo". "Eu já vi desastres na minha frente durante toda minha vida", controu. "A única coisa que me assustou foi o corona."
Mesmo em dias nos quais recebe seis pacientes em uma hora, Joseph Varon diz que não pensa em descansar neste momento.
"Eu não tirei nem sequer um dia de folga porque tenho que cuidar destes pacientes. Se eu não fizer isso, ninguém fará", argumenta o médico, que diz que a esposa teme por um derrame ou um infarto dele durante o trabalho.
Abraço
Ao longo deste período, Varon se tornou nome conhecido e ganhou destaque na imprensa. Em novembro, estava trabalhando em seu 252º dia consecutivo quando viu um idoso perturbado na UTI da covid-19.
O abraço reconfortante de Varon ao homem de cabelos brancos no Dia de Ação de Graças foi capturado por um fotógrafo para a Getty Images e viralizou em todo o mundo.
Varon disse à CNN que estava entrando na UTI para covid quando viu o paciente "fora da cama e tentando sair do quarto".
"E ele está chorando", disse Varon. "Então, chego perto dele e (pergunto): 'Por que você está chorando?'"
"E o homem disse: 'Quero ficar com minha esposa'. Então eu apenas o seguro e o abraço", disse Varon. "Eu estava sentindo muita pena dele. Eu estava me sentindo muito triste, assim como ele."
"De repente, ele se sentiu melhor e parou de chorar", contou Varon à CNN.
"Não sei por que não desmoronei", disse o médico. "Minhas enfermeiras choram no meio do dia".
Varon disse que o isolamento na unidade de covid é difícil para muitos pacientes, principalmente os idosos.
"Você pode imaginar", disse ele. "Você está dentro de uma sala onde as pessoas chegam em trajes espaciais".
"Quando você é idoso é mais difícil porque você está sozinho", disse ele. "Alguns choram. Alguns tentam fugir", disse ele. "Na verdade, tivemos alguém que tentou escapar por uma janela outro dia".
Precauções
Varon também trouxe uma mensagem para as pessoas que não estão tomando precauções em meio à pandemia.
"As pessoas estão em bares, restaurantes, shoppings", disse o médico. "É uma loucura. As pessoas não ouvem e aí vão para a minha UTI".
"O que as pessoas precisam saber é que não quero ter que abraçá-las. Elas precisam fazer as coisas básicas - manter distanciamento social, usar máscaras, lavar as mãos e evitar ir a lugares onde há muitas pessoas", disse ele.
"Se as pessoas fizessem isso, profissionais de saúde como eu poderiam descansar", concluiu.
* Com informações da AFP
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