Sem dinheiro para avião, homem viajou da Austrália aos EUA em caixa
Brian Robson era um jovem de apenas 19 anos em 1964, quando decidiu deixar sua terra natal, o País de Gales, com passagem apenas de ida para a Austrália, que na época investia na propaganda de imigração.
Mas sem família e enfrentando condições difíceis de moradia, logo o rapaz se arrependeu da decisão e, sem recursos para pagar um bilhete de volta para casa, teve que recorrer a uma saída desesperada: com a ajuda de dois amigos, ele se despachou no bagageiro de um avião, dentro de uma caixa.
57 anos depois da história, que acabou repercutindo em jornais do mundo inteiro, Robson deseja localizar seus companheiros John e Paul, dois irlandeses que fecharam o caixote com pregos para mandá-lo de volta ao Reino Unido, sem esperar que um problema no voo fosse acabar despachando o jovem para os Estados Unidos.
"A última vez que falei com John e Paul foi quando um deles bateu na lateral da caixa e disse 'Você está bem?'", relatou o senhor, hoje com 76 anos, à CNN Internacional. "Eu disse 'sim' e eles disseram 'Boa sorte!'. Adoraria vê-los novamente", completou.
Mudança de planos e a 'fuga'
Depois do seu aniversário de 19 anos, Robson foi para a Austrália, mas a realidade que encontrou não lhe agradou: sua locação, um albergue, estava infestada de ratos. Mesmo sem ter iniciado o contrato de trabalho que ele firmou quando ainda estava no País de Gales, ele já queria voltar para casa.
Mesmo insatisfeito, o rapaz ainda ficou por sete meses no emprego, em uma operadora ferroviária, até que largou o emprego e o albergue, viajou pelo interior da Austrália e começou a trabalhar em uma fábrica de papel.
Preso ao programa de imigração, ele só poderia voltar legalmente para casa pagando, além de seu voo de volta, uma taxa da passagem de ida ao país, que foi custeada pelo governo australiano.
Somando as despesas, Robson precisava juntar entre 700 e 800 libras esterlinas, cerca de R$ 5.400 e R$ 6.200 na cotação atual, enquanto ganhava apenas 30 libras esterlinas por semana (R$230).
Mas ele encontrou a saída inesperada em uma de suas noites no albergue, quando encontrou John e Paul, também recém-chegados à Austrália, que o ajudaram no plano de entrar em uma caixa e voltar para casa.
Segundo Robinson, Paul achou que a ideia era "estúpida" e John reagiu com mais tranquilidade. "Passamos três dias conversando sobre isso e acabei tendo os dois do meu lado", disse ele à CNN Internacional.
Demorou um mês para o plano de Robson ser colocado em prática. Dentro do caixote, junto a si mesmo, ele ainda levou uma mala, um travesseiro, uma tocha, uma garrafa de água, uma garrafa para urinar e um pequeno martelo para "se libertar".
Depois de se certificar de que o amigo estava bem, John e Paul chamaram um caminhão que transportou o objeto ao aeroporto. De lá, Robson passou por uma jornada que incluiu desafios como a falta de oxigênio, já que na época os aviões não eram pressurizados, além da caixa repentinamente virada para baixo e uma inesperada mudança de rota da aeronave.
Confira entrevista de Brian Robson ao programa britânico "This Morning" (em inglês):
A chegada no Reino Unido
Robson contou que apesar de a caixa em que estava ter sido despachada com destino a Londres, uma superlotação no voo original fez com que o "pacote" parasse em uma escala em Los Angeles.
Segundo ele, a viagem da suposta mercadoria acabou se estendendo por cinco dias. Nesse período, o homem relatou que sofreu com "dores insuportáveis" e momentos de confusão mental.
Quando o bagageiro finalmente foi esvaziado, nos Estados Unidos, Robson esperou o anoitecer para abrir a caixa, mas acabou descoberto por funcionários do aeroporto.
Mesmo tendo entrado ilegalmente no país, depois de uma averiguação que descartou que ele fosse perigoso, o rapaz foi encaminhado para um hospital, onde ficou seis dias se recuperando.
A essa altura, diversos jornalistas queriam ouvir sua história.
Com as possíveis acusações pelo voo ilegal descartadas, depois de receber alta, Robson ganhou um assento em um avião da Pan Am para Londres, na primeira classe, onde ele desembarcou em 18 de maio de 1965, acompanhado de perto por câmeras de televisão.
Esperança de reencontro
Apesar de seu rosto ter ganhado as telas pelo mundo, só agora Robson irá contar mais de sua história, lançando um livro intitulado "The Crate Escape" (A Fuga da Caixa, em tradução livre).
Ele ainda afirma que sua história vai virar um filme, sem dar mais detalhes da produção.
Ao relembrar o que passou, ele pondera que gostaria de reencontrar os colegas, John e Paul, com quem nunca mais teve contato, e se desculpar caso eles tenham sofrido alguma punição pelo que fizeram.
Apesar de ainda não ter perspectiva de se reunir com os dois, ele garantiu à CNN Internacional que recebeu notícias encorajadoras sobre a dupla. Até hoje, Robson nunca mais voltou à Austrália, mas diz que não descarta a viagem com uma condição.
"Outro dia, um repórter australiano me perguntou se eu consideraria voltar. Eu disse: 'Só se alguém pagar minhas despesas e for para o reencontro [com John e Paul]. Fora isso, não, obrigado'".
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