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Fernández rebate Bolsonaro por post sobre uso de exército argentino

"Seria necessário explicar (a Bolsonaro) um pouco como funciona a Constituição", diz Alberto Fernández  - Ricardo Ceppi/Getty Images
"Seria necessário explicar (a Bolsonaro) um pouco como funciona a Constituição", diz Alberto Fernández Imagem: Ricardo Ceppi/Getty Images

Do UOL, em São Paulo

15/04/2021 10h55Atualizada em 15/04/2021 11h11

Um post publicado na manhã de hoje pelo presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), sobre o uso do exército argentino durante a pandemia do novo coronavírus, gerou reação do presidente da Argentina, Alberto Fernández.

Em entrevista à Rádio 10, Fernández contestou o uso do termo "toque de recolher" e disse que Bolsonaro precisaria entender um pouco sobre a Constituição argentina antes de opinar sobre o país.

No tuíte, o presidente brasileiro compartilhou uma notícia sobre as novas medidas restritivas anunciadas ontem pela Argentina com a seguinte legenda. "Exército Argentino nas ruas para manter o povo em casa. Toque de recolher entre 20h e 08h. Bom dia a todos".

Segundo Fernández, as Forças Armadas não farão a segurança interna, reforçando o posicionamento do ministro da Defesa, Agustín Rossi, que mais cedo explicou que a atuação militar será "durante o dia, sem o uso de armas e para cumprir tarefas sanitárias'

"Seria necessário explicar (a Bolsonaro) um pouco como funciona a Constituição. Primeiro, não há toque de recolher na Argentina, as Forças Armadas não fazem a segurança interna", disse Fernández.

"As Forças Armadas estão aí para dar apoio às pessoas em situações catastróficas, a pandemia é uma situação catastrófica", completou. Segundo o jornal Clarín, o presidente considerou 'chocante' que Bolsonaro pense desta maneira.

A notícia compartilhada por Bolsonaro de fato foi publicada no perfil de Instagram do site jornalístico Infobae. Ela falava em 'toque de queda', cuja tradução 'toque de recolher' se enquadra. Na legenda, a chamada dizia que pela "primeira vez o exército sairia para a rua para controlar o cumprimento de medidas drásticas anunciadas pelo presidente".

As medidas anunciadas ontem por Alberto Fernández geraram polêmica, com forte reação de setores da sociedade argentina, com registro de panelaços. O país registrou quase cinco vezes mais casos diários de covid-19 do que há um mês.

As medidas de restrição passam a valer a partir de amanhã, com controle de circulação das 20h às 6h e o horário comercial, de 9h às 19h. Já os estudantes da capital voltarão ao ensino remoto, por um período de duas semanas.

Diante da reação inicial, Fernández e outros representantes do governo concedem entrevistas na manhã de hoje para explicar as medidas. Além de rechaçar o uso 'toque de recolher', que também foi usado por agências internacionais como a AFP, o presidente argentino especificou o uso das Forças Armadas depois de diversas críticas.

"Tenho um apreço muito alto pelo nosso exército, nossa marinha e nossa força aérea. São líderes que não participaram dos acontecimentos aberrantes dos anos 70, são oficiais que fizeram carreira com honestidade, defendem a democracia e as instituições", disse Fernández.

Bolsonaro e a visão sobre Exército na pandemia

No Brasil, Jair Bolsonaro frequentemente tem dito que as Forças Armadas não serão usadas para o cumprimento de medidas restritivas adotadas por municípios e estados, apesar de até o momento ninguém ter feito o pedido. Especialistas apenas reforçam a recomendação de um 'lockdown' nacional para frear a pandemia no Brasil, que vive seu pior momento.

Recentemente, Bolsonaro trocou o ministro da Defesa, alçando Braga Netto para o lugar de Fernando Azevedo e Silva. Houve troca de comando também no Exército, Marinha e Aeronáutica.

Com o post, Bolsonaro mais uma vez tenta marcar uma oposição em relação ao governo de Alberto Fernández, pautada pela ideologia esquerda x direita. A relação é tensa entre os dois desde a campanha eleitoral que culminou com a eleição do presidente argentino.

Durante a pandemia, a contraposição entre os dois também é acentuada, com Bolsonaro criticando a Argentina por ter implementado uma política com medidas mais restritivas. O presidente brasileiro é crítico de controles de circulação.