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Lituânia proíbe voos de cruzarem espaço aéreo de Belarus

O jornalista Roman Protasevich, de 26 anos, opositor do regime do presidente da Bielorrússia, Alexander Lukashenko (foto de arquivo, 2017) - Reuters
O jornalista Roman Protasevich, de 26 anos, opositor do regime do presidente da Bielorrússia, Alexander Lukashenko (foto de arquivo, 2017) Imagem: Reuters

Do UOL, em São Paulo

24/05/2021 10h00Atualizada em 24/05/2021 10h06

O governo da Lituânia decidiu proibir todos os voos com saída ou destino aos seus aeroportos de cruzar o espaço aéreo de Belarus a a partir de amanhã.

A medida foi anunciada hoje, um dia depois que o voo 4678 da companhia Ryanair com destino a Vilnius, capital da Lituânia, ter sido desviado quando estava no espaço aéreo bielo-russo por ordem do presidente Alexander Lukashenko.

Inicialmente, o governo bielo-russo alegou que havia uma suposta ameaça de bomba, o que não foi confirmado. A bordo do voo estava o jornalista dissidente Roman Protasevich, um dos principais opositores de Lukashenko.

Uma das empresas aéreas da Lituânia, a AirBaltic, já colocou a medida em prática e "decidiu evitar entrar no espaço aéreo bielo-russo até que a situação se esclareça, ou as autoridades tomem uma decisão", disse a empresa em um comunicado. "A segurança e a saúde dos nossos passageiros e funcionários é a principal prioridade da companhia aérea", frisou, acrescentando que vai acompanhar de perto a situação.

O avião foi escoltado à terra por um caça de combate por ordem direta do presidente bielo-russo, segundo o serviço de imprensa de Lukashenko.

Protaseviche e a namorada, a russa Sofia Sapega, foram detidos e separados dos cerca de 170 passageiros, que foram levados para um centro de controle. Eles aguardaram em Minsk por quase sete horas antes de retomar a viagem em direção a Vilnius, a capital lituana. Quanto ao casaol não há informações sobre o seu paradeiro.

Colegas do jornalista informaram que há relatos de que representantes da Agência de Segurança de Belarus (KGB) estavam no voo. No ano passado, ele foi colocado em uma lista de procurados após participar de protestos contra a reeleição de Lukashenko. Adversários reclamam que houve fraude eleitoral.

Em sua primeira reação oficial após o incidente, o Ministério das Relações Exteriores de Belarus insistiu em que o país agiu de maneira legal.

"Não há dúvida de que as ações de nossas autoridades competentes (...) cumpriram plenamente as normas internacionais estabelecidas", afirmou o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Anatoly Glaz, em um comunicado, no qual acusa o Ocidente de "politizar" a situação.

"Terrorismo de Estado"

A UE e outros países ocidentais já adotaram várias sanções contra o governo de Lukashenko pela repressão brutal das manifestações da oposição, após sua polêmica reeleição para o sexto mandato em agosto do ano passado.

Ao lado de seu cofundador Stepan Putilo, Protasevich comandava até recentemente o canal Nexta, no aplicativo de mensagens Telegram, que estimulou e coordenou os protestos. Estas mobilizações foram o maior desafio ao governo de Lukashenko desde que ele assumiu o poder nesta ex-república soviética, em 1994.

O desvio do avião foi condenado com veemência na Europa. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, chamou-o de "indigno e ilegal", a Polônia denunciou um "ato de terrorismo de Estado", e a França pediu uma "resposta forte e unida".

A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) exigiu uma investigação sobre o "grave e perigoso incidente", enquanto o secretário de Estado americano, Antony Blinken, considerou a ação "impactante" por colocar em perigo "as vidas de 120 passageiros, incluindo cidadãos americanos".

Principal aliada de Belarus, a Rússia não mostrou preocupação, e a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Maria Zakharova, ironizou a indignação ocidental.

"Nos surpreende que o Ocidente considere 'surpreendente' o incidente no espaço aéreo de Belarus", afirmou Zakharova no Facebook, antes de acusar os países ocidentais de "sequestros, pousos forçados e detenções ilegais".

Com quase dois milhões de assinantes no Telegram, Nexta Live e seu canal irmão são meios de comunicação importantes da oposição e ajudaram a mobilizar os manifestantes.

"É absolutamente óbvio que se trata de uma operação do serviço secreto para capturar o avião, com o objetivo de deter o ativista e blogueiro Roman Protasevich", afirmou no Telegram a líder da oposição no exílio Svetlana Tikhanovskaya.

A oposição afirma que Tikhanovskaya, que fugiu para a vizinha Lituânia após as eleições, venceu a disputa presidencial no ano passado.

*Com informações da AFP