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Governador de Nova York renuncia ao cargo após acusações de assédio

Do UOL, em São Paulo*

10/08/2021 13h12Atualizada em 10/08/2021 16h12

O governador de Nova York, Andrew Cuomo, 63, renunciou hoje ao cargo após investigação da procuradoria-geral do estado concluir que ele assediou 11 mulheres. Em vídeo publicado nas redes sociais, Cuomo diz que sempre abraçou e beijou mulheres e homens casualmente e nega qualquer crime.

"Eu achei que um abraço, que colocar o braço ao redor de uma das minhas funcionárias era amigável, mas ela considerou uma investida. Eu beijei a bochecha de uma mulher num casamento, achei que estava sendo gentil, mas ela achou agressivo", relatou Cuomo.

Assumo responsabilidade pelas minhas ações, abraço e beijo pessoas casualmente, homens e mulheres. Fiz isso minha vida toda. É quem eu sou desde que me lembro. Na minha cabeça, nunca ultrapassei o limite."
Andrew Cuomo, governador de Nova York, ao renunciar do cargo

"Acho que, dadas as circunstâncias, a melhor forma de ajudar agora é me afastar e deixa o governo lidar com o governo", afirmou. "Minha renúncia terá efeito dentro de 14 dias".

A vice-governadora Kathy Hochul assumirá o cargo de Cuomo até dezembro de 2022, conforme definido na Constituição estadual, tornando-se a primeira mulher a ocupar o cargo.

A investigação contra Cuomo começou após duas ex-assessoras denunciarem o político. Para a procuradora-geral de Nova York, Letitia James, o ex-governador violou leis estaduais e federais.

O relatório apontou que Cuomo fez "toques indesejados e não consensuais e fez vários comentários ofensivos" e que as mulheres viveram em um "ambiente de trabalho hostil e tóxico".

Cuomo estava sob pressão desde a divulgação do inquérito. Além de colegas do partido, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, também pediu que ele renunciasse.

A renúncia de Cuomo marca a segunda vez em 13 anos que um governador de Nova York renuncia após um escândalo —em 2008 foi Eliot Spitzer que deixou o cargo por envolvimento com prostitutas. Cuomo também se tornou o mais recente homem poderoso derrubado após a ascensão do movimento social #MeToo contra o abuso e assédio sexual que abalou a política, Hollywood, o mundo dos negócios e os locais de trabalho.

Acusações feitas por 11 mulheres

Onze mulheres acusaram Cuomo de assédio, segundo o relatório da investigação. Entre os diferentes relatos, foram registradas as seguintes denúncias:

  • Oito mulheres dizem que Cuomo fez comentários ofensivos ou de cunho sexual;
  • Sete mulheres dizem que Cuomo as tocou ou apalpou de forma inadequada pelo menos uma vez;
  • Quatro mulheres alegam que Cuomo as beijou sem consentimento delas.

Em um caso, Cuomo e sua equipe retaliaram uma ex-funcionária que fez acusações contra ele, segundo a procuradora-geral do Estado, Letitia James.

Outro relato é de que o governador supostamente colocou a mão sob a blusa de uma assistente para tocar seu seio. E outras mulheres descreveram ter sido apalpadas, beijadas ou postas no colo pelo governador.

Joon Kim, que também coordenou a investigação, descreveu as situações como parte de "uma cultura em que não se podia dizer não ao governador e se você incomodasse ele ou sua equipe sênior, seria eliminada, colocada de lado ou pior".

Antes do relatório, algumas acusações já eram públicas — e motivaram a investigação. A primeira foi da ex-assessora do governador Lindsey Boylan, ainda em 2020, que acusou Cuomo de assediá-la sexualmente.

Depois do primeiro relato, ela detalhou neste ano as alegações de assédio sexual. Acusou Cuomo de beijá-la na boca e pedir para ela jogar "strip poker" enquanto estava em seu jato particular.

A ex-assessora também disse que ele a tocou sem consentimento e frequentemente fazia comentários inapropriados para ela e outras mulheres sobre as aparências delas.

No início deste ano, uma segunda ex-assessora apresentou acusações de assédio contra Cuomo. Charlotte Bennett, conselheira de Políticas de Saúde do governador até novembro, disse ao jornal The New York Times que ele a assediou no ano passado.

Na ocasião, Cuomo negou qualquer comportamento impróprio e ordenou um inquérito independente sobre as acusações.

Carreira política

O agora ex-governador ocupava desde 2011 o mesmo cargo que seu pai, Mario Cuomo. Ele foi reeleito em 2014 e 2018 e, até agora, era considerada sua intenção voltar a se candidatar em 2022.

Cuomo adotou várias leis progressistas, como o casamento gay em 2011 e o salário mínimo de US $ 15 a hora. Ele também foi ex-secretário de Habitação de Bill Clinton e casado com uma das filhas de Bob Kennedy.

Foi especialmente no período mais difícil da pandemia de coronavírus, durante a primavera de 2020, quando Nova York estava totalmente sob o impacto da covid-19, que Cuomo adquiriu visibilidade como figura nacional. Com as suas conferências de imprensa diárias, racionais e tranquilizadoras, este político experiente com fama de ser duro e autoritário mudou de status.

*Com Reuters e AFP