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EUA fazem ataque no Afeganistão e dizem ter matado membro do EI

Presidente dos EUA, Joe Biden, afirmou ontem em pronunciamento que iria "caçar" os terroristas responsáveis pelo ataque em Cabul - Leah Millis/Reuters
Presidente dos EUA, Joe Biden, afirmou ontem em pronunciamento que iria 'caçar' os terroristas responsáveis pelo ataque em Cabul Imagem: Leah Millis/Reuters

Do UOL, em São Paulo

27/08/2021 22h57Atualizada em 28/08/2021 09h31

Os Estados Unidos lançaram um drone no Afeganistão na noite de ontem. O ataque mirava líderes do EI-K, braço do Estado Islâmico no país, e foi uma resposta ao atentado de quinta-feira (26) realizado pelo grupo na entrada do aeroporto de Cabul, segundo informações da imprensa internacional.

"As forças militares dos EUA realizaram uma operação de contraterrorismo além do horizonte hoje contra um planejador do ISIS-K. O ataque aéreo não tripulado ocorreu na província de Nangahar, no Afeganistão. As indicações iniciais são de que matamos o alvo. Não sabemos de nenhuma vítima civil", afirmou Bill Urban, porta-voz do Comando Central americano.

Não está claro se o indivíduo que foi alvo do ataque estava envolvido no atentado de quinta-feira em Cabul, que deixou ao menos 170 mortos — entre eles 13 militares estadunidenses — e 200 feridos. A identidade dele ainda não foi revelada.

Um oficial informou à Reuters que havia uma outra pessoa no carro que foi atacado, provavelmente um parceiro, que os EUA acreditam que também morreu.

Biden autorizou ataque

O presidente Joe Biden autorizou o ataque, segundo oficiais ouvidos pela agência de notícias AP e pela rede de TV CNN. À AP, uma fonte disse que, após a autorização, o ataque foi ordenado pelo secretário de Defesa, Lloyd Austin.

A ação acontece após o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, afirmar em pronunciamento que o país não esqueceria nem perdoaria os terroristas. "Vamos caçá-lo e fazê-los pagar. Defenderei nossos interesses com todas as medidas que estiverem ao meu alcance", disse Biden.

Centenas de pessoas já morreram no Afeganistão desde que o Talibã tomou o poder após a saída das forças militares dos Estados Unidos. Biden chegou a admitir a responsabilidade pela tragédia na região, mas não voltou atrás de seu plano de remover todos os militares até o dia 11 de setembro.

EUA temem novo ataque terrorista

A Embaixada dos EUA em Cabul alertou novamente os cidadãos norte-americanos em vários portões do aeroporto para "partirem imediatamente", citando ameaças à segurança.

"Os cidadãos americanos que estão agora no portão de Abbey, no portão Leste, no portão Norte ou no portão do Novo Escritório do Interior devem sair imediatamente", informou a embaixada.

Após o ataque terrorista de quinta, a equipe de segurança nacional do presidente Biden disse a ele que "outra ação terrorista em Cabul é provável, mas que estão tomando medidas de proteção de força máxima no aeroporto de Cabul", segundo a secretária de imprensa da Casa Branca, Jen Psaki.

5.400 pessoas aguardam para deixar Afeganistão

O aeroporto de Cabul ainda tem 5.400 pessoas que aguardam para deixar o país, informou o general americano Hank Taylor, antes de destacar que as retiradas prosseguirão "até o último momento".

Mais de 109 mil pessoas saíram do país pelo aeroporto desde 14 de agosto, um dia antes da entrada dos talibãs em Cabul, segundo o governo americano.

A Otan e a União Europeia solicitaram a continuidade das retiradas, apesar do atentado, mas vários países concluíram os voos a partir da capital afegã.

Um dos últimos foi a França que, no entanto, anunciou negociações com os talibãs para poder continuar com a retirada de afegãos depois de 31 de agosto. Suíça, Itália, Espanha, Suécia, Alemanha, Holanda, Canadá e Austrália anunciaram o fim da missão.

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, afirmou que as operações do país estavam nas "últimas horas", mas se comprometeu a fazer de tudo para ajudar na saída dos afegãos aptos a pedir asilo.

A Itália foi o país da UE que mais retirou pessoas do Afeganistão, com 4.900, segundo o governo de Roma.

O que é o EI-K?

O ramo afegão da organização terrorista EI (Estado Islâmico), conhecido como Estado Islâmico Khorasan ou EI-K, assumiu a responsabilidade pelos ataques de quinta. O nome do grupo vem da província de Khorasan, uma região que durante a Idade Média englobava grandes áreas do Afeganistão, Irã e Ásia Central.

Para o grupo terrorista, o Talibã é moderado demais. Um abismo ideológico separa os grupos militantes. Enquanto o EI pertence ao movimento salafista do Islã, o Talibã aderiu à escola Deobandi.

E enquanto o Talibã parece satisfeito —pelo menos por agora— com um emirado para si no Afeganistão, o Estado Islâmico no Afeganistão e no Paquistão se esforça para estabelecer um califado em toda a Ásia central e do sul, além de ter abraçado a campanha do Estado Islâmico por uma jihad mundial contra não muçulmanos.

Há também a questão da sharia e como ela é interpretada. Para o EI-K, as interpretações da lei islâmica pelo Talibã não são rígidas o bastante.

Os combatentes do EI chamaram os talibãs de apóstatas e maus muçulmanos por causa de sua disposição de negociar um acordo de paz com os Estados Unidos. Ao fazer isso, eles teriam traído os objetivos da jihad, afirmaram combatentes do EI.

Veja cronologia resumida da relação entre EUA e Afeganistão nos últimos 20 anos:

13/11/2001: Ataques aéreos e terrestres feitos pelos Estados Unidos levaram à queda do governo afegão.

2/12/2001 a 5/12/2001: Uma conferência da ONU (Organização das Nações Unidas) na Alemanha resulta em um acordo para formação de um governo interino no Afeganistão.

01/2004: Afeganistão promulga uma nova Constituição.

9/10/2004: Afeganistão realiza eleições diretas e democráticas.

1/12/2009: Presidente dos EUA Barack Obama anuncia o envio de mais 30 mil tropas americanas para o Afeganistão. Com isso, em 2010 passaram a atuar no Afeganistão quase 100 mil tropas, além das 40 mil da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte).

2/05/2011: Tropas americanas matam Osama Bin Laden no Paquistão.

22/06/2011: Obama anuncia um plano para reduzir o número de tropas no Afeganistão e afirma que a operação no país deve ser encerrada até 2014.

30/09/2014: Estados Unidos e Afeganistão assinam um acordo que permite que as tropas norte-americanas permaneçam no país além do prazo previsto anteriormente de dezembro de 2014.

9/12/2019: Documentos confidenciais obtidos pelo jornal americano The Washington Post mostram que oficiais estado-unidenses esconderam da população americana dúvidas de que o país seria bem-sucedido na guerra.

14/04/2021: O presidente Joe Biden anuncia sua decisão de remover todas as tropas do Afeganistão antes do dia 11 de setembro de 2021.

*Com AFP