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Pandemia aumenta caça ilegal no Quênia, e até girafas viram alimento

Caçada ilegal de carne no Quênia está aumentando, segundo a CNN - Reprodução/CNN
Caçada ilegal de carne no Quênia está aumentando, segundo a CNN Imagem: Reprodução/CNN

Colaboração para o UOL

16/09/2021 12h03Atualizada em 17/09/2021 09h05

A caça ilegal de carne está aumentando no Quênia e as principais razões são o desemprego e a fome, informa a CNN. Uma equipe de reportagem participou de uma ronda rotineira com guardas florestais do Santuário de Vida Selvagem de Taita Hills e encontrou de armadilhas a carcaças de animais na mata.

A imagem mais impressionante foi de uma caixa torácica de girafa, que sofreu um ataque de caçadores provavelmente duas semanas antes da gravação. "É muita carne, pesa cerca de uma tonelada", explicou Donart Mwakio, responsável por uma das patrulhas.

As rondas são realizadas duas vezes ao dia em uma reserva natural que fica a 200 quilômetros da costa do Quênia. O guarda contou que, devido à pandemia, muitos moradores perderam o emprego e estão recorrendo à caça ilegal como forma de ganhar a vida.

Além da carcaça de girafa, o grupo também encontrou uma série de armadilhas penduradas em árvores e no chão. Uma delas estava presa na perna de um elande, o maior antílope africano. Os caçadores deixaram a carcaça apodrecer sob o sol porque, muito provavelmente, não conseguiram voltar a tempo de retirar a carne do animal.

Diretor-geral do Kenya Wildlife Service (KWS), John Migui Waweru afirmou que as pessoas estão desesperadas pelo desemprego. "Elas encontraram formas alternativas de sobreviver", destacou à CNN.

O gerente geral do santuário de vida selvagem e dos dois hotéis construídos no local, Willie Mwadilo, conta que, na baixa temporada, os empreendimentos contavam com cerca de 80% de ocupação no pré-pandemia. Hoje, o fluxo não passa de 20%. "As pessoas me pedem um emprego e eu não tenho um trabalho para dar a elas", disse.

A equipe da CNN também passou pelo vilarejo de Mwashuma, que fica próximo à estrada que liga os hotéis à rodovia principal, e conversou com Cristopher Mwasi, uma espécie de ancião local. Ele afirmou que não conhece nenhum caçador ilegal, mas que eles operam em segredo.

"Se as pessoas estiverem empregadas, não estarão envolvidas em caça ilegal", argumentou. Muitos dos moradores da região não sabem de onde virá a próxima refeição.

Ibrahim Chombo, primo de Mwasi, que mora em uma casa de tijolos de barro e sem eletricidade, contou que atualmente precisa se desdobrar para ganhar cerca de 7 dólares por dia para garantir que sua família, formada pela esposa e dois filhos pequenos, tenha o suficiente para comer.

No dia da reportagem, Chombo encontrou um trabalho cavando uma latrina - recebeu US$ 1,37 para cada pé que cavou (aproximadamente 30,5 cm). Pela manhã, levou mais de 5 horas para cavas 3 pés.

Um jovem que vende carne de caça ilegal falou à CNN sob a condição de anonimato. Ele contou que, devido a pandemia, trocou um pedaço de terra por uma motocicleta alugada e se tornou um intermediário entre os caçadores e o mercado. "Precisamos de emprego, este é o grande problema".

Outro, que também pediu para não ser identificado, detalhou como ocorre a caça. "Usamos lanternas. Quando você aponta a luz para o animal à noite, ele perde a visão e aí você o acerta".

A KWS acredita que os esforços para reduzir a caça ilegal podem gerar resultados em breve. Segundo a CNN, eles estão focados em fechar os mercados que vendem carne de caça e os guardas seguem patrulhando parques nacionais para eliminar pontos conhecidos dessa prática. "Não resolve a raiz do problema. Devemos educá-los, porque a carne de caça não é alternativa", conclui o diretor geral Waweru.