Como vídeo de uma tiktoker 'arruinou' cerca de 4.600 pesquisas científicas
Apenas 56 segundos de um vídeo publicado no TikTok pela norte-americana Sarah Frank, de 18 anos, foram suficientes para "arruinar" cerca de 4.600 estudos científicos que tiveram que descartar semanas de dados coletados. O vídeo já acumulou 4,2 milhões de visualizações.
"Bem-vindos aos 'side hustles' ['corres para ganhar dinheiro', em português livre] que eu recomendo tentar - parte um", introduz a jovem escritora e influenciadora da Flórida (EUA), ao indicar que usuários da rede social entrem no site Prolific.co. "Essa série vai ser sobre coisas que você pode fazer facilmente para ganhar um pouco mais de grana ou muito, dependendo do quanto você faz".
Com quase 60 mil seguidores, a garota recém-formada no ensino médio viu suas dicas se espalharem com força nas redes, desde que começou a postar os truques em uma série de seis vídeos iniciada em 23 de julho.
A indicação da Prolific, no entanto, teve consequências. O site de pesquisas para cientistas e empresas que realizam estudos comportamentais recebeu ao menos 30 mil inscrições. Como não contava com uma ferramenta de triagem para garantir entregas restritas a amostras populacionais representativas para cada investigação, a plataforma acabou inundada de respostas de jovens, alterando o universo dos resultados.
A empresa teve que pedir desculpas pelo ocorrido, uma vez que os pesquisadores não tiveram como controlar a mudança demográfica, nem tinham como corrigi-los imediatamente.
Há outras plataformas do tipo, como a Mechanical Turk, da Amazon. "Antes do Mechanical Turk existir, todas as pesquisas em ciências sociais tinham que acontecer em laboratório. Você precisava trazer alunos do segundo ano da faculdade e submetê-los a questionários, pesquisas e outras coisas", disse Nicholas Hall, diretor do Laboratório Comportamental da Escola de Negócios de Stanford ao portal norte-americano The Verge.
O especialista afirmou ainda que a antiga fórmula demanda um esforço demorado, ressaltando que as pesquisas online facilitam a entrega de resultados. O laboratório que ele coordena tem como uso principal a plataforma Prolific, mais voltada para cientistas.
O problema foi percebido nas semanas seguintes à dica da TikToker, quando pesquisadores começaram a estranhar as características dos entrevistados que compunham seus dados. Sebastian Deri, pesquisador da Universidade de Cornell, escreveu no Twitter que a análise dos seus estudos tinham respostas com "títulos e descrição genéricos. [...] 91% das respostas eram de mulheres e 7% de homens. [...] Como isso acontece?".
Sarah Frank disse ao The Verge que notou uma diferença depois do seu vídeo: "Menos estudos estão disponíveis para mim e para todos os outros". Antes de anunciar ao mundo sobre a plataforma, ela tinha feito um total de US$ 80 (cerca de R$ 441 na conversão atual para o real).
Após ser acusada de "arruinar" o site, ela disse acreditar que a plataforma fosse capaz de criar um sistema que lidasse com mudanças demográficas. "Prevejo que muitas pessoas que se inscreveram depois de ver meu vídeo esquecerão disso depois e o surto diminuirá", complementa.
"Antes do Tiktok, cerca de 50% das respostas em nossa plataforma vinham de mulheres. O aumento atingiu 75% por alguns dias, mas desde então esse número está diminuindo", divulgou o cofundador da Prolific, Phelim Bradley.
Segundo ele, cerca de 4.600 estudos foram interrompidos, quase um terço do total ativo na plataforma. Contudo, ele também afirmou que a maioria deve ser recuperada - apesar do grande esforço que terá de ser colocado nisso.
Em comunicado, a plataforma anunciou mudanças, o que incluirá uma melhor filtragem de participantes e também a entrega de créditos para pesquisadores afetados que tiveram taxas cobradas.
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