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Vídeo de policiais detendo apenas jovem negro em briga gera revolta nos EUA

Imagem de dois policiais algemando adolescente negro após briga em shopping em Nova Jersey - Reprodução
Imagem de dois policiais algemando adolescente negro após briga em shopping em Nova Jersey Imagem: Reprodução

Mateus Omena

Colaboração para o UOL, em São Paulo

17/02/2022 13h32Atualizada em 15/04/2022 00h33

Um vídeo que mostra policiais separando uma briga entre dois adolescentes em um shopping em Nova Jersey, nos EUA, gerou indignação entre a população, devido ao abuso da força sobre o jovem negro. O caso reacendeu o debate sobre racismo estrutural praticado por policiais.

Uma investigação sobre a conduta dos policiais está em andamento, especialmente para apurar se os dois adolescentes foram tratados de maneira diferente devido à raça.

A confusão ocorreu no sábado (12), quando os dois rapazes começaram a discutir e trocar socos dentro do Bridgewater Commons Mall. Em seguida, os policiais chegaram e jogaram o adolescente hispânico no sofá. Já o negro foi jogado no chão.

Neste momento, um policial montou no garoto e uma oficial colocou os joelhos sobre as suas costas, apesar de ele não ter reagido. O adolescente ainda foi algemado.

"Fiquei confuso, tipo, por que eles me viam como uma pessoa ruim, como um agressor", disse Kye, de 14 anos, ao CBS New York. Para preservar sua identidade, o jovem pediu ao jornal para não divulgar seu sobrenome.

Kye explicou que a briga começou depois que ele defendeu um amigo que estava sendo importunado pelo outro adolescente.

Para ele, ver o vídeo dos policiais em cima dele por quase 30 segundos é assustador e frustrante. "Se eles não sabem como tratar a situação e lidar com o problema de forma igual e justa, então eles não deveriam ter sido escolhidos para este trabalho", criticou.

A mãe de Kye, Ebone, também repudiou a conduta dos oficiais durante a confusão. "Talvez eles pudessem ter interrompido a briga e talvez os deixado de lado e chamado seus pais, sem algemas, sem agressão, lidando com eles como se fossem adolescentes", disse ela.

Em um comunicado à imprensa, o Departamento de Polícia de Bridgewater disse: "Reconhecemos que este vídeo deixou os membros da nossa comunidade chateados e estamos pedindo uma investigação de assuntos internos. Os policiais foram capazes de responder rapidamente a esse incidente e impedir que ele aumentasse por causa de uma dica que recebemos da comunidade".

O departamento também está pedindo a qualquer testemunha com vídeo adicional do incidente que se apresente. Enquanto algumas pessoas aplaudiram as autoridades por abrirem uma investigação, outros criticaram o departamento por, aparentemente, minimizar a gravidade da infração cometida pelos policiais e pediram que eles fossem severamente disciplinados.

Enquanto isso, Kye e sua mãe dizem que estão gratos pelo apoio que vêm recebendo de muitos civis e esperam que a justiça seja feita e os policiais envolvidos sejam punidos. "Eles devem ser demitidos", disse Kye.

"Eu não estou feliz com isso, e eu quero que esses dois policiais sejam impedidos de trabalhar. Isso é o que eu gostaria", acrescentou Ebone, insatisfeita por seu filho ter sido proibido de pisar no shopping por três anos.

O governador de Nova Jersey, Phil Murphy, se pronunciou no Twitter sobre o caso e disse que o episódio evidenciou uma clara diferença na forma como a polícia lidou com os dois adolescentes.

"Embora uma investigação ainda esteja reunindo os fatos sobre este incidente, estou profundamente perturbado com o que parece ser um tratamento racialmente díspar neste vídeo. Estamos comprometidos a aumentar a confiança entre os agentes da lei e as pessoas que eles servem", disse o governador Murphy.

O caso de Kye trouxe à tona novamente o racismo policial, um assunto cada vez mais presente no debate político nos Estados Unidos. As críticas a essa problemática ganharam força diante de vários índices de abuso da força cometido por oficiais, especialmente como ocorreu com George Floyd, homem negro morto durante ação policial em 2020. O assassinato teve repercussão mundial e gerou protestos em todo o país contra a violência sistemática das corporações contra os afrodescendentes.