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Dinossauros ficavam 'resfriados' e teriam enfrentado pandemia, diz estudo

A doença que afligiu saurópode tem sintomas semelhantes à gripe que ocorre em aves e seres humanos.  - Rodolfo Nogueira/Reprodução
A doença que afligiu saurópode tem sintomas semelhantes à gripe que ocorre em aves e seres humanos. Imagem: Rodolfo Nogueira/Reprodução

Colaboração para o UOL, em São Paulo

19/02/2022 04h00Atualizada em 19/02/2022 16h45

Um estudo publicado na revista científica Scientific Reports revelou que os dinossauros terrestres também sofriam com sintomas de doença respiratória semelhante a gripes e resfriados - e dizem até que eles podem ter sobrevivido às suas próprias pandemias, há 150 milhões de anos. O artigo, assinado pelo escritor e paleontólogo dedicado a saurópodes dr. Cary Woodruff foi publicado na semana passada.

A primeira evidência da doença respiratória foi identificada nos ossos de um dinossauro herbívoro de longo pescoço longo, conhecido como saurópode, que viveu durante o período Jurássico (201 milhões a 145 milhões de anos atrás), onde atualmente é o estado de Montana, nos Estados Unidos.

O fóssil, apelidado de "Dolly", foi encontrado em 1990 e continha estruturas deformadas nos ossos do pescoço. Essas vértebras já foram emparelhadas com sacos de ar que se conectam aos pulmões e faziam parte do sistema respiratório do saurópode, estrutura que evidentemente serviu de passagem para a doença respiratória pelo organismo. A aparência anormal dos ossos, diz o estudo, foi causada por uma infecção respiratória que pode ter causado a morte do animal quando tinha entre 15 e 20 anos.

Embora os paleontólogos não saibam que tipo de microrganismo adoeceu o saurópode, o dinossauro provavelmente experimentou sintomas semelhantes aos da gripe e a outras infecções que afetam pássaros e seres humanos com doenças respiratórias graves.

O autor do estudo, dr. Cary Woodruff, diretor de paleontologia do Great Plains Dinosaur Museum em Malta, Montana, disse que a descoberta só ocorreu agora devido ao fóssil passar mais de uma década sem ser examinado. Quando começou a estudá-lo, no início dos anos 2000, o especialista notou que ele pertencia a uma espécie de dinossauro desconhecida.

Woodruff voltou ao local onde Dolly foi originalmente escavado, para ver se havia mais ossos a serem encontrados e levou até 2018 para coletar todo o material disponível e examiná-lo. "Essas estruturas patológicas nas vértebras simplesmente saltaram, e as anomalias ósseas eram diferentes de tudo que qualquer especialista em saurópodes já tinha visto", disse à Live Science.

Para compreender a fundo as causas do problema respiratório que matou Dolly, os pesquisadores compararam as cicatrizes dos fósseis com lesões de doenças respiratórias em pássaros modernos, que são uma evolução de alguns tipos de dinossauros. Os saurópodes, por sua vez, ocupam um ramo diferente da árvore genealógica e são do tipo não aviário. Além disso, os pesquisadores também consideraram que tais distúrbios respiratórios podem ser parecidos com os que afetam os répteis modernos, parentes distantes desses animais pré-históricos.

Eles identificaram uma doença respiratória fúngica que afeta tanto répteis quanto aves: a aspergilose, causada pelo mofo Aspergillus e a causa mais comum de doença respiratória em aves modernas. "Isso dá suporte ao fato de que um dinossauro no passado também poderia ter sido suscetível a doenças fúngicas", comentou Woodruff.

"Aves com doenças respiratórias exibem muitos dos mesmos sintomas causados por gripe e pneumonia em pessoas, incluindo espirros, tosse, dor de cabeça, febre, diarreia e perda de peso, o que torna muito fácil imaginar o quão vulnerável um dinossauro doente pode ter ficado milhões de anos atrás", explicou.

A doença fúngica teria se espalhado rapidamente entre os dinossauros, provocando sintomas como espirros e dores no corpo, mas, de acordo com Woodruff e sua equipe, essa não foi a principal causa da morte desses animais, que viveram por mais 100 milhões de naos.

"Até então, uma infecção como essa nunca foi encontrada em um dinossauro. Então isso nos dá uma janela emocionante para o passado", declarou. "Milhões de anos atrás, antes da invenção das vacinas, eles sofreram os mesmos sintomas agressivos que todos nós sentimos."

Ainda não se pode dizer se a doença de Dolly era grave o suficiente para ser mortal, mas os cientistas afirmam que se o dinossauro conviveu com a infecção durante muito tempo, pode ter se tornado mais vulnerável e suas chances de sobrevivência podem ter diminuído.

Em animais de rebanho, como saurópodes, indivíduos doentes podem se isolar do grupo ou podem ficar para trás quando o rebanho está viajando, o que pode torná-los alvos fáceis para predadores - especialmente quando os animais já estão enfraquecidos pela doença.

"Independentemente de exatamente como a morte ocorreu, acho que essa doença definitivamente contribuiu para a morte do animal de uma forma ou de outra", finalizou Woodruff.